O Grande Conflito em Nossa Vida:

"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim [...]." Efésios 6:10-19

terça-feira, 19 de junho de 2018

2º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Infância - Dos 7 Anos aos 12 Anos de Vida - Vazio Religioso e Espiritual

Minha infância nesta segunda fase, ou seja, dos sete anos aos doze anos de idade, foi marcada por um vazio religioso e espiritual muito grande. Minha mãe Miriam, após a separação de meu padrasto Carlos, se mudou de Hortolândia no interior paulista, e foi morar na cidade de São Paulo, SP, para trabalhar na IBM. Nesse período eu não tinha muitas informações de como era sua vida por lá, mas lembro que uma única vez fui visitá-la com minha avó numa viagem de ônibus da cidade de Lages, SC, para São Paulo, SP, e que minha mãe morava numa pensão familiar com seu filhinho André, meu irmão que havia nascido em Campinas, SP. Lembro bem dessa viagem, pois para mim era tudo novo e diferente, mas na minha inocência infantil eu não fazia ideia dos problemas que minha mãe enfrentava, e do quanto ela estava solitária e sofrendo.

Acontece que o motivo da viagem era para que minha avó não apenas fosse visitar minha mãe, mas também fosse buscar meu irmãozinho André, que devia ter alguns meses de vida, pois minha mãe não podia cuidar dele e trabalhar ao mesmo tempo, então ela optou por trabalhar em São Paulo para ajudar minha avó em nossa criação e educação na cidade de Lages, SC. Sendo assim, quando retornamos para Lages, SC, meu irmãozinho André veio junto conosco e minha mãe ficou em São Paulo, SP. Lembro que nesse período entre os sete anos de idade até os doze, minha mãe vinha nos visitar todo final de ano, e trazia algumas castanhas do Pará para a gente comer, ela sempre dizia para nós que aquilo era bom para o cérebro, pois tinha Fósforo. Eu imaginava que fosse o mesmo componente dos Palitos de Fósforo, com os quais a gente costuma fazer muitas brincadeiras e joguinhos em casa. Até hoje compro castanhas do Pará e sempre estimulei meus filhos a comerem também.

Deste modo fui vivendo minha infância na casa da minha avó, agora era eu, minha vó, meu vô, meu tio Nelson, um ano mais velho que eu, e meu irmãozinho André, que morávamos juntos na casa número 266, da rua Coronel Zeca Atanásio, no bairro Sagrado Coração de Jesus, em Lages, SC. Nesse tempo, minha avó que era membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia central de Lages, deixou de frequentar a IASD quando eu tinha aproximadamente sete anos de idade. Os motivos ainda não sei até hoje, mas muita coisa mudou em minha vida, pois como eu era levado por ela aos sábados pela manhã na escolinha sabatina e para o culto de adoração, eu também deixei de frequentar.

Sendo assim, nessa fase da minha vida vivi sem qualquer religião, ou seja, não frequentei igreja nenhuma, mas em casa ainda fazia minha oração todas as noites antes de dormir. O que lembro desse período no sentido espiritual é que eu me sentia deslocado, porque os meus amigos de escola e vizinhos da rua onde eu morava, eram na sua grande maioria membros da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), e pelo fato de eu não ter sido batizado na ICAR, diante dos vizinhos e seus filhos que eram meus amiguinhos, eu era considerado um pagão. Contudo, quando tinha festa na igreja católica do bairro Sagrado Coração de Jesus eu gostava de ir, pois tinham as barraquinhas de pescaria e os sorteios de bolos, além do famoso churrasco de igreja. Mas sempre me sentia sem saber o que fazer quando entrava na igreja católica, pois eu não fazia o sinal da cruz e não me sentia muito bem em ficar lá dentro por causa das imagens de Jesus, da virgem Maria e dos santos. 

Esse foi um período de latência espiritual muito grande na minha vida. Quase não lia a Bíblia, não frequentava nenhuma igreja, não falava e não ouvia falar quase nada a respeito de Deus e do amor de Jesus, a não ser por meio da minha avó materna e da minha mãe que de vez em quando me aconselhavam a não fazer coisas erradas. Elas também gostavam de cantar hinos do Hinário Adventista do Sétimo Dia, e cantavam muito bem, eu adorava ouvir elas cantarem. Aos domingos depois do meio dia minha avó Osvaldina gostava de ouvir o programa radiofônico "A Voz da Profecia", apresentado pelo saudoso orador pastor Roberto Rabelo e sua inconfundível voz. Um domingo ou outro eu também escutava algumas partes do programa, e uma coisa que lembro bem era da oração final quando Roberto Rabelo declarava: "Que o Senhor te abençoe e te guarde, que o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti, que o Senhor sobre ti levante o Seu rosto e te dê a paz". De vez em quando eu também pegava minha coleção da Bíblia Ilustrada, com seus volumes de capa branca escrito em dourado, eu gostava de folhear e ler algumas histórias bíblicas. Eu havia ganhado essa coleção do meu padrasto e gostava muito de ver as gravuras coloridas, aquela coleção fazia parte dos poucos livros que eu tinha acesso nesse período da minha vida.

Cresci numa época e tempo histórico bem diferente de hoje em dia. Naquele tempo não tinham as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) que têm hoje. Internet, a gente nem ouvia falar e muito menos se imaginava o uso de computadores pessoais (PCs) ou aparelhos de celular. Os aparelhos de telefone eram de discagem manual e uma linha telefônica era tão cara quanto um automóvel, só famílias ricas tinham um. Na realidade, os aparelhos eletrônicos de comunicação (Televisão e Rádio) eram com sistema analógico, a digitalização de dados nem se imaginava. As fontes mais seguras de informação eram os livros e jornais impressos, e o popular aparelho de rádio.  Lembro que na casa do meu avô tinha um aparelho de rádio feito de madeira, muito bonito para a época, o qual ficava numa posição de honra numa prateleira na cozinha. Além desse rádio meu avô Nelson tinha outro rádio de pilhas, o qual ele costumava ouvir com o volume bem alto ao deitar para ir dormir à noite e ao acordar bem cedo pela manhã. Minhas tias Tânia e Rute que eram adolescentes na época também gostavam de ouvir as famosas "radionovelas" durante o dia. Lembro também que elas tinham em casa um aparelho de som portátil pequeno, era uma "Vitrola ou Toca Discos", o qual era usado para tocar discos de vinil. E tinha também um "toca fitas K7 com gravador". Hoje tudo coisas de museu. Na década de 60 quando nasci, dificilmente alguma família pobre tinha um aparelho de televisão ou até mesmo geladeira, pois esses eletrodomésticos ainda eram muito caros e começaram a se popularizar a partir da década de 70.

Aparelho de Rádio que ficava numa prateleira na cozinha da casa da minha avó, e no qual ela escutava o programa da "Voz da Profecia" apresentado pelo Pr Roberto Rabello na Década de 1970

Consequentemente, as crianças daquela época tinham costumes diferentes e brincadeiras bem diferentes das de hoje em dia. As crianças brincavam na rua com os amiguinhos e vizinhos, e as "brincadeiras e brinquedos daquela época" muitas vezes eram improvisadas e feitos de sucatas por elas mesmas, como por exemplo: pular corda, bambolê, pular elástico, "perna de pau", "pé de lata", "estilingue ou funda feita com borracha de pneu de bicicleta ou garrote", "pandorga ou pipa feita em casa", "pião de mão", "bilboquê", "tocar pneu ou tocar aros", "pega-pega", "estátua", "esconde-esconde", "pega-pega", "João bobo", "queimar", que era uma brincadeira com bola, "carrinho de rolamento", "jogo de taco na rua", "bolinhas de gude ou jogo de bolinhas de vidro", "jogo de Botão", "jogo de Damas", "jogo de Ludo", e é claro o velho e bom "futebol no campinho" do bairro, de preferência calçando o famoso tênis "kichuteamarrado na canela. Mas quem não tinha um kichute usava um tênis  "Conga" ou "Bamba", ou ainda os coloridos tênis "All-Star". Naquela época a garotada curtia ter esses tênis, já que o celular não existia, a gente queria usar itens de vestuário que estavam na moda para ostentar. Durante minha infância e pré-adolescência eu tive o privilégio de ter um par de cada um desses tênis que citei e usar todos eles com muito orgulho, era pura ostentação. Mas principalmente da minha pré-adolescência até minha juventude nas décadas de 1970 e 1980, essa ostentação não se limitava aos tênis, tinha também o sonho de consumo dos famosos sapatos "Docksides", "Oxford", ou dos sapatos "bico fino" que eram usados com as calças de prega, as quais minha avó que era costureira fazia para mim. Outra roupa da época que usei muito na minha pré-adolescência e juventude foram as famosas calças jeans "US TOP", "Lee" e "Levi's".

Quando criança eu também tinha uma coleção do "Forte Apache" para brincar, com soldadinhos e índios de plástico, e eu me divertia muito simulando guerras entre eles inspirado nos filmes americanos de faroeste ou do velho oeste que de vez em quando passavam na televisão. Lembro que eu costumava brincar com meu Fort Apache no porão da casa da minha avó, na verdade debaixo do assoalho da casa, uma vez que a mesma era sustentada por palanques por causa do terreno em declínio e porque o porão não era fechado tinha muita poeira lá, e pulgas também. 

Eu também gostava de brincar de "bang-bang" com meus amiguinhos, como a maioria não tinha um cobiçado "Revólver de Espoleta", a gente usada um feito de madeira por nós mesmos. Na realidade eram as séries de TV da época que inspiravam muitas das nossas brincadeiras, dentre elas: "Daniel Bonne", "Bat Masterson", do qual eu tive um bonequinho de plástico com casinhas do Velho Oeste e alguns "Cowboys", todavia, a série televisiva que eu mais gostava era as aventuras de "Rin-Tin-Tin", porque sempre gostei de cachorros e o menino protagonista tinha mais ou menos a minha idade. 

Mas antes de chegar a primeira TV em minha casa, eu tinha o costume de me reunir com meus amiguinhos na rua, que na época era de chão, embaixo da luz de um poste, para a gente ficar até tarde da noite conversando ao redor de uma fogueira e contando histórias de terror. Vez ou outra alguém trazia uma batata doce para assar ou alguns pinhões, fruto típico da região, para assar nas brasas do fogo, prática conhecida na região serrana de Lages, SC, como sapecada. Outras vezes a gente saia dali e ia fazer travessuras, como apertar as campainhas das casas e sair correndo, mas também fazíamos coisas piores, coisas de moleques sapecas, como jogar pedras nos telhados das casas ou roubar frutas nas casas dos vizinhos, tais como ameixas, pêssegos e caquis, o seu Atílio que era nosso vizinho se incomodou muito conosco. Talvez por isso ele devolvesse furadas todas as bolas de futebol que caiam no seu terreno. 

Eu devia ter seis ou sete anos de idade quando assisti televisão dentro da nossa própria casa pela primeira vez. Lembro de quando minha avó, que ganhava dinheiro como costureira e vendedora de casa em casa, de Geleia Real e produtos da Avon, comprou uma geladeira e mais tarde um aparelho de televisão.  A geladeira era da marca Cônsul e a televisão era da marca Telefunken, preto e branco, pois não existia ainda televisores coloridos, e minha avó colocou o aparelho em cima da geladeira na cozinha. Na verdade o aparelho de TV era uma caixa de madeira, com os botões de controle na frente, pois ainda não existia controle remoto e para mudar de canal tinha que levantar e ir lá trocar. A tela era literalmente cinza, e na parte de trás do aparelho tinha um monte de válvulas ou tubos. De vez em quando queimava o tubo de imagem a tinha que ser trocado. Recordo que quando a gente ligava a TV ela demorava para aparecer a imagem, porque as válvulas ou tubos precisavam aquecer e incandescer antes dela funcionar perfeitamente. E muitas vezes quando aparecia a imagem eram chuviscos e tinha uma mensagem avisando: "estamos fora do ar por falta de programação". Então eu ia fazer o que mais gostava, brincar com as crianças que moravam na nossa rua, brincar no quintal da casa da minha avó subindo em árvores ou no meio da plantação de milho. Mas o que eu mais gostava mesmo era jogar futebol no "campinho" perto de casa com meus amiguinhos que eram meus vizinhos e colegas de escola. A seguir uma foto do antigo aparelho de TV Telefunken, hoje em dia um produto Vintage.

Televisor Telefunken 14 Polegadas Preto e Branco

Até minha avó comprar esse primeiro aparelho de TV, de vez em quando a gente assistia alguns programas de televisão na casa do seu Déco e da dona Zizi, nossos vizinhos da casa ao lado. Eu era amigo de dois dos filhos deles que tinham mais ou menos a minha idade, o Fredo e a Nalu, e de vez em quando eles me convidavam para ver algum filme ou desenho animado junto com eles, isso quando a gente não acabava deixando a TV de lado e jogando Jogo de Botão ou Jogo de Ludo.

Mas depois que a TV chegou em nossa casa, quando tinha alguma programação, eu gostava de assistir todas, pois era um momento muito raro e especial para mim, mesmo a imagem sendo em preto e branco e muitas vezes apresentar chuviscos ou ficar distorcida. Além das séries que já mencionei, eu também gostava de assistir outras e os seguintes filmes e desenhos animados daquela época, para citar alguns: "Sítio do Pica-Pau Amarelo", "As Aventuras do Zorro, o Cavaleiro Solitário", "Batman e Robin", "Túnel do Tempo", "Os Três Patetas", "O Gordo e o Magro", "Jeannie é Um Gênio", "A Feiticeira", "Ultraman", "Topo Gigio", "Mickey Mouse", "A Pantera Cor de Rosa", "Mister Magoo", "Todos os Desenhos Animados de Hanna Barberra", dentre eles destaco: "Tom e Jerry", "Corrida Maluca", "Jonny Quest", "Os Jetsons", "Os Flintstones", "Tutubarão", "Superamigos", "Scooby-Doo, Cadê Você", também tinham outros desenhos que eu gostava muito, ou seja: "Pica-Pau", "Zé Colmeia", "Lippy e Hardy", "Manda-Chuva", "Papa Léguas", "Speed Racer". Logicamente eu não era o único na minha família que estava fascinado com os programas de televisão, meu avô e minha avó não perdiam um Jornal Nacional sequer, apresentado naquela época pela famosa dupla Cid Moreira e Sérgio Chapeline muito menos os programas de domingo: Fantástico e Silvio Santos. Além dos jogos de futebol, como a Copa do Mundo de 1970 por exemplo. Claro que a gente também aproveitava e acabava assistindo tudo junto com os adultos.

Confesso que na minha infância, apesar dos programas de TV daquela época exercerem forte influência sobe mim, na maioria do tempo cresci meio solto nas ruas do bairro onde morava, e entre ficar em casa vendo meus programas favoritos e brincar com meus coleguinhas, eu preferia jogar bola com meus amigos. Eu também tinha a liberdade de ficar até tarde da noite brincando, ou seja, até as 22 horas, porque depois disso todos tinham medo de ficar na rua por causa da "Rapa". Era a época da ditadura militar no Brasil, e a famosa "Rapa" era temida, pois se tratava de um camburão da Policia Militar que fazia rondas depois das 22 horas e abordava quem estivesse na rua, exigindo os documentos pessoais. Sobre essa época da Ditadura Militar não tenho queixas nenhuma, sempre estudei em escolas públicas no Ensino Fundamental e Médio e aprendi a ser um bom cidadão e amar a minha pátria. Durante o Regime Militar, nunca me senti reprimido em nada durante a minha infância, adolescência e início da juventude. Também fiz minha primeira faculdade durante o Regime Militar e quando terminei em 1989 a Constituição Federal de 1988 já havia estabelecido um Estado Democrático de Direitos. 

Mesmo vivendo num lar carente de recursos materiais, havia muito afeto, carinho e amor. Fui muito bem educado por minha avó Osvaldina e minha mãe Miriam, elas me deixaram um legado moral muito sólido e sempre me incentivaram a estudar. Nessa fase eu me dediquei muito na escola, era um bom aluno, não cheguei a ser ótimo, mas não era medíocre. Eu realmente gostava de estudar e de ir pra escola, acordava cedo, mesmo no inverno rigoroso do sul do país e da cidade de Lages, SC.

Desta maneira, em relação a minha vida religiosa, nesse período dos sete aos doze anos de idade, eu estive bem alienado de qualquer religião ou igreja. Porém, mantinha uma comunhão mínima com Deus por meio de uma oração todas as noites antes de dormir. Eu gostava muito quando minha mãe ou minha avó cantavam hinos para eu dormir, eu gostava também de receber o carinho delas. Todavia, quando eu tinha treze anos de idade aconteceram algumas coisas que mudaram muito a minha vida e o meu futuro religioso.

Algumas Fotos Desse Período:

 Em Florianópolis Com Meu Tio Nelson (Direita) e Meu Primo Tuca (Bebê)
 Minha Primeira Bicicleta Em Lages, SC
 Fluminense? Bola de Basquete? Ridículo!
Eu Adorava Jogar Bola Com Meu Tênis kichute!

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