O Grande Conflito em Nossa Vida:

"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim [...]." Efésios 6:10-19

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

3º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Puberdade e Pré-Adolescência - Dos 12 Anos aos 16 Anos de Vida - Experiências Sobrenaturais e IEQ

Minha entrada na pré-adolescência ou em minha puberdade foi marcada por acontecimentos sobrenaturais que me causaram profundas experiências espirituais. Os acontecimentos que vou relatar agora, mesmo com a idade atual de 51 anos (em 2018), ainda estão bem vivos em minha memória. Creio, hoje, que o que aconteceu comigo quando eu tinha 13 ou 14 anos de idade, e os demais acontecimentos que se sucederam, fazem parte de um propósito maior dentro dos planos de Deus para minha vida. 

Não me recordo precisamente com quantos anos de idade os fatos a seguir ocorreram.  Mas seguramente eu tinha a idade de 13 ou 14 anos quando o que vou relatar a seguir aconteceu. O ano era 1980 ou 1981, não me recordo exatamente. Nesse período, eu  não tinha o costume de ler a Bíblia, apesar de ter mais de uma Bíblia dentro da casa da minha avó. Quando eu era criança, seis ou sete anos de idade, eu tinha ganhado de presente do meu padrasto Carlos uma coleção ilustrada de histórias da Bíblia em alguns volumes intitulada: A Bíblia dos Jovens. Era uma coleção de histórias bíblicas do Antigo Testamento e do Noto Testamento. Infelizmente não tenho mais toda essa coleção, restaram apenas dois volumes, eram livros grandes, com a capa branca e o  título escrito em dourado, e suas páginas eram belamente ilustradas com gravuras pintadas e bem coloridas. Numa época em que não havia Internet e computadores, e que a televisão ainda era em preto e branco, aqueles livros ilustrados de histórias bíblicas eram muito atrativos. A seguir algumas imagens dessa antiga e linda coleção publicada em 1972, a qual eu lia com prazer em minha infância e adolescência, da qual restaram apenas dois volumes de histórias do Antigo Testamento.

Capa

Contra Capa

Observe que além dos autores, no rodapé está uma observação indicando o ano e o nome do Presidente da República Federativa do Brasil na época do Regime Militar, General Emilio Garrastazu Médici  




O que vou relatar a seguir eu nunca escrevi ou testemunhei publicamente até agora, mas desejo que apenas o nome de Jesus seja exaltado. Numa determinada noite, em que a mãe do meu "vôdrasto" materno havia falecido, a tia Nenén como costumávamos chamá-la, eu estava sozinho em casa, pois meus familiares haviam ido ao funeral. Naquela noite de inverno resolvi ler um pouco um dos volumes da coleção da Bíblia Ilustrada que eu havia ganhado de presente, ao abrir um dos livros comecei a ler a seguinte passagem: A Cura de um Menino Endemoninhado14 Quando chegaram onde estavam os outros discípulos, viram uma grande multidão ao redor deles e os mestres da lei discutindo com eles. 15 Logo que todo o povo viu Jesus, ficou muito surpreso e correu para saudá-lo. 16 Perguntou Jesus: “O que vocês estão discutindo?” 17 Um homem, no meio da multidão, respondeu: “Mestre, eu te trouxe o meu filho, que está com um espírito que o impede de falar. 18 Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram”. 19 Respondeu Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino”. 20 Então, eles o trouxeram. Quando o espírito viu Jesus, imediatamente causou uma convulsão no menino. Este caiu no chão e começou a rolar, espumando pela boca. 21 Jesus perguntou ao pai do menino: “Há quanto tempo ele está assim?” “Desde a infância”, respondeu ele. 22 “Muitas vezes esse espírito o tem lançado no fogo e na água para matá-lo. Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.” 23 “Se podes?”, disse Jesus. “Tudo é possível àquele que crê.” 24 Imediatamente o pai do menino exclamou: “Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!” 25 Quando Jesus viu que uma multidão estava se ajuntando, repreendeu o espírito imundo, dizendo: “Espírito mudo e surdo, eu ordeno que o deixe e nunca mais entre nele”. 26 O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto, ao ponto de muitos dizerem: “Ele morreu”. 27 Mas Jesus tomou-o pela mão e o levantou, e ele ficou em pé. 28 Depois de Jesus ter entrado em casa, seus discípulos lhe perguntaram em particular: “Por que não conseguimos expulsá-lo?” 29 Ele respondeu: “Essa espécie só sai pela oração e pelo jejum”. 30 Eles saíram daquele lugar e atravessaram a Galileia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde eles estavam, 31 porque estava ensinando os seus discípulos. E lhes dizia: “O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens. Eles o matarão, e três dias depois ele ressuscitará”. 32 Mas eles não entendiam o que ele queria dizer e tinham receio de perguntar-lhe. Marcos 9:14-32

Eu havia acabado de ler esse texto e observar as ilustrações e estava pensando no que Jesus quis dizer quando declarou: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?". Enquanto eu tentava entender o sentido dessas palavras de Jesus alguém bateu na porta da sala, eu estava na cozinha e me levantei para ir atender a porta. Quando abri a porta era meu tio Nelson e um amigo dele, o Adolfo. Eles entraram e sentaram no sofá da sala, então começamos a conversar, meu tio disse para o Adolfo que sua avó havia morrido e que estava sendo velada naquela noite, que por sinal estava muito fria, pois era início do inverno em Lages, SC. Como Adolfo era Espírita Kardecista, quando soube da morte da "tia Neném", como era chamada pela família, ele começou a dizer que ela estava viva, pois seu espírito não havia morrido, e que naquele momento ali na sala onde estávamos haviam muitos espíritos. Então eu disse: "não acredito nisso"! Assim que acabei de falar comecei a me sentir muito mal, eu senti uma presença muito ruim se aproximar de mim, como se quisesse me dominar, meu coração disparou, fiquei meio sufocado e meu corpo ficou todo arrepiado. Antes que eu perdesse o controle levantei do sofá e gritei bem alto: "Deus...Deus...Deus!" Imediatamente senti que aquela presença do mal foi se afastando de mim e me senti melhor por algum momento. Adolfo imediatamente disse: "viu, você duvidou"! Então colocou sua mão sobre a minha nuca e não lembro se disse alguma coisa, mas pareceu fazer sussurrar uma oração. A partir daquele momento o medo quis tomar conta de mim, fiquei amedrontado, pois tinha a sensação que havia alguém ou algo atrás de mim, me acompanhando. Quando meu tio disse que tinha que ir na casa do Adolfo, eu fiquei com tanto medo de ficar em casa sozinho que pedi para ir junto. Minha priminha Luciana, que ainda era um bebê, estava dormindo no quarto da minha avó, e mesmo assim eu fui junto com eles, porque estava com muito medo de ficar em casa sozinho. Lembro que quando cheguei lá na casa do Adolfo, por várias vezes senti meu a presença do mal perto de mim, como se estivesse me seguindo, meu corpo arrepiava todo do nada. A partir de então minha puberdade passou a ser um inferno na terra, pois sentia muito terror, principalmente a noite.

Quando saímos da casa do Adolfo, meu tio me deixou no local onde estava ocorrendo o velório, e lá eu fiquei sentado ao lado da minha avó. A princípio não disse nada a ela, esperei para contar o que havia ocorrido comigo quando voltássemos para casa. Assim que chagamos em casa, contei o que havia acontecido e minha avó disse que ia orar por mim. Eu não queria mais ficar no meu quarto sozinho, sentia muito medo, ouvia barulhos a noite e meu coração parecia que ia sair pela boca. Tive todo apoio possível da parte da minha avó, mas aquele encosto demoníaco persistia em ficar me atormentando a todo instante, principalmente a noite. Minha avó decidiu me levar a uma senhora que era médium espírita, lembro que fui na casa dela, mas quem conversou com ela foi minha avó, ao final da visita aquela senhora apenas disse para mim que não era para eu ter medo. Na época eu não entendia muita coisa sobre o Espiritismo Kardecista, mas hoje eu entendo que não tem respaldo pelas verdades doutrinárias da Bíblia. Minha avó nunca mais me levou lá, bem como não frequentou nenhum Centro ou reunião espírita, afinal de contas ela era uma Adventista do Sétimo Dia, que talvez tivesse fraquejado em suas convicções por algum momento por estar afastada da IASD, mas não cabe a mim julgá-la. 

Os dias foram passando, as semanas e meses também, e eu continuava atormentado por espíritos imundos que vinham principalmente à noite me aterrorizar com barulhos dentro de casa, estalos na madeira, pesadelos horríveis e tão reais, que eu ficava todo encolhido de medo e não conseguia dormir direito. Minha avó vendo o meu sofrimento me levou a um médico psiquiatra. Lembro que quando chegamos ao consultório dele e ela relatou o que estava acontecendo comigo, o médico me disse que tudo aquilo não existia de verdade, e que eu deveria tomar um remédio controlado. Naquela semana comecei a tomar um remédio tarja preta, mas aquele remédio não foi capaz de afastar a presença do mal. Por causa desses acontecimentos, eu me apeguei a Deus e continuava orando a Jesus e pedindo minha libertação. Um dia, lembro que me revoltei com minha situação, peguei a caixa de remédios, joguei fora e disse em voz alta: "Deus vai me curar"! Comecei a ler a Bíblia e praticar mais a oração tendo fé que Jesus era capaz de me proteger e libertar, mesmo não frequentando igreja nenhuma. 

Um dia, minha avó me convidou para ir com ela na Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), localizada na Avenida Belizário Ramos, também conhecida como avenida Cará, que na época ainda estava em construção. Minha avó estava frequentando essa igreja, pois não ia mais na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Lages, SC. Eu aceitei o convite e fui com ela no culto daquela noite. O pastor era o missionário Luiz Antonio Hervatin, nunca esqueci dele, pois ele tinha barba e usava um óculos com lentes escuras, mas o que mais me impressionou foi a sua postura de autoconfiança quando entrava na igreja pelo corredor do meio, enquanto os membros cantavam louvores no ritmo de guitarra e bateria e batendo palmas. Era um culto com muitos louvores e bem animado. No momento da pregação o pastor Hervatin, como era chamado, demonstrava muito poder em sua oratória. O que também muito me impressionava no missionário Hervatin era a sua atitude de fé diante de pessoas que ficavam literalmente endemoninhadas enquanto ele fazia a sua oração por cura e libertação, pois com a imposição de mãos e uma ordem em nome de Jesus as pessoas ficavam libertas. Aquilo me impressionou tanto naquela noite, mas ao mesmo tempo me deixou nervoso, preocupado e com medo por causa da minha situação. Embora eu não tenha sentido nada durante a oração, ao chegar em casa depois daquele culto, o meu problema persistiu, principalmente nas madrugadas. 

Um fato curioso foi que quando vi o missionário Hervatin pela primeira vez naquele culto, eu lembrei dele. Eu já o tinha visto antes quando a IEQ de Lages, SC, funcionava na Avenida Presidente Vargas, no mesmo local onde antes funcionava uma "Discoteca" chamada "Chocolate", na qual eu costumava ir aos domingos à tarde (matinê) com meus amigos para dançar as músicas do Bee Gees, tentando imitar o astro John Travolta nos Embalos de Sábado à Noite. Lembro bem dessa Discoteca porque sempre no final da matinê tocava a música Chocolate do Tim Maia, cantada pela roqueira Rita Lee. Acontece que como a Discoteca Chocolate havia fechado e em seu lugar tinha aberto uma IEQ, a notícia se espalhou pelo bairro, e meus amiguinhos e eu, com a idade entre doze e treze anos, fomos ver o que acontecia lá. A gente ficava do lado de fora e olhava pelas janelas, e me recordo que numa dessas olhadas eu vi o pastor Hervatin expulsando demônios de uma mulher que tinha os cabelos loiros e compridos, a qual falava com uma voz bem grave e desafiava o pastor, mas acabou sendo liberta em nome de Jesus. Até hoje aquela cena nunca se apagou da minha memória, e quando vi o pastor Hervatin naquela noite eu lembrei desse fato. 

Ao terminar aquela reunião, na saída da igreja vários jovens e adolescentes vieram conversar comigo e me convidar para participar da reunião de jovens no domingo à tarde. Prontamente aceitei o convite e a partir de então me senti parte daquele grupo de jovens cristãos, onde fiz grandes amizades. O grupo de jovens da IEQ naquela época tinha aproximadamente uma centena de adolescentes e jovens que serviam ao Senhor Jesus com fé e entusiasmo. Lembro que as reuniões de jovens eram dirigidas por líderes e obreiros que também eram jovens, e que havia muito louvor ao som de bateria e guitarra, e todos batiam palmas acompanhando o ritmo da música. Depois do louvor havia um momento de oração e de busca pelo Espírito Santo, e em seguida uma pregação da Palavra de Deus. Apesar de toda empolgação e emoção que são características de uma igreja pentecostal, não havia um estudo profundo da Palavra Deus. Desde então comecei a participar ativamente dos cultos e das reuniões daquela abençoada igreja, a qual me acolheu tão bem e me deu suporte e apoio espiritual em um dos momentos mais difíceis da minha vida. 

Além das programações na igreja, haviam programações recreativas. Dentre elas, aos domingos pela manhã após a escola dominical, os rapazes se reuniam para jogar um futebol até depois do meio dia. Quando eu chegava em casa cansado após jogar bola com meus amigos da igreja, só dava tempo de tomar um banho, almoçar e voltar para a igreja novamente para participar do culto dos jovens, e quando a programação acabava já estava na hora do culto da noite, dessa maneira, eu passava oos meus domingos envolvido com a IEQ e voltava para casa só após as 22 horas. Eram domingos bem intensos, e eu gostava muito. Lembro de um piquenique que os jovens da IEQ fizeram no Morro da Cruz em Lages, SC, um dos morros mais altos da cidade e ponto turístico, pois havia no seu topo uma cruz bem grande.  Geralmente os católicos iam muito no lugar para acender velas e rezar. Naquela época, no início da década de 80, não havia a infraestrutura que tem hoje para subir o morro, de mado que nossa subida foi muito esgotante e até perigosa, pois subimos por uma parte muito íngreme daquele morro. Quando chegamos lá em cima nos dedicamos à oração e confraternização com um lanche coletivo. Foi uma experiência inesquecível para mim. Também lembro de uma excursão que os jovens da IEQ fizeram para uma igreja na região da grande Florianópolis, SC, a IEQ de Barreiros localizada em São José, SC. Viajamos de ônibus saindo de Lages, SC, em um sábado à tarde, e quando chegamos na igreja fomos bem recebidos pelos irmãos, os quais nos acolheram em suas casas para passarmos a noite e nos preparar para as atividades do domingo. Outra atividade que marcou bastante a minha participação na IEQ foram as vigílias de oração dos jovens. Os rapazes do grupo da mocidade se reuniam geralmente aos sábados à noite dentro da própria igreja após o culto e amanheciam em vigília, orando e meditando na palavra de Deus. Recordo que a gente ficava em cima do púlpito, que era bem grande, fechávamos as cortinas e ali nós passávamos a noite buscando o Espírito Santo em oração. Todo esse meu envolvimento com a IEQ resultou em meu batismo nas águas alguns meses mais tarde, depois que aceitei a Jesus como meu Salvador e Senhor publicamente.

Lembro muito bem do dia em que o pastor Hervatin se despediu da IEQ de Lages, SC, pois havia sido transferido, e em seu lugar havia chegado o pastor Pedro Antipas. Embora eu já estivesse frequentando a IEQ há alguns meses, foi em um dos cultos dirigidos pelo pastor Pedro Antipas que confessei publicamente a Jesus como meu Salvador, pois pela primeira vez na vida eu ouvi um apelo para aceitar a Jesus como meu único e suficiente Salvador e Senhor. Lembro que quando o missionário Pedro Antipas fez o apelo, eu fiquei exitando sentado no banco, enquanto as pessoas levantavam para ir até a frente em sinal de aceitação do Salvador. Quando ele estava quase acabando de falar eu fui um dos últimos a levantar e ir até lá. Uma voz me dizia para aceitar a Jesus antes que fosse tarde demais. Por outro lado, eu estava envergonhado de levantar do meu lugar e ir até lá na frente de todos, a igreja estava lotada, e tinha capacidade para mais de 300 pessoas sentadas. Mas eu superei o constrangimento e fui, glória a Deus por isso, eu fui com o meu coração aberto e sedento pela paz do Senhor Jesus. Eu chorei muito durante a oração de consagração e abri definitivamente a porta da minha vida para Jesus. Foi um dia muito especial na minha jornada cristã, foi o início de um relacionamento com Deus.

Tenho ótimas recordações do pastor Pedro Antipas, mas vou relatar uma delas em especial. Certa noite de sábado, após o culto de oração, eu e meu amigo Jorge Laurentino decidimos fazer uma vigília e amanhecer em oração. Como não tínhamos um local, fomos conversar com o pastor Pedro Antipas para ver a possibilidade de ficarmos dentro da igreja. O pastor não concordou, mas ofereceu sua casa, e nos disse que podíamos fazer nossa vigilia no andra de baixo, mais precisamente na garagem. Após chagarmos na csa do pastor Pedro Antipas depois das 22:30 horas, o mesmo nos comunicou que iria dormir com sua familia, mas que podíamos ficar orando na parte de baixo da casa, a qual era bem grande e tinha uma garagem e um salão de festas junto. Eu e Jorge Laurentino ficamos orando e meditando na palavra de Deus durante a noite toda, e ao amanhecer cada um foi para sua casa. Lembro que andei mais ou menos uns sete quilômetros até chegar na minha casa naquela manhã, e apesar do sono eu estava feliz por ter passado a noite orando. Quando eu ainda estava a caminho de casa encontrei minha avó materna Osvaldina vindo em minha direção e levantando as maõs para o céu. Foi então que percebi o que eu havia feito. Naquela época não havia Internet e muito menos celulares, o meio de comunicação mais rápido era por telefone convencional, mas minha família não tinha um, e eu não havia avisado minha avó que passaria a noite em vigília e não retornaria para casa naquela noite após o culto. Foi a primeira vez e a última que fiz isso, pois eu não dava mais incômodo para minha avó após ter me convertido a Jesus. Ao ver o desespero da minha avó e ao mesmo tempo o seu alívio ao me ver, eu entendi a gravidade do que havia feito, embora eu não tivesse feito por mal, mas por pura ingenuidade. Lembrando que eu tinha apenas 14 anos de idade. Depois, indo para casa junto com minha avó ela me disse que minha mãe Miriam tinha ido até a delegacia de polícia e dado queixa do meu desaparecimento. Enquanto que para mim aquela noite foi de bênçãos espirituais inesquecíveis, para elas aquela noite foi de muito sofrimento, muita angústia e muita preocupação. Obviamente, passado o susto rimos muito juntos depois.  

Enquanto frequentei a IEQ de Lages, SC, dos meus 13 anos de idade até os meus 16 anos, eu vi muita coisa acontecer lá dentro no que diz respeito aos milagres de cura e libertação. Muitos acham que é tudo armação entre o pastor e pessoas contratadas para fingir ou encenar, mas posso afirmar com certeza de causa que não é bem assim. Eu participei de muitas campanhas e correntes de oração e vi muitos milagres acontecerem em nome de Jesus. Lembro de um pastor que fez uma dessas campanhas e que tinha o dom de revelação, e durante o culto ele falou dos problemas de insônia da minha avó Osvaldina, e apontando para ela a chamou para subir no púlpito e fez uma oração com imposição de mãos sobre ela. No outro dia minha avó disse que fazia tempo que não tinha dormido tão bem como naquela noite. Também lembro das reuniões de sexta-feira à noite, porque eram reuniões de libertação, e eu vi muitas pessoas possuídas por demônios vomitarem pregos com cabelos enrolados, lâmida de gilete e outras coisas estranhas antes de serem libertas pelo poder do nome de Jesus. Essas reuniões eram horríveis para mim, pois me deixavam com medo diante do que eu enfrenava nas madrugadas, a ponto de eu evitar de ir nos cultos da IEQ nas sextas-feiras à noite. 

Entretanto, uma das experiências mais marcantes que eu tive na IEQ foi a Glossolalia, ou, mais conhecido como o Dom de Línguas, ou ainda como os pentecostais acreditam, o batismo com o Espírito Santo. Aqui eu vou relatar exatamente o que aconteceu, sem tecer comentários teológicos sobre o assunto, os quais eu farei quando falar da minha experiência religiosa e espiritual dos 16 aos 23 anos de idade. Quando recebi o Espírito Santo e falei em "línguas estranhas" foi num culto de oração, num sábado à noite. Lembro daquela reunião, marcada por um alto grau de euforia, sentimentalismo religioso e espiritualidade. Eu não sabia quase nada sobre a Bíblia, eu nunca tinha tido nenhuma orientação doutrinária sobre o Espírito Santo, mas eu acreditava de todo o coração que se eu orasse com fé e amor, e clamasse a Jesus eu receberia o Dom de Línguas e seria batizado com o Espírito Santo. Na reunião, o pastor começou a orientar a todos que estavam orando para que orassem em voz alta e louvassem a Deus. Ele orientava para que déssemos glórias, aleluias e louvores em voz alta. Todos os presentes começaram a falar alto e até mesmo a gritar louvores a Deus. Eu segui as orientações e orando ajoelhado e de olhos fechados levantava minhas mãos e bendizia o nome de Jesus. Parecia que eu podia visualizar o Senhor em minha mente. Eu fiquei emocionado e comecei a dizer que eu amava a Jesus, comecei a falar glória, aleluia, bendito seja o Senhor. No auge do louvor, quando várias pessoas já estavam falando em línguas estranhas, eu senti uma dormência na língua e quando percebi estava falando em línguas estranhas também. A sensação era de plena alegria e euforia. Foi de fato uma experiência muito marcante para mim, pois eu acreditava piamente que aquilo era uma manifestação do Espírito Santo.

Porém, apesar do meu "batismo com o Espírito Santo" e envolvimento nas atividades da IEQ, eu continuava enfrentando minhas lutas espirituais, não com a mesma intensidade, mas ainda de maneira sistemática, principalmente à noite e de madrugada, o que ainda me aterrorizava muito. Na igreja, eu me tornei um adolescente tão ativo que fui convidado para ser professor da escola dominical aos domingos pela manhã. Além disso, junto com mais dois amigos adolescentes, começamos a dirigir cultos nos dias da semana com um pequeno grupo de pessoas que se reunia numa escola em um dos bairros da cidade de Lages, SC. Lembro que a gente ia até lá de ônibus, e depois de cantar e fazer a pregação e a oração por cura e libertação, a gente recolhia as ofertas e dízimos e levava tudo para o pastor Pedro Antipas. Eu era um menino ainda, pois devia ter entre catorze ou quinze anos de idade, mas já desejava ser um obreiro e futuramente um pastor. A seguir a logo com o lema da IEQ.


Resumindo minha participação na Igreja do Evangelho Quadrangular desde os 13 anos de idade até os 16 anos, posso afirmar que minha vida cristã começou ali, aos 13 anos de idade, quando aceitei a Jesus em minha vida. Na IEQ fui batizado nas águas segundo o que eu acreditava naquela época, também fui batizado com o Espírito Santo e recebi o dom de línguas. Me tornei professor de escola dominical. Participei ativamente dos cultos e do grupo de jovens. E todo esse meu envolvimento me levou ao desejo de ser um obreiro e posteriormente um pastor da IEQ. Posso afirmar que eu iniciei minha vida espiritual na IEQ, cresci e amadureci espiritualmente lá, a ponto de enfrentar com mais coragem as perturbações espirituais que ainda sofria, principalmente de madrugada. Graças a minha aceitação de Jesus como meu Salvador e Senhor aos 13 anos de idade eu deixei de fumar, deixei de usar drogas, deixei de sair com a turma do bairro para fazer bagunças, deixei de ir para as Discotecas e festinhas com bebidas e danças nas casas do bairro, também deixei de jogar sinuca no porão do Clube 14 Junho, onde eu gostava de passar minhas tardes de domingo. Lembro que nesse clube havia várias mesas de sinuca e bilhar, e que os jovens e adolescentes passavam as matinês jogando, apostando e fumando muito, a ponto de eu sair de lá só ao anoitecer e com a roupa fedendo cigarro. Todavia, convertido a Cristo, ao invés disso tudo, passei a ter uma vida de amizade e comunhão com Jesus, fazendo dele o centro da minha vida em tudo. Minha vida passou a ter outros hábitos, e os vizinhos começaram a me ver andando na rua com a Bíblia na mão indo para a igreja. Não  é preciso dizer que perdi a amizade e a companhia de muitos colegas e amigos do bairro e da escola. Mas por outro lado, o número de amigos e amigas que ganhei na sede da IEQ de Lages, SC, foi praticamente mais do que o dobro. Porém nem todos na vizinhança e na escola se afastaram de mim, e para esses eu sempre falei de Jesus, a ponto de alguns começarem a me chamar de pastor. Recordo de uma ocasião em que fui convidado por alguns amigos que eram meus vizinhos para passar uma tarde de sábado jogando Ping Pong na casa de um deles. Quando cheguei lá, além de estarem jogando Ping Pong, todos os adolescentes e jovens estavam fumando e tomando bebidas alcoólicas. Logo fui convidado a jogar também, e não demorou muito para que começassem a me oferecer cigarro e bebida, até com uma certa pressão. Eu fui firme e disse que não fumava mais e não tomava mais bebidas alcoólicas. Ao verem minha atitude, aqueles jovens começaram a parar de me oferecer, e um deles quebrou o silêncio que se seguiu dizendo: "Puxa Jorge, você mudou mesmo, continue assim!" Desde que eu cheguei naquela casa para brincar de Ping Pong, em nenhum momento recriminei a atitude deles ou dei um sermão com lição de moral, porque sempre acreditei que quando somos fiéis a Jesus e a Sua Palavra, a nossa vida já é um testemunho do poder do Evangelho Eterno. Infelizmente, muitos daqueles jovens, além de fumantes, mais tarde se tornaram dependentes de drogas ilícitas e de álcool. Dessa maneira, posso afirmar com certeza que foram todas essas experiências iniciais na fé cristã que despertaram em mim os primeiros impulsos e o ideal de um dia servir a Deus como ministro do evangelho do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ou seja, o ideal de ser um pastor. 

Nesse período eu lembro que além de ir nos cultos da IEQ eu gostava muito de andar de bicicleta, jogar futebol e jogar basquete. Eu não tinha mais aquela minha primeira bicicleta Caloi, mas eu tinha ganhado outra, após esperar por dois anos, porque minha avó dizia que a bicicleta que eu queria era muito cara e ela tinha que juntar dinheiro que minha mãe Miriam mandava de São Paulo, SP, onde ela trabalhava na IBM. Recordo como se fosse hoje o dia que minha avó me disse que iria comprar a bicicleta dos meus sonhos. Eu queria uma bicicleta com marchas e com o guidão curvado e pneus linguiça, ou seja, uma bicicleta de corrida, a tão cobiçada "Caloi 10 Sprint". No dia em que fui com minha avó comprar esta Bike, fomos à pé até o centro de Lages, SC, onde ficava a loja HM (Lojas Hermes Macedo). Quando cheguei na loja e vi a Caloi 10 Sprint eu mal podia acreditar que sairia de lá com ela. Mas o vendedor nos disse que a bicicleta não podia sair da loja naquele dia, pois tinha que passar por uma revisão primeiro. Vendo minha decepção, minha avó disse ao vendedor que levaria a bicicleta na oficina do seu Heitor e do Átila, vizinhos nossos que cosertavam bicicletas, para fazer a revisão. Dessa maneira, eu pude sair da loja HM no centro de Lages, SC, andando em minha tão sonhada e esperada Caloi 10. Acho que minha avó estava mais feliz do que eu por poder me dar aquele presentão e me ver tão sorridente andando na bicicleta que eu tinha esperado dois anos para ganhar. Recordo como se fosse hoje quando sai da HM andando de Caloi 10 e minha avó vinha me acompanhando a pé. Logicamente que eu andava bem devagar e até voltava quando via que minha avó estava ficando para trás. Assim fomos andando até chegar em casa. Minha mãe e minha avó compraram a bicicleta dos meus sonhos com muito sacrifício, lembro que minha avó me disse que tinha comprado a Bike no carnê em várias prestações mensais, e que eu deveria ser grato à minha mãe por estar trabalhando em São Paulo, SP, e mandar o dinheiro para pagar.


Essa foi exatamente minha segunda bicicleta, nessa mesma cor e modelo, na qual andei por vários anos seguidos durante a minha puberdade e pré-adolescência. Recordo que eu andava pelas ruas do bairro, ia ao centro de Lages passear no Parque Jonas Ramos, ou no "Tanque" como era conhecido aquele parque, eu andava pelo bairro Coral e avenida Cará, mas eu gostava muito mesmo era de descer "chutado" a avenida Duque de Caxias em Lages , SC. Com certeza cai alguns tombos, e inclusive tenho até hoje duas cicatrizes nas pernas como consequência desses acidentes de Bike. Meu outro Hobby em minhas horas vagas era jogar basquete. Eu tinha uma bola de basquete e ia com frequencia na quadra de esportes do colégio Vidal Ramos Júnior pelos fundos da escola, ou na quadra do "Tanque" para brincar e jogar com outros garotos. Eu me divertia muito praticando esses esportes naquelas tardes de um tempo em que não havia Internet, computadores pessoais e muito menos celular. 

Quando eu estava na oitava série do Ensino Fundamental, hoje é o nono ano, na EEB Belisário Ramos em Lages, SC, eu tive um excelente professor de educação física que nos ensinou a jogar Futebol, Handebol, Vôlei e Basquete. Eu me identificava muito com o futebol e o basquete, apesar da minha estatura mediana. Aquele professor nos incentivou a tal ponto que preparou um time de basquete da nossa escola para concorrer nos jogos estudantis municipais, e pela primeira e última vez na minha vida joguei basquete no Ginásio Municipal de Esportes de Lages, SC, anexo ao Campo de futebol do Internacional de Lages, SC. Jogamos contra o time do Colégio Diocesano, e não precisa dizer que perdemos feio, mas aquela lição esportiva ficou para o resto da vida.

Nesse período da minha vida, depois que minha mãe Miriam voltou de São Paulo, SP, para morar conosco na casa da sua mãe e minha avó em Lages, SC, recordo que ela alugou um ponto de lanchonete no centro da cidade, próximo ao terminal central de ônibus urbano de Lages, SC. Esse fato me marcou bastante, eu devia ter 14 anos de idade e já estava frequentando a IEQ. Me marcou por três razões: a primeira foi porque eu ficava lá na lanchonete no período da tarde até à noite ajudando minha mãe e minha avó no atendimento do caixa, além de gostar muito de comer os bolinhos de carne que minha avó fazia, com muito ketchup e uma Laranjinha Max Wilhelm. A segunda razão foi porque quando eu não precisava ajudar eu ficava jogando basquete na calçada na frente da lanchonete, apenas quicando minha bola de basquete. A terceira razão foi porque numa daquelas noites, um dos clientes que estava sentado no balcão ficou literalmente endemoninhado, totalmente possuído mudou sua voz e começou a falar coisas horríveis. Eu estava na cozinha que era separada da lanchonete por uma parede de compensado, e apesar de ser novo na fé em Jesus, ao ver o que se passava e ouvir aquela voz diabólica dobrei meus joelhos e orei pedindo proteção e libertação, até aquele senhor ficar mais calmo e voltar a sua consciência. Naquela noite não dormi muito bem devido a opressões malignas, mas eu já estava aprendendo a me defender por meio da oração. Depois disso minha avó e minha mãe colocaram o ponto da lanchonete à venda e logo foi vendido.

terça-feira, 19 de junho de 2018

2º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Infância - Dos 7 Anos aos 12 Anos de Vida - Vazio Religioso e Espiritual

Minha infância nesta segunda fase, ou seja, dos sete anos aos doze anos de idade, foi marcada por um vazio religioso e espiritual muito grande. Minha mãe Miriam, após a separação de meu padrasto Carlos, se mudou de Hortolândia no interior paulista, e foi morar na cidade de São Paulo, SP, para trabalhar na IBM. Nesse período eu não tinha muitas informações de como era sua vida por lá, mas lembro que uma única vez fui visitá-la com minha avó numa viagem de ônibus da cidade de Lages, SC, para São Paulo, SP, e que minha mãe morava numa pensão familiar com seu filhinho André, meu irmão que havia nascido em Campinas, SP. Lembro bem dessa viagem, pois para mim era tudo novo e diferente, mas na minha inocência infantil eu não fazia ideia dos problemas que minha mãe enfrentava, e do quanto ela estava solitária e sofrendo.

Acontece que o motivo da viagem era para que minha avó não apenas fosse visitar minha mãe, mas também fosse buscar meu irmãozinho André, que devia ter alguns meses de vida, pois minha mãe não podia cuidar dele e trabalhar ao mesmo tempo, então ela optou por trabalhar em São Paulo para ajudar minha avó em nossa criação e educação na cidade de Lages, SC. Sendo assim, quando retornamos para Lages, SC, meu irmãozinho André veio junto conosco e minha mãe ficou em São Paulo, SP. Lembro que nesse período entre os sete anos de idade até os doze, minha mãe vinha nos visitar todo final de ano, e trazia algumas castanhas do Pará para a gente comer, ela sempre dizia para nós que aquilo era bom para o cérebro, pois tinha Fósforo. Eu imaginava que fosse o mesmo componente dos Palitos de Fósforo, com os quais a gente costuma fazer muitas brincadeiras e joguinhos em casa. Até hoje compro castanhas do Pará e sempre estimulei meus filhos a comerem também.

Deste modo fui vivendo minha infância na casa da minha avó, agora era eu, minha vó, meu vô, meu tio Nelson, um ano mais velho que eu, e meu irmãozinho André, que morávamos juntos na casa número 266, da rua Coronel Zeca Atanásio, no bairro Sagrado Coração de Jesus, em Lages, SC. Nesse tempo, minha avó que era membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia central de Lages, deixou de frequentar a IASD quando eu tinha aproximadamente sete anos de idade. Os motivos ainda não sei até hoje, mas muita coisa mudou em minha vida, pois como eu era levado por ela aos sábados pela manhã na escolinha sabatina e para o culto de adoração, eu também deixei de frequentar.

Sendo assim, nessa fase da minha vida vivi sem qualquer religião, ou seja, não frequentei igreja nenhuma, mas em casa ainda fazia minha oração todas as noites antes de dormir. O que lembro desse período no sentido espiritual é que eu me sentia deslocado, porque os meus amigos de escola e vizinhos da rua onde eu morava, eram na sua grande maioria membros da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), e pelo fato de eu não ter sido batizado na ICAR, diante dos vizinhos e seus filhos que eram meus amiguinhos, eu era considerado um pagão. Contudo, quando tinha festa na igreja católica do bairro Sagrado Coração de Jesus eu gostava de ir, pois tinham as barraquinhas de pescaria e os sorteios de bolos, além do famoso churrasco de igreja. Mas sempre me sentia sem saber o que fazer quando entrava na igreja católica, pois eu não fazia o sinal da cruz e não me sentia muito bem em ficar lá dentro por causa das imagens de Jesus, da virgem Maria e dos santos. 

Esse foi um período de latência espiritual muito grande na minha vida. Quase não lia a Bíblia, não frequentava nenhuma igreja, não falava e não ouvia falar quase nada a respeito de Deus e do amor de Jesus, a não ser por meio da minha avó materna e da minha mãe que de vez em quando me aconselhavam a não fazer coisas erradas. Elas também gostavam de cantar hinos do Hinário Adventista do Sétimo Dia, e cantavam muito bem, eu adorava ouvir elas cantarem. Aos domingos depois do meio dia minha avó Osvaldina gostava de ouvir o programa radiofônico "A Voz da Profecia", apresentado pelo saudoso orador pastor Roberto Rabelo e sua inconfundível voz. Um domingo ou outro eu também escutava algumas partes do programa, e uma coisa que lembro bem era da oração final quando Roberto Rabelo declarava: "Que o Senhor te abençoe e te guarde, que o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti, que o Senhor sobre ti levante o Seu rosto e te dê a paz". De vez em quando eu também pegava minha coleção da Bíblia Ilustrada, com seus volumes de capa branca escrito em dourado, eu gostava de folhear e ler algumas histórias bíblicas. Eu havia ganhado essa coleção do meu padrasto e gostava muito de ver as gravuras coloridas, aquela coleção fazia parte dos poucos livros que eu tinha acesso nesse período da minha vida.

Cresci numa época e tempo histórico bem diferente de hoje em dia. Naquele tempo não tinham as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) que têm hoje. Internet, a gente nem ouvia falar e muito menos se imaginava o uso de computadores pessoais (PCs) ou aparelhos de celular. Os aparelhos de telefone eram de discagem manual e uma linha telefônica era tão cara quanto um automóvel, só famílias ricas tinham um. Na realidade, os aparelhos eletrônicos de comunicação (Televisão e Rádio) eram com sistema analógico, a digitalização de dados nem se imaginava. As fontes mais seguras de informação eram os livros e jornais impressos, e o popular aparelho de rádio.  Lembro que na casa do meu avô tinha um aparelho de rádio feito de madeira, muito bonito para a época, o qual ficava numa posição de honra numa prateleira na cozinha. Além desse rádio meu avô Nelson tinha outro rádio de pilhas, o qual ele costumava ouvir com o volume bem alto ao deitar para ir dormir à noite e ao acordar bem cedo pela manhã. Minhas tias Tânia e Rute que eram adolescentes na época também gostavam de ouvir as famosas "radionovelas" durante o dia. Lembro também que elas tinham em casa um aparelho de som portátil pequeno, era uma "Vitrola ou Toca Discos", o qual era usado para tocar discos de vinil. E tinha também um "toca fitas K7 com gravador". Hoje tudo coisas de museu. Na década de 60 quando nasci, dificilmente alguma família pobre tinha um aparelho de televisão ou até mesmo geladeira, pois esses eletrodomésticos ainda eram muito caros e começaram a se popularizar a partir da década de 70.

Aparelho de Rádio que ficava numa prateleira na cozinha da casa da minha avó, e no qual ela escutava o programa da "Voz da Profecia" apresentado pelo Pr Roberto Rabello na Década de 1970

Consequentemente, as crianças daquela época tinham costumes diferentes e brincadeiras bem diferentes das de hoje em dia. As crianças brincavam na rua com os amiguinhos e vizinhos, e as "brincadeiras e brinquedos daquela época" muitas vezes eram improvisadas e feitos de sucatas por elas mesmas, como por exemplo: pular corda, bambolê, pular elástico, "perna de pau", "pé de lata", "estilingue ou funda feita com borracha de pneu de bicicleta ou garrote", "pandorga ou pipa feita em casa", "pião de mão", "bilboquê", "tocar pneu ou tocar aros", "pega-pega", "estátua", "esconde-esconde", "pega-pega", "João bobo", "queimar", que era uma brincadeira com bola, "carrinho de rolamento", "jogo de taco na rua", "bolinhas de gude ou jogo de bolinhas de vidro", "jogo de Botão", "jogo de Damas", "jogo de Ludo", e é claro o velho e bom "futebol no campinho" do bairro, de preferência calçando o famoso tênis "kichuteamarrado na canela. Mas quem não tinha um kichute usava um tênis  "Conga" ou "Bamba", ou ainda os coloridos tênis "All-Star". Naquela época a garotada curtia ter esses tênis, já que o celular não existia, a gente queria usar itens de vestuário que estavam na moda para ostentar. Durante minha infância e pré-adolescência eu tive o privilégio de ter um par de cada um desses tênis que citei e usar todos eles com muito orgulho, era pura ostentação. Mas principalmente da minha pré-adolescência até minha juventude nas décadas de 1970 e 1980, essa ostentação não se limitava aos tênis, tinha também o sonho de consumo dos famosos sapatos "Docksides", "Oxford", ou dos sapatos "bico fino" que eram usados com as calças de prega, as quais minha avó que era costureira fazia para mim. Outra roupa da época que usei muito na minha pré-adolescência e juventude foram as famosas calças jeans "US TOP", "Lee" e "Levi's".

Quando criança eu também tinha uma coleção do "Forte Apache" para brincar, com soldadinhos e índios de plástico, e eu me divertia muito simulando guerras entre eles inspirado nos filmes americanos de faroeste ou do velho oeste que de vez em quando passavam na televisão. Lembro que eu costumava brincar com meu Fort Apache no porão da casa da minha avó, na verdade debaixo do assoalho da casa, uma vez que a mesma era sustentada por palanques por causa do terreno em declínio e porque o porão não era fechado tinha muita poeira lá, e pulgas também. 

Eu também gostava de brincar de "bang-bang" com meus amiguinhos, como a maioria não tinha um cobiçado "Revólver de Espoleta", a gente usada um feito de madeira por nós mesmos. Na realidade eram as séries de TV da época que inspiravam muitas das nossas brincadeiras, dentre elas: "Daniel Bonne", "Bat Masterson", do qual eu tive um bonequinho de plástico com casinhas do Velho Oeste e alguns "Cowboys", todavia, a série televisiva que eu mais gostava era as aventuras de "Rin-Tin-Tin", porque sempre gostei de cachorros e o menino protagonista tinha mais ou menos a minha idade. 

Mas antes de chegar a primeira TV em minha casa, eu tinha o costume de me reunir com meus amiguinhos na rua, que na época era de chão, embaixo da luz de um poste, para a gente ficar até tarde da noite conversando ao redor de uma fogueira e contando histórias de terror. Vez ou outra alguém trazia uma batata doce para assar ou alguns pinhões, fruto típico da região, para assar nas brasas do fogo, prática conhecida na região serrana de Lages, SC, como sapecada. Outras vezes a gente saia dali e ia fazer travessuras, como apertar as campainhas das casas e sair correndo, mas também fazíamos coisas piores, coisas de moleques sapecas, como jogar pedras nos telhados das casas ou roubar frutas nas casas dos vizinhos, tais como ameixas, pêssegos e caquis, o seu Atílio que era nosso vizinho se incomodou muito conosco. Talvez por isso ele devolvesse furadas todas as bolas de futebol que caiam no seu terreno. 

Eu devia ter seis ou sete anos de idade quando assisti televisão dentro da nossa própria casa pela primeira vez. Lembro de quando minha avó, que ganhava dinheiro como costureira e vendedora de casa em casa, de Geleia Real e produtos da Avon, comprou uma geladeira e mais tarde um aparelho de televisão.  A geladeira era da marca Cônsul e a televisão era da marca Telefunken, preto e branco, pois não existia ainda televisores coloridos, e minha avó colocou o aparelho em cima da geladeira na cozinha. Na verdade o aparelho de TV era uma caixa de madeira, com os botões de controle na frente, pois ainda não existia controle remoto e para mudar de canal tinha que levantar e ir lá trocar. A tela era literalmente cinza, e na parte de trás do aparelho tinha um monte de válvulas ou tubos. De vez em quando queimava o tubo de imagem a tinha que ser trocado. Recordo que quando a gente ligava a TV ela demorava para aparecer a imagem, porque as válvulas ou tubos precisavam aquecer e incandescer antes dela funcionar perfeitamente. E muitas vezes quando aparecia a imagem eram chuviscos e tinha uma mensagem avisando: "estamos fora do ar por falta de programação". Então eu ia fazer o que mais gostava, brincar com as crianças que moravam na nossa rua, brincar no quintal da casa da minha avó subindo em árvores ou no meio da plantação de milho. Mas o que eu mais gostava mesmo era jogar futebol no "campinho" perto de casa com meus amiguinhos que eram meus vizinhos e colegas de escola. A seguir uma foto do antigo aparelho de TV Telefunken, hoje em dia um produto Vintage.

Televisor Telefunken 14 Polegadas Preto e Branco

Até minha avó comprar esse primeiro aparelho de TV, de vez em quando a gente assistia alguns programas de televisão na casa do seu Déco e da dona Zizi, nossos vizinhos da casa ao lado. Eu era amigo de dois dos filhos deles que tinham mais ou menos a minha idade, o Fredo e a Nalu, e de vez em quando eles me convidavam para ver algum filme ou desenho animado junto com eles, isso quando a gente não acabava deixando a TV de lado e jogando Jogo de Botão ou Jogo de Ludo.

Mas depois que a TV chegou em nossa casa, quando tinha alguma programação, eu gostava de assistir todas, pois era um momento muito raro e especial para mim, mesmo a imagem sendo em preto e branco e muitas vezes apresentar chuviscos ou ficar distorcida. Além das séries que já mencionei, eu também gostava de assistir outras e os seguintes filmes e desenhos animados daquela época, para citar alguns: "Sítio do Pica-Pau Amarelo", "As Aventuras do Zorro, o Cavaleiro Solitário", "Batman e Robin", "Túnel do Tempo", "Os Três Patetas", "O Gordo e o Magro", "Jeannie é Um Gênio", "A Feiticeira", "Ultraman", "Topo Gigio", "Mickey Mouse", "A Pantera Cor de Rosa", "Mister Magoo", "Todos os Desenhos Animados de Hanna Barberra", dentre eles destaco: "Tom e Jerry", "Corrida Maluca", "Jonny Quest", "Os Jetsons", "Os Flintstones", "Tutubarão", "Superamigos", "Scooby-Doo, Cadê Você", também tinham outros desenhos que eu gostava muito, ou seja: "Pica-Pau", "Zé Colmeia", "Lippy e Hardy", "Manda-Chuva", "Papa Léguas", "Speed Racer". Logicamente eu não era o único na minha família que estava fascinado com os programas de televisão, meu avô e minha avó não perdiam um Jornal Nacional sequer, apresentado naquela época pela famosa dupla Cid Moreira e Sérgio Chapeline muito menos os programas de domingo: Fantástico e Silvio Santos. Além dos jogos de futebol, como a Copa do Mundo de 1970 por exemplo. Claro que a gente também aproveitava e acabava assistindo tudo junto com os adultos.

Confesso que na minha infância, apesar dos programas de TV daquela época exercerem forte influência sobe mim, na maioria do tempo cresci meio solto nas ruas do bairro onde morava, e entre ficar em casa vendo meus programas favoritos e brincar com meus coleguinhas, eu preferia jogar bola com meus amigos. Eu também tinha a liberdade de ficar até tarde da noite brincando, ou seja, até as 22 horas, porque depois disso todos tinham medo de ficar na rua por causa da "Rapa". Era a época da ditadura militar no Brasil, e a famosa "Rapa" era temida, pois se tratava de um camburão da Policia Militar que fazia rondas depois das 22 horas e abordava quem estivesse na rua, exigindo os documentos pessoais. Sobre essa época da Ditadura Militar não tenho queixas nenhuma, sempre estudei em escolas públicas no Ensino Fundamental e Médio e aprendi a ser um bom cidadão e amar a minha pátria. Durante o Regime Militar, nunca me senti reprimido em nada durante a minha infância, adolescência e início da juventude. Também fiz minha primeira faculdade durante o Regime Militar e quando terminei em 1989 a Constituição Federal de 1988 já havia estabelecido um Estado Democrático de Direitos. 

Mesmo vivendo num lar carente de recursos materiais, havia muito afeto, carinho e amor. Fui muito bem educado por minha avó Osvaldina e minha mãe Miriam, elas me deixaram um legado moral muito sólido e sempre me incentivaram a estudar. Nessa fase eu me dediquei muito na escola, era um bom aluno, não cheguei a ser ótimo, mas não era medíocre. Eu realmente gostava de estudar e de ir pra escola, acordava cedo, mesmo no inverno rigoroso do sul do país e da cidade de Lages, SC.

Desta maneira, em relação a minha vida religiosa, nesse período dos sete aos doze anos de idade, eu estive bem alienado de qualquer religião ou igreja. Porém, mantinha uma comunhão mínima com Deus por meio de uma oração todas as noites antes de dormir. Eu gostava muito quando minha mãe ou minha avó cantavam hinos para eu dormir, eu gostava também de receber o carinho delas. Todavia, quando eu tinha treze anos de idade aconteceram algumas coisas que mudaram muito a minha vida e o meu futuro religioso.

Algumas Fotos Desse Período:

 Em Florianópolis Com Meu Tio Nelson (Direita) e Meu Primo Tuca (Bebê)
 Minha Primeira Bicicleta Em Lages, SC
 Fluminense? Bola de Basquete? Ridículo!
Eu Adorava Jogar Bola Com Meu Tênis kichute!

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