O Grande Conflito em Nossa Vida:

"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim [...]." Efésios 6:10-19

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

5º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Juventude - Dos 19 Anos aos 23 Anos de Vida - Teologando no SALT/IAE, São Paulo, SP

Aos 19 anos de idade eu estava cursando o primeiro ano da Faculdade Adventista de Teologia no SALT/IAE, São Paulo, SP, atualmente UNASP. Eu era relativamente novo na fé, havia me tornado adventista do sétimo dia aos 16 anos de idade e trabalhado como colportor estudante durante o período de sete férias consecutivas. Lembro de quando cheguei na cidade de São Paulo, SP. Fui acompanhado pelo amigo e grande líder da colportagem Tércio Reginaldo Teixeira Marques, o qual me acolheu e me orientou até chegar no colégio IAE, em Itapecerica da Serra, zona sul da capital paulista. Diante da realidade da cidade de São Paulo, eu era praticamente um jovem caipira vindo de uma cidadezinha do interior do Estado de Santa Catarina e me sentindo meio perdido numa selva de pedra.

Logicamente que a saudade de casa e principalmente das minhas duas mães, Miriam e Osvaldina, estavam apertando meu coração e o delas também. Naquela época não tinha Internet, nem celulares, e muito menos Whatsapp ou outro aplicativo de comunicação digital. O sistema de telecomunicações era todo analógico, e os meios mais rápidos para falar com os familiares era por meio de um telefonema com aparelhos telefônicos bem rudimentares para os dias atuais, ou ainda por meio de um telegrama enviado por telégrafo. Mas esses meios eram muito dispendiosos para a maioria da população brasileira e eram utilizados geralmente em uma emergência. Por exemplo, uma ligação telefônica era cobrada por minutos falados e um telegrama era cobrado por palavras escritas. Além disso, uma linha telefônica custava o equivalente ao preço de um carro popular, inclusive ter mais de uma linha era um investimento rentável, inclusive muitas pessoas que adquiriam várias linhas para alugar e ganhar um bom dinheiro. Desse modo, para quem era pobre e não possuía uma linha telefônica, a melhor forma de comunicação era por meio de cartas escritas e postadas nos correios. E era dessa maneira que eu e minha família mantínhamos contato enquanto estudei no IAE. Todavia, vale lembrar que uma carta poderia demorar até mais de um mês para chegar ao destinatário, e dessa maneira as notícias já chegavam desatualizadas. Mas sempre era uma emoção parar para escrever uma carta, e muito mais quando a gente recebia uma. Havia uma certa expectativa antes de abrir a correspondência, pois nunca sabíamos ao certo se as notícias seriam boas ou não. Eu escrevi muitas cartas, mas das que escrevi não tenho nenhuma hoje, talvez quem as recebeu as tenha guardado. Porém, algumas cartas que recebi da minha mãe e da minha avó materna eu guardei até hoje. Recebi essas cartas na década de 1980 da minha mãe Miriam Aparecida Neto Schemes e nas décadas de 1980 e 1990 da minha mãe-vó Osvaldina Emy da Silva Muniz. São cartas cheias de saudades, preocupações, cuidados, conselhos, carinho e muito amor. Como já disse, as tenho guardado desde então como um tesouro precioso para a minha alma e meu coração. Em cada palavra escrita, em cada linha e parágrafo, mesmo em cada erro de português, ainda posso sentir toda energia de tanto amor. O amor jamais acaba; O Amor é Eterno! Se desejar ler essas cartas clique na imagem a seguir.


O ano de 1986 foi meu primeiro ano de estudos no curso de Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas (Grego e Hebraico), pelo Seminário Latino Americano de Teologia - SALT. Como já disse, logo no início da faculdade percebi que ela não seria nada fácil. Tive excelentes professores no curso teológico, dentre eles alguns se destacaram como referência para mim devido ao seu alto nível de conhecimento e exemplo moral, foram eles: Wilson Harle Endruweit; Alberto Ronald Timm; Alcides Campolongo; Antonio Alberto Nepomuceno; David José Bravo Torres; Emilson dos Reis; Gerson Pires de Araújo; Horne Pereira Silva; José Maria Barbosa da Silva; José Maria Bertolucci; Orlando Ruben Ritter; Pedro Apolinário; Rubem Aguiar Santos; Siegfried Júlio Schwantes; Valdir Negreli; Wilson Luis Paroschi. Agora, eu era oficialmente um teologando, e tinha até uma carteirinha do SALT/IAE assinada pelo diretor da faculdade:



Os professores exigiam de nós teologandos muito estudo e leituras, tínhamos que fazer semanalmente para cada disciplina um relatório de leitura. Esse relatório era de uma determinada quantidade estipulada de páginas, que deviam ser lidas das referências bibliográficas dadas pelos nossos mestres, doutores e pós-doutores em teologia. Geralmente o mínimo de páginas semanais por disciplina era de duzentas a trezentas por disciplina. Além disso, haviam as monografias, uma para cada disciplina, e as provas que eram todas sem consulta, no velho e bom estilo tradicional de ensino. Lembro de uma das primeiras provas que fiz para a disciplina de História da Igreja com o professor Alberto Ronald Timm, eu havia estudado mais de 20 horas para aquela prova sem consulta, o conteúdo era o livro "História do Adventismo", detalhe, o livro todo. Praticamente decorei os principais fatos, datas e nomes do livro, e o resultado foi uma nota "A", conceito equivalente a uma nota "Dez", que mereceu menção por parte do professor Timm em sala de aula. Ele costumava devolver as provas corrigidas das menores notas para as maiores, lembro das suas palavras até hoje quando disse: "Puxa, eu tenho aqui uma prova que parece que o aluno copiou o gabarito", e em seguida mencionou meu nome e me entregou a prova. Assim foi minha dedicação no curso de teologia, eu amava estudar a Palavra de Deus e me preparar para o sagrado exercício do ministério pastoral na IASD.

Jorge N. N. Schemes - 19 Anos de Idade
Em Meu Quarto no Antigo Dormitório Masculino do IAE
Estudando Para as Provas à "Moda Antiga": Sem Internet; Sem Computador e Sem Celular - Ano de 1986.

Recordo que no final do primeiro semestre, em junho de 1986, fiquei muito doente no IAE. Eu havia levado pouca roupa de cama e fez uma semana de muito frio e chuvas, eu tinha apenas um cobertor para me cobrir. Foi a única vez que fiquei doente durante os quatro anos que estudei no Internato do IAE. Tenho uma dívida de gratidão a duas pessoas que me ajudaram naquela situação, duas pessoas verdadeiramente cristãs e que me demonstraram cuidados de pai e mãe enquanto eu estava enfermo. O professor, pastor e preceptor Domício de Oliveira e sua esposa, além de me doarem um cobertor a mais, me deram medicação e cuidaram de mim como se fosse um filho. A esse casal de filhos de Deus minha eterna gratidão! Muito obrigado!

O primeiro semestre de 1986 acabou rápido e passei com honra em todas as disciplinas. Quando as férias de julho chegaram também chegou um novo desafio por meio da colportagem estudantil. Claro que saí para trabalhar naquelas férias, pois eu dependia das vendas da colportagem para pagar o próximo semestre no internato e a faculdade. Embora eu tivesse me precavido com uma generosa caderneta de poupança desde minha primeira experiência na colportagem em 1983, eu precisa garantir os meus estudos e o meu preparo para o pastorado, pois no início de 1986 o Governo Brasileiro havia lançado um plano econômico chamado de Plano Cruzado, o qual visava estabilizar a economia e trouxe uma nova moeda, o Cruzado e mais tarde o Cruzado novo em substituição ao Cruzeiro. Esse plano econômico congelou salários, preços, produtos, serviços e no lugar da correção monetária criou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) para corrigir a poupança e aplicações financeiras. Isso afetou diretamente as minhas economias e meus rendimentos na poupança. O dinheiro que eu tinha guardado durante tantos anos praticamente desapareceu em um ano. O plano Sarney como ficou conhecido foi um fracasso e prejudicou muitos poupadores. Por essa razão, eu dependia totalmente de ter sucesso na colportagem das férias de julho de 1986, e o colégio dava para os alunos um recesso de dois meses praticamente, para que os colportores estudantes pudessem garantir o seu retorno no próximo semestre. Confesso que eu sempre ficava com um certo receio de não conseguir o valor necessário para pagar minha estadia no internato, a faculdade e minhas despesas pessoais, mas após muita oração e leitura do livro "O Colportor Evangelista", de Ellen G. White, minha fé e confiança no Senhor Jesus eram renovadas eu eu declarava: "Deus Proverá!"

Para acessar o livro "O Colportor Evangelista":
EGW Writings - https://m.egwwritings.org/pt/book/1954.2

Nas férias do meio do ano, em Julho de 1986, decidi que não iria trabalhar em equipe, mas colportar em dupla na cidade de Brusque, SC. Meu colega de trabalho foi o teologando Claudio Augusto Adão, atualmente pastor e missionário em Moçambique na África, e meu grande amigo até hoje. Eu havia terminado o primeiro semestre do teológico e precisa conseguir o estipêndio para o próximo semestre. Ficamos numa sala nos fundos da igreja central de Brusque, SC, e como era inverno e fazia muito frio, as irmãs Dorcas foram bem generosas e nos emprestaram cobertas e cobertores, pois a gente dormia num colchonete fininho no chão gelado. Fizemos ótimas amizades naquela igreja, e sempre haverá uma dívida de gratidão àquelas irmãs. Com muito trabalho, oração e confiança em Deus, Ele me abençoou grandemente naquelas férias, e mais uma vez Deus proveu o necessário. Eu consegui vender o suficiente e ganhei o estipêndio para o segundo semestre do primeiro ano da Faculdade de Teologia do SALT/IAE. 

Um fato curioso que ocorreu naquelas férias em Brusque, SC, foi que havia uma senhora que era a zeladora da igreja, e toda vez que ela vinha limpar a igreja trazia sua filhinha com ela, a qual devia ter entre dez e onze anos de idade, mas era extremamente tímida, seu nome era Eliane Deucher. Tanto eu quanto ela nunca podíamos imaginar que um dia nossas vidas se cruzariam novamente de maneira totalmente diferente. E foi o que ocorreu. Passados aproximadamente sete ou oito anos desde aquelas férias, entre os anos de 1992 e 1993, após eu estar formado em teologia e trabalhando como professor de Bíblia e pastor na cidade de Florianópolis, SC, seu irmão Elias Deucher, que eu já conhecia e com quem eu já havia colportado em equipe, me apresentou à Eliane. Mas eu não fazia ideia que ela era sua irmã. Eu e Eliane acabamos nos reencontrando e nos conhecendo melhor. Após um período de namoro e noivado, casamos na Igreja Adventista Central de Floripa, sendo ela minha primeira esposa por oito anos. Mas o desfecho dessa história fica para os próximos capítulos.

Ao retornar para o IAE em meados de agosto de 1986 eu estava agradecido a Deus, pois pude pagar o colégio interno e a faculdade à vista com 10% de desconto naquele semestre, novamente como aluno regular, ou seja, isso significava que meu tempo estava totalmente livre para estudar, para as atividades na igreja e para o lazer. O que mais me marcou academicamente naquele ano de 1986 foram as aulas de Grego Koiné com o professor Pedro Apolinário. Apolinário era um professor erudito, mas humilde. Era comum vê-lo andando com sua bicicleta pelas alamedas do IAE, às vezes descendo as mesmas em alta velocidade com seu guarda-pó branco esvoaçando. Era uma cena hilária. E o que mais me marcou no aspecto emocional e social foi o fato de, no mês de outubro de 1986, eu ter conhecido uma jovem que seria um verdadeiro anjo para mim durante todo o curso de teologia. Ela se chamava Vaurene Ribeiro de Carvalho, e foi minha única namorada enquanto estudei no IAE, mais do que isso, ela foi minha amiga e ajudadora, pois em muitas situações me socorreu digitando trabalhos acadêmicos e cuidando de mim e do meu bem estar. Registro aqui minha dívida de gratidão àquela jovem cristã, sempre dedicada, sorridente, meiga, delicada, amorosa, atenciosa e carinhosa.

Logo o mês de dezembro de 1986 chegou, e com ele mais um fim de semestre e as próximas férias. Novamente, graças a Deus e ao meu empenho e esforço fui aprovado com honra nas disciplinas do curso teológico, o primeiro ano tinha sido concluído, faltavam mais três anos. Agora estava diante de mim mais um desafio na colportagem estudantil de férias. Desta vez fui colportar com uma equipe em Blumenau, SC, e o líder da equipe se tornou um grande amigo até os dias de hoje, seu nome: Volnei Kuhl, meu colega em todo curso teológico. Naquelas férias nós tínhamos praticamente três meses para conseguir a bolsa de estudos ou estipêndio, ou seja: de dezembro de 1986 a janeiro e fevereiro de 1987, sendo que a bolsa de estudos equivalia a uma mensalidade da faculdade de teologia, na verdade era um bônus sobre o volume total de vendas se atingíssemos a meta individual, somado ao nosso lucro líquido com as vendas que era de 40%, era assim que conseguíamos o estipêndio para mais um semestre. Tudo isso com o apoio da Igreja Adventista do Sétimo Dia por meio da Casa Publicadora Brasileira (CPB), Associação Catarinense da IASD e igreja local.

Lembro que ficamos hospedados nas salas de aula da Escola Básica Adventista Castelo Forte, (atual Colégio Adventista de Blumenau), localizado próximo ao centro da cidade de Blumenau, SC. Como sempre, dormíamos em colchonetes estendidos no chão, e cada um se virava como  podia na questão da alimentação. Nunca passei fome nesse trabalho abençoado da colportagem, e Deus sempre foi fiel em suprir minhas necessidades à medida que eu me empenhava no trabalho e confiava em sua providência. Aquele verão estava particularmente quente, de maneira que saíamos para trabalhar no meio da tarde. Optei por colportar numa cidade próxima de Blumenau, a cidade de Timbó, SC. Eu e meu amigo Jair Tadeu Machado, que hoje é pastor da IASD, trabalhávamos de segunda-feira a sexta-feira em Timbó, e ficávamos hospedados no "New Cometa Hotel", que ficava bem no centro da cidade. Na hora do almoço nos encontrávamos sempre no mesmo restaurante para comer um prato "americano", inesquecível. E na sexta-feira à tarde pegávamos ônibus de volta para Blumenau, para ficarmos junto com a equipe de colegas colportores estudantes no final de semana. Foi uma experiência marcante para mim, porque além de depender das vendas para pagar o hotel e minha alimentação, eu também dependia delas para pagar o próximo semestre no SALT/IAE. Naquelas férias, sabendo de quão exigente meu professor de Grego era na faculdade de Teologia, eu comecei a estudar a apostila de grego III escrita pelo professor Pedro Apolinário, e acabei decorando todo alfabeto grego, algumas desinências verbais e a oração do Pai Nosso em Grego, a qual nunca mais esqueci e sei recitar até os dias de hoje.

Na cidade de Timbó, SC, tive uma experiência interessante em uma das ofertas que fiz dos livros que estávamos vendendo. Entrei em um escritório de contabilidade para oferecer os livros e pedi para falar com o "chefe". Logo me conduziram a uma sala que ficava nos fundos e me apresentaram para um senhor que devia ser o dono do escritório. Quando comecei a falar e me apresentar fui interrompido bruscamente com as palavras: "Não tenho tempo para te ouvir"! Eu estava sentado bem à frente daquele homem segurando meu mostruário dos livros aberto em minhas mãos. Assim que ouvi aquele senhor falar que não tinha tempo para me ouvir eu me calei. Ele, percebendo que havia me deixado sem ação, imediatamente tomou o mostruário das minhas mãos e começou a folheá-lo rapidamente sem ao menos ler. De repente ele fechou o prospecto e o colocou em cima da sua mesa, e começou a falar. Aquele homem falou por cerca de meia hora sem parar. Contou toda sua vida e os problemas que tinha em sua família e com seus filhos. Eu não fiz outra coisa senão escutá-lo pacientemente. Eu não apenas ouvi ele falar, mas o escutei, concordando com algumas afirmações que ele fazia. Eu precisava vender para ganhar meu estipêndio para o próximo semestre e não podia perder tempo, mas era como se o Espírito Santo sussurrasse em minha mente: apenas escute! Quando aquele senhor parou de falar, ele olhou no seu relógio de pulso, olhou para mim, olhou para o meu mostruário em cima da mesa e disse: "Eu vou comprar os seus livros! Sabe por quê? Porque você soube me escutar pacientemente". Essa experiência me ensinou até hoje como é importante a gente saber escutar os outros. 

Caixas contendo livros da CPB vendidos pela equipe de colportores estudantes para entrega em Blumenau e Timbó, SC
Jorge N. N. Schemes, em pé à esquerda, em seguida Wagner Montin, o jovem agachado não lembro o nome; Volnei Kuhl, sentado à direita, líder da equipe de colportores nas férias de verão de dezembro de 1986 a fevereiro de 1987 
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Deus sempre me abençoou muito na colportagem evangelística de férias. E naquelas férias não foi diferente. Meu lema era uma frase que está escrita no livro "O Colportor Evangelista", a qual diz: "O segredo do êxito está na união do poder divino com o esforço humano". Por essa razão eu tinha uma meta de ofertas por meio do meu prospecto de vendas, era de 15 ofertas bem dadas desde a apresentação inicial até o fechamento da venda, que era com a assinatura do cliente confirmando seu pedido numa lista ao final do prospecto. E antes de cada oferta eu fazia uma oração e lia um texto bíblico ou uma citação do livro o Colportor Evangelista, ou seja, eu fazia minha parte e o Espírito Santo de Deus fazia a dEle. O resultado era que eu sempre vendia alguma coisa em 12 ou 13 daquelas 15 ofertas. Eu confiava plenamente que estava fazendo a obra de Deus e que a colportagem fazia parte do meu preparo para o sagrado ministério pastoral. No final daquelas férias, após o período de entrega dos livros e do acerto final na Associação Catarinense, eu havia mais uma vez conseguido o estipêndio para continuar meus estudos como aluno regular no SALT/IAE por mais um semestre. a seguir foto da capa externa e interna do livro "O Colportor Evangelista", o qual eu lia em todas as minhas férias de colportagem e que tenho até hoje:



Escrevi à mão na parte superior da capa interna do livro o que eu acreditava e ainda acredito sobre a Obra da Colportagem


Depois da Bíblia, o livro "O Colportor Evangelista" era minha leitura preferida enquanto eu colportava nas férias como colportor estudante. Eu procura seguir seus conselhos e colocar em prática suas preciosas orientações, e o resultado foi o sucesso com a benção de Deus. A seguir, algumas páginas que marquei desse livro, onde fiz anotações à mão em diferentes férias de colportagem, inclusive anotando o nome de algumas cidades onde trabalhei com a data e o ano. Algumas destas anotações eram orações e súplicas a Deus, pois eu sempre senti enorme dependência do favor Divino durante as minhas colportagens.


De todas as anotações que fiz, como orações, frases de agradecimento e vitória, bem como declarações de confiança em Deus, destaco as seguintes:





Escrevo estas coisas para exaltar o nome de Jesus, pois foi graças a Ele que eu obtive sucesso como colportor estudante, sendo eu mesmo fruto da obra da colportagem. O Espírito de Profecia declara no livro "O Colportor Evangelista": "Só podemos iluminar as pessoas mediante o poder de Deus. Os colportores precisam conservar sua própria alma em viva comunhão com Deus. Eles devem trabalhar orando para que Deus abra o caminho e prepare os corações para que recebam a mensagem que Ele lhes envia. Não é a habilidade do agente ou obreiro, mas o Espírito de Deus movendo o coração que dá verdadeiro sucesso".

Esse pensamento reflete a mais pura verdade sobre "a obra daquele outro anjo", como também é chamada a colportagem evangelística. Quantas vezes fui oferecer os livros da CPB e após dar a oferta, sem perceber nenhum interesse por parte da pessoa diante de mim, ao final ela fazia o pedido e comprava os mesmos?! Quantas vezes as pessoas já compravam mesmo antes de eu fazer o fechamento?! Teve uma vez que uma mulher interrompeu minha oferta, olhou para o prospecto do livro "Vida de Jesus" e me disse assustada: "Antes de você bater na minha porta eu estava dormindo aqui no sofá da sala, e eu estava sonhando com este livro!" "Eu quero este livro!" Por essa e muitas outras razões é que até hoje eu me empolgo e acredito na obra da colportagem.

Ao retornar para o colégio paguei mais um semestre a vista com o dinheiro que havia ganhado com a colportagem estudantil. Por mais um semestre eu estava tranquilo para me dedicar aos estudos de teologia, o que praticamente exigia um tempo integral devido as muitas leituras, trabalhos, monografias e avaliações. O primeiro semestre de 1987 foi bem produtivo, e eu contava com o apoio de um braço direito para datilografar/digitar meus trabalhos e "cuidar de mim", minha namorada na época, a jovem estudante da FAED (Faculdade Adventista de Educação), Vaurene Ribeiro de Carvalho, a qual foi parceira e amiga até o final da minha faculdade. Lembrando que que os trabalhos da faculdade deveriam ser todos entregues datilografados e que a máquina de escrever mecânica ainda era bem usada, a mais sofisticada que tinha era uma máquina elétrica da IBM, ainda não haviam os computadores, celulares e Internet, e para piorar eu não sabia datilografar.

Nas férias de Julho de 1987 fui colportar em Santo Ângelo, RS. O frio foi muito intenso naquela cidade. Nossa equipe de jovens estudantes colportores ficou alojada numa sala nos fundos da igreja Adventista do Sétimo Dia central, e as irmãs "Dorcas" nos socorreram emprestando cobertas bem quentinhas. Aquelas férias foi muito difícil pra mim e para nossa equipe, porque só podíamos sair para trabalhar depois das 10 horas da manhã devido a geada e o frio intenso. Como os dias eram mais curtos, finalizávamos nosso trabalho por volta das 17:30 horas, pois além de já estar escuro a temperatura caia bastante. Mas graças a Deus, ao final das férias eu havia conseguido novamente o estipêndio para mais um semestre da faculdade do SALT e para pagar o Internato do IAE como aluno regular.

Eu já estava no segundo semestre do segundo ano de teologia, e as exigências da faculdade eram muitas, o que me consumia boa parte do tempo na biblioteca do colégio. Naquela época as pesquisas não eram feitas por meio do Google, ele ainda não existia, não havia Internet e nem computadores de uso pessoal ou celulares, era outro mundo, e no que diz aos estudos também. Para fazer uma pesquisa significativa sobre algum tema tínhamos que ir até a biblioteca no contra turno das aulas, selecionar as referências bibliográficas de autores mais relevantes, o que dava aproximadamente de 20 a 30 livros, os quais deixávamos empilhados ao nosso lado na mesa de estudos. Na medida que líamos íamos anotando em uma ficha as citações sobre o assunto, e após muita leitura, o que podia demorar a tarde toda e até vários dias, anotávamos muitas citações com a devida referência bibliográfica, para posteriormente utilizarmos no processo de escrita do trabalho ou monografia. Foi assim que aprendi a gostar da leitura e dos estudos, bons tempos!

Logo chegou o final do ano e com ele novos desafios na colportagem de férias. Em dezembro de 1987 viajei para a cidade de São Miguel D'Oeste, SC, pra trabalhar na equipe de colportores estudantes nos meses seguintes até final de fevereiro de 1988, liderada pelo amigo e colega de faculdade Volnei Kuhl. Naquele verão, São Miguel D'Oeste estava particularmente quente, fazia muito calor, e me recordo de um final de semana, no dia de domingo, que nossa equipe comeu uma grande "melanciada", patrocinada pelo nosso jovem líder de colportagem Volnei Kuhl para comemorar o aniversário do Jair. Naquelas férias tive dificuldades para conseguir o estipêndio para o semestre da faculdade, de maneira que não vendi o suficiente para pagar o Internato e o curso teológico. Ficou faltando aproximadamente 30% do valor total necessário.

Colportagem em São Miguel D'Oeste - Foto Tirada na Frente da IASD - Dezembro de 1987 a Fevereiro de 1988
Da esquerda para a direita: Claudio Augusto Adão (Atualmente Missionário na África), Jorge N. N. Schemes (Ex-Pastor Ordenado da IASD), Jair Tadeu Machado (Atualmente Pastor Distrital da IASD) e Volnei Kuhl (Ex-Pastor Ordenado da IASD)
 

Quando retornei para o IAE em São Paulo, SP, eu fui pela fé, crendo que de alguma maneira Deus iria prover o que faltava. Era o mês de março de 1988 e as aulas do primeiro semestre do terceiro ano de teologia já haviam começado. Fui até a tesouraria do colégio para explicar minha situação. Eu sempre havia ido lá no início de cada semestre para pagar os meus estudos à vista, mas desta vez eu não tinha condições. O tesoureiro me deu um prazo de uma semana para regularizar minha situação, de maneira que para eu ficar no Internato eu havia recebido um cartão provisório para permanecer no dormitório, me alimentar no refeitório e frequentar as aulas na faculdade de teologia. Aquela semana foi angustiante pra mim. Uma noite eu fui até um jardim que havia na frente do prédio do dormitório masculino, olhei para o céu e fiz a seguinte oração: "Pai de amor, eu fiz a minha parte mas não consegui o suficiente para pagar este semestre, se é da tua vontade que eu continue meus estudos sem interrupção, se é teu plano que eu seja um pastor, eu te peço para prover o que falta, de alguma maneira Senhor, que a tua vontade seja feita, em nome de Jesus amém!" Lembro que após esta oração eu fiquei em paz.

A resposta veio de duas maneiras. Na semana seguinte, soube que havia uma ordem de pagamento em meu nome na agência da Caixa Econômica Federal que ficava dentro do colégio. O valor era exatamente o que eu estava precisando, 30% do valor total do semestre. Era um depósito feito em Lages, SC, por minha avó, Osvaldina Emy da Silva Muniz. Eu não sabia exatamente como ela havia conseguido o dinheiro, que não era pouco. Anos mais tarde fiquei sabendo que minha avó e minha mãe haviam conseguido aquele dinheiro por meio de um empréstimo feito com o irmão Sebastião Souza, meu pai na fé. Minha avó  e minha mãe, costumavam mandar algum dinheiro de vez em quando para mim, mas era apenas para cobrir despesas pessoais, não era muito, mas me ajudava bastante. Até hoje tenho as cartas que recebia delas no colégio, sempre oraram muito por mim e fizeram o que puderam para me ajudar de alguma forma. A estas duas mulheres de fé minha eterna gratidão.

Outra resposta veio após eu ter pagado o semestre com o dinheiro que ganhei na colportagem e mais o dinheiro que minha avó e mãe me mandaram. Cerca de uma semana depois, recebi um telefonema interno da tesouraria do colégio para o dormitório masculino. Quando atendi, me disseram para passar na tesouraria, pois havia chegado uma bolsa de estudos da empresa Golden Cross no valor de 30% do custo total do semestre como aluno interno regular da faculdade de teologia do SALT/IAE. Eu mal podia acreditar. fui correndo até a tesouraria do colégio. Quando cheguei lá o tesoureiro me confirmou o valor da bolsa de estudos, mas me disse que eu não tinha direito em receber a bolsa naquele semestre. Lhe questionei o porquê eu não tinha direito. Ele me disse que como eu já tinha pagado o colégio à vista, eu não tinha direto ao desconto, e que o desconto total de 30% estava garantido para mim até o final da faculdade de teologia. Fiquei triste e inconformado, pois apesar de ter pagado o valor total do semestre eu precisava de dinheiro para minhas despesas pessoais, para comprar livros e tirar cópias de textos referenciados pelos professores. Então lhe perguntei o seguinte: "Senhor Passini,  se o irmão acha que o que está fazendo é justo, então faça!" Diante do que eu disse, o tesoureiro ficou irritado e pegou logo uma calculadora mecânica, digitou várias números e fez uma conta que só ele entendeu. Em seguida me disse para passar na tesouraria e pegar um determinado valor que ele havia posto como resultado final de sua conta. Peguei o papel da mão dele e saí em silêncio em direção ao caixa da tesouraria, o qual me deu o equivalente a 10% dos 30% que eu tinha direito. Desde o fato ocorrido coloquei esta questão nas mãos de Deus confiando em sua justiça. 

O primeiro semestre de 1988 passou rápido e cumpri com todas as minhas obrigações de estudante teologando, com a benção de Deus obtive êxito acadêmico em mais uma etapa do curso de Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas. Lembro que em cada semestre haviam as semanas de oração como parte do calendário escolar da Instituição, e todas elas foram uma benção muito grande. As férias de julho chegaram e com elas mais um desafio de conseguir o estipêndio para continuar meus estudos. Eu estava agradecido a Deus por ter me abençoado com uma bolsa de estudos de 30% vinda da Golden Cross para me ajudar a pagar a faculdade. Apesar de eu não ter recebido o que me era devido no primeiro semestre, eu tinha a promessa do tesoureiro do IAE e a esperança de receber o auxílio no segundo semestre e até o final do curso. Mas eu tinha que colportar para obter os 70% que faltavam.  desta maneira fui colportar com uma equipe de estudantes na cidade de Florianópolis, SC. Mais uma vez Deus proveu o necessário e consegui o dinheiro suficiente para pagar o semestre à vista no IAE/SALT com o desconto tradicional de 10% e mais a bolsa de 30% da Golden Cross.

O segundo semestre de 1988 também passou voando, eu estava feliz por estar concluindo o terceiro ano de teologia. Já não éramos chamados de profetas menores, mas carinhosamente de profetas maiores, termo usado para distinguir entre teologandos primeiranistas e quem já estava na reta final do curso. Muitas disciplinas e respectivos professores me marcaram na faculdade, mas gostaria de fazer menção às aulas de História da Igreja Cristã, Arqueologia Bíblica, Grego, Hebraico e Teologia Sistemática, pois foram as que mais gostei. Também lembro dos estágios que tínhamos que fazer nas igrejas. A igreja onde fiz meu estágio pela Missão Iaense foi a do Jardim Pirajussara. Também lembro muito bem das campanhas da Recolta e das atividades promovidas pelo SALT como cursos, seminários, palestras e viagens, como a que ocorreu à Casa Publicadora Brasileira (CPB). Como teologandos tivemos a experiência da direção de classes da escola sabatina e da ordenação ao diaconato na igreja do IAE, sob a coordenação do professor Alberto Ronald Timm. 

Ao concluir o terceiro ano do teológico, mais um desafio estava diante de mim, o de garantir que eu teria o dinheiro suficiente para estudar o último ano do curso. De fato, todo o dinheiro que eu ganhava na colportagem e o pouco que minha mãe e avó às vezes mandavam para minhas despesas pessoais era bem utilizado.  Registro aqui o fato de que o dinheiro que minha avó Osvaldina Emy da Silva Muniz me mandava de vez em quando era o que ela ganhava com a venda de chinelos de pano que ela mesmo fazia com suas mãos numa velha máquina de costura. Eu sabia dar valor e quase não comprava roupas nem sapatos, eu mesmo costurava minhas roupas quando precisava, pois minha mãe Miriam Aparecida Neto Schemes havia me ensinado antes de sair de casa, eu também mandava consertar os sapatos numa sapataria, porque eu utilizava o dinheiro para comprar livros na área de teologia, inclusive algumas coleções que eram bem caras para minhas condições financeiras. Foi desta forma que fui organizando e montando uma biblioteca particular para estudos e pesquisas teológicas, que até o final da faculdade culminou em mais de 700 volumes de livros.

Nossa turma do curso de teologia, a turma de 1989, ficou muito mais unida nos últimos dois anos do curso. A ponto de fazermos uma festinha para comemorar o fim de cada semestre. Além do comes e bebes tradicional, organizávamos um programa humorístico, com um jornal de notícias de fatos que haviam acontecido com a turma e os professores naquele semestre. Havia também um momento de imitação de alguns professores, seus trejeitos, bordões e manias. Era muito divertido porque todos os professores também vinham para assistir. Eu imitava com uma certa maestria a fala e os gestos do saudoso professor de arqueologia Dr Siegfried Júlio Schwantes. A galera morria de rir, e o próprio Schwantes também. Lembro uma vez que ele veio conversar comigo e me dar os parabéns após eu imitá-lo. Era muito divertido. Nossa turma comenta até hoje (Agosto de 2019), em nosso grupo no WhatsApp, o famoso bordão do professor Schwantes nas aulas de arquelogia bíblica: "A cabra é uma animal terrível, come tudo que vê pela frente"!

As férias de dezembro de 1988 a janeiro e fevereiro de 1989 haviam chegado. Novamente fui colportar em equipe na cidade de Florianópolis, SC. Essas seriam minhas penúltimas férias como colportor estudante. Eu dependia do dinheiro da colportagem para pagar os 70% do valor do semestre como estudante regular. Mais uma vez declarei: "Deus proverá!" E foi o que ocorreu. Com muito trabalho, fé e oração, consegui o estipêndio no final das férias e pude voltar ao colégio pronto para mais um semestre, o qual paguei à vista com os devidos descontos de 10% para quem pagava à vista e mais 30% da bolsa de estudos que a Golden Cross havia me concedido. Todavia, o quarto ano de teologia foi marcante para mim por três grandes razões. 

A primeira razão foi o fato de que comecei a lecionar à noite numa escola na periferia da zona sul de São Paulo, SP, onde ficava localizado o IAE, mais exatamente em Itapecerica da Serra, na Escola Pública Estadual Joaquim Fernando Paes de Barros Neto. Lembro que eu pegava o coletivo lotado no final da tarde para ir dar minhas aulas e voltava à noite chegando tarde no IAE. Ao chegar na guarita do colégio o vigia só me dizia para correr até o dormitório masculino, pois eu tinha o risco de ser mordido pelos pastores alemães que ficavam soltos no colégio depois das 23 horas. Lecionei por nove meses no ano de 1989 nesta escola, graças a indicação de um amigo e colega de curso no teológico, meu primo segundo Paulo Rojaime da Silva, que atualmente é pastor da IASD. Ele estava indo para a Inglaterra e passou a sua vaga naquela escola para mim. Foi uma experiência diferente e única lecionar para alunos do Ensino Fundamental e da EJA (Educação de Jovens e Adultos) a disciplina de Inglês. Gostei e me identifiquei com a experiência de professor, me saí muito bem em sala de aula para quem não tinha formação específica na área da educação. O salário que eu ganhava como professor ACT (Admitido em Caráter Temporário) me ajudou muito a pagar minhas despesas com a formatura. Graças a este emprego pude comprar um terno novo, camisa, gravata e sapatos para a formatura, além de pagar o álbum de fotos e a filmagem, que infelizmente se perdeu com o mofo porque era feita em fita VHS (Fita de Vídeo Cassete).  Esta foi minha primeira experiência como educador, mas eu não sabia e não imaginava que não seria a última, porque até hoje (2019) minhas atividades profissionais giram em torno da educação.

A segunda razão foi que em maio de 1989 eu fui fazer minha primeira semana de oração como estudante do quarto ano de teologia, eu estava com 22 anos de idade. A cidade selecionada para mim foi São Bento do Sul no Estado de Santa Catarina, meu campo de origem. Essa semana de oração fazia parte das atividades acadêmicas do curso, e todos os alunos quartoanistas deviam participar. Era uma semana em que as Associações e Missões poderiam conhecer um pouco mais os seus candidatos a um chamado para trabalhar na obra após a conclusão do curso teológico. Desta maneira, quando chegou a data estabelecida fiz minha mala e viajei de ônibus até a cidade de São Bento do Sul, SC. Lembro que o irmão Marcelino foi me buscar na rodoviária. Marcelino era um membro da igreja central de São Bento do Sul, mas morava no interior, em um sítio onde sua família composta por sua esposa e quatro filhos, um rapaz, uma moça e duas crianças que juntos cuidavam de uma pequena propriedade rural. Cheguei na casa deles numa sexta feira a tarde. Logo começou o pôr do sol e com ele o santo sábado do Senhor, como era inverno escurecia cedo. A família entrou nas horas do sábado concluindo suas atividades com o cuidado com os animais até que tudo estava pronto. Após os devidos banhos foi servido um jantar mais ou menos as nove horas da noite. Fizemos o culto, hinos de louvor a Deus, leitura da Bíblia e oração. Como todos estavam muito cansados inclusive eu, fomos dormir cedo. Eu fui levado até um quarto amplo, com uma cama, uma penteadeira com balcão e espelho e um lustre enorme de porcelana no qual estava pendurada uma lâmpada. Havia uma janela no quarto com cortinas, mas estava bem fechada. O clima era de inverno, estava fazendo frio. Eu podia ouvir o barulho dos grilos cantando lá fora. Eu estava sentado em cima da cama, encostado na cabeceira, lendo a Bíblia, recapitulando meu sermão e estudando a Lição da Escola Sabatina. No sábado de manhã eu iria passar a lição numa das classes e fazer o meu primeiro sermão da minha primeira semana de oração. As horas passaram rapidamente, quando me dei conta já era mais de meia noite. Todos na casa estavam dormindo fazia um bom tempo. A casa era uma construção de madeira com um sótão, o que é bem comum na região. Tudo estava em absoluto silêncio, quando de repente escutei um barulho de vidro estalando, como se fosse um som de "plim" num cristal. Eu estava de cabeça baixa lendo a Bíblia e quando levantei para ver o que era, vi o lustre de porcelana que estava pendurado por um fio balançando de um lado para o outro do quarto. 

Confesso que a princípio fiquei sem saber o que pensar, mas logo percebi que eu estava diante de uma força sobrenatural negativa, pois eu podia sentir a presença no quarto, o clima ficou pesado, ruim e eu sentia uns arrepios pelo corpo e uma sensação de opressão. O medo quis tomar conta de mim e pensei em sair do quarto e acordar todos meus hóspedes para juntos orarmos. Mas logo voltei meu pensamento para Jesus, me ajoelhei em cima da cama mesmo e orei em voz alta. Após meu clamor a Deus por livramento da presença do mal, ainda ajoelhado e em espírito de oração, eu recitei em voz alta o Salmo 91. Devido as minhas constantes lutas espirituais contra a presença de forças demoníacas em minha adolescência, eu acabei decorando o Salmo 91, e posteriormente os Salmos 01, 23 e 121, os quais eu sei de cor até hoje. Também decorei o texto de Isaías 52:13 a 53:12 que fala do sacrifício do Servo Sofredor, o Messias, o Senhor Jesus. Recordo que enquanto eu recitava o Salmo 91 em voz alta, verso por verso, parecia que ao redor de mim havia uma tormenta, um redemoinho, e eu estava no meio, sem sofrer nenhum dano, sem ser tocado. Pude sentir de perto o poder que a fé na Palavra de Deus tem contra as forças do mal. 

Em seguida sentei na cama onde estava sentado lendo a Bíblia recostado na cabeceira. Pensei o que poderia fazer e decidi ir até o lustre e segurá-lo para parar de ficar balançando e foi justamente isso que eu fiz. Após fazer o lustre para de balançar, desliguei a luz e voltei para a cama. Após eu me cobrir com as cobertas porque era início de inverno e fazia muito frio em São Bento do Sul, SC, eu fiquei em estado de oração ou como costumo dizer, em espírito de oração, com meus pensamentos fixos em Deus, na sua bondade, amor, graça e misericórdia. Eu estava falando com Jesus em pensamentos e louvando e agradecendo a Deus por ter ouvido e atendido minhas orações e me livrado do mal, quando senti as cobertas literalmente afundarem em cima de mim, como se algo estivesse querendo me  oprimir. Pensei em me ajoelhar novamente para fazer mais uma oração, porém eu já estava esgotado, cansado e precisava dormir para descansar para as atividades do sábado. Desta forma, decidi que continuaria louvando e agradecendo a Deus por ter ouvido e atendido minhas súplicas e foi assim, falando com Deus, que adormeci profundamente e acordei só pela manhã. Alguns anos mais tarde, em 1998, relatei essa experiência como testemunho do poder do Salmo 91 no informativo da editora ADOS, conforme segue abaixo:


No sábado de manhã participei de uma classe da escola sabatina dirigindo o estudo da lição. Em seguida, no culto divino fiz meu primeiro sermão na igreja de São Bento do Sul, SC. O tema da minha primeira semana de oração era: "Mais Semelhante a Jesus". O hino oficial da semana de oração tinha o mesmo título, como segue abaixo:


Mais semelhante a Jesus
É o que mais eu desejo na vida
Mais semelhante a Jesus
É a vontade sincera nascida em meu ser
Mais semelhante a Jesus
É o ponto de minha partida
Para ter nessa vida alegria e poder
Quero ser mais semelhante a Jesus

Mais semelhante a Jesus
É a mensagem ganhada e vivida
Mais semelhante a Jesus
É a vontade contida de sempre louvar
Mais semelhante a Jesus
É o alvo de minha corrida
Para ter nessa vida alegria e poder
Quero ser mais semelhante a Jesus

Mais semelhante a Jesus
É a minha comida e bebida
Mais semelhante a Jesus
É a vontade acolhida no meu coração
Mais semelhante a Jesus
É a certeza da luta vencida
Para ter nessa vida alegria e poder
Quero ser mais semelhante a Jesus

Como estudante de teologia no SALT/IAE eu gostava muito da disciplina de Cristologia, e como consequência meus sermões sempre foram cristocêntricos. Naquela manhã de sábado e durante todas as noites daquela semana, por oito dias, eu preguei sobre Jesus, seu amor, seu perdão e sua graça. Após o culto, uma família que morava na região central da cidade veio conversar comigo. Não me recordo mais o nome daquela família, mas me trataram como um filho e me fizeram o convite para me hospedar com eles em sua casa, porque eu havia falado no culto da minha intenção de visitar os membros durante a semana no período diurno. Eu aceitei o convite, porque para mim ficaria bem melhor, uma vez que a o irmão Marcelino morava praticamente no sítio, afastado da cidade e a maioria dos membros moravam na região central de São Bento do Sul, e além do mais eu não tinha carro e teria que visitar os irmãos à pé. Após o almoço na casa do irmão Marcelino fiz minha mala e expliquei a situação à sua família, agradeci a hospedagem em sua casa e no meio da tarde de sábado fui para a igreja de caminhoneta com os dois filhos mais velhos do irmão Marcelino, pois haveria uma programação JA (Jovens Adventistas). Após a programação que acabou no pôr do sol de sábado, fui levado para a casa daquela família que havia me convidado para me hospedar com eles, e os filhos do irmão Marcelino voltaram pra casa deles. 

Aconteceu que no meio da noite, na madrugada de sábado, quando todos já estavam dormindo na casa dessa família que me acolheu, fui acordado com batidas na porta do quarto onde eu estava dormindo. Era o dono da casa, que com o rosto preocupado me disse que os filhos do irmão Marcelino tinham sofrido um acidente de trânsito na rodovia em direção ao sítio onde moravam. Aqueles irmão me disse que um carro havia batido de frente na caminhoneta onde estavam os filhos do irmão Marcelino. Os dois, o rapaz e a moça, estavam no hospital da cidade em estado crítico. Após me arrumar e fazer uma oração, naquela mesma noite fui junto com aquele irmão ao hospital visitar os dois jovens. Eles estavam conscientes, mas bem machucados e com vários cortes pelo corpo e hematomas no rosto. Eles me contaram como foi o acidente. Disseram que um carro em alta velocidade invadiu a pista contrária e simplesmente veio pra cima deles. Contaram ainda que o guarda da polícia rodoviária lhes disse que deveriam dar graças a Deus por estarem vivos, e que se tivesse mais alguém com eles na caminhoneta alguém teria morrido com certeza. Era para eu estar com eles naquela noite, mas Jesus me protegeu mais uma vez contra as forças das trevas por meio da sua providência e também guardou a vida daqueles jovens irmãos. 

Aquela semana de oração foi muito abençoada. Durante o dia fiz as minhas visitas à casa dos irmãos e pude constatar que algumas famílias da igreja estavam passando por crises espirituais, crises financeiras e problemas no casamento. Orei junto com os irmãos na casa deles e durante todas as noites daquela semana compartilhamos nosso amor e fé em Jesus. Posso afirmar que para mim aquela semana de oração foi uma grande benção, e creio que na vida de cada um daqueles irmãos possa ter sido também. Ao final daquela semana de oração, se não me falha a memória no último dia, que foi no sábado pela manhã, tive a honra de ter como ouvinte do meu sermão o pastor Nelson Wolf que na época era secretário da Associação Catarinense da IASD. Após o culto o pastor Nelson veio conversar comigo e me garantiu o chamado para a obra de Deus em Florianópolis, SC, assim que eu terminasse a faculdade de teologia para atuar como capelão e professor de Bíblia em duas escolas adventistas, ao que prontamente aceitei e agradeci. Desta maneira, no mês de maio de 1989 eu já tinha um chamado garantido para trabalhar na obra de Deus a partir de 1990. A seguir algumas fotos que tirei naquela semana de maio de 1989 em São Bento do Sul, SC.


Da esquerda para a direita: Filho do irmão Marcelino com irmãzinha no colo, sua filha mais velha, Teologando Jorge N. N. Schemes, irmão Marcelino, sua esposa com outra filha no colo. Foto tirada no sábado à tarde antes do acidente com os dois filhos mais velhos do irmão Marcelino na caminhoneta, ao fundo.



Irmãos em Cristo que me acolheram em sua casa no centro de São Bento do Sul, SC, Família Anis

Eu com dois netos do irmão Leopoldo Anis e da irmã Elvira Anis. Filhos do casal Leonar e Lídia.

Em 10 de Outubro de 2020 recebi a seguinte contribuição de um leitor desse blog: 

"Olá Jorge, fomos contemporâneos no IAE, pois estudei Teologia de agosto de 1984 a dezembro de 1987, e participei da formatura em dezembro de 1988. Cruzávamos pelos corredores do SALT e pelas alamedas do colégio. Em 1988 iniciei a faculdade de letras na USP ao mesmo tempo em que Trabalhava no IAE como professor de línguas. Em 1993, fui indicado por um professor da USP para trabalhar em uma escola internacional em SP e me desliguei definitivamente do IAE. Li com muito interesse sua história e gostaria de contribuir com uma informação: a família de São Bento do Sul que o hospedou na cidade durante sua semana de oração em São Bento do Sul era a do Sr. Leopoldo Anis e sua esposa, Elvira Anis, que na foto estão acompanhados pelo filho Leonar e pela esposa Lídia, que segura um dos filhos do casal. Minha esposa é de Mafra, e ao ver a foto reconheceu o Sr. Leopoldo, que é primo da família dela, os Schunemann. 
Que o Senhor o abençoe e guarde".



Foto tirada na hora do culto de sábado na igreja de São Bento do Sul, SC. Pregador: Teologando Jorge N. N. Schemes.



Alguns irmãos em Jesus na saída do culto de sábado de manhã na igreja de São Bento do Sul, SC.



 Teologando Jorge N. N. Schemes no centro da cidade de São Bento do Sul, SC.


Visão parcial do centro da cidade de São Bento do Sul, SC, Maio de 1989.

Após o término da minha primeira semana de oração como estudante de teologia, retornei ao colégio interno, o IAE, Instituto Adventista de Ensino em São Paulo, SP. O ano de 1989 era o meu último ano lá,  e eu precisava obter sucesso em meus estudos na faculdade de teologia, nos estágios e nas minhas últimas férias como colportor estudante, as quais foram em Julho de 1989. Aquele primeiro semestre de 1989 passou rápido e logo chegaram as férias, e junto com elas o desafio de conseguir o dinheiro necessário para pagar o último semestre do Internato e da faculdade de teologia. Eu foi colportar numa equipe de estudantes colportores na cidade de Erechim, RS. Equipe liderada pelo colega de curso e amigo Volnei Kuhl. Ao final das férias Deus havia provido mais uma vez o que eu precisa, de sorte que ao chegar no colégio paguei tudo à vista, com o tradicional desconto de 10% e mais a bolsa de 30% que eu havia recebido da Golden Cross. 

As férias de julho de 1989 marcaram o final da minha participação na colportagem estudantil. Eu havia colportado um total de 14 férias, nas quais pude servir ao Senhor realizando "a obra daquele outro anjo". Durante estas 14 férias o Senhor Jesus havia me conduzido e abençoado na venda de inúmeras publicações da CPB (Casa Publicadora Brasileira). Tenho uma dívida de gratidão à IASD e à CPB por ter me propiciado a oportunidade de participar deste importante ministério por vários anos em minha juventude. A obra da colportagem foi uma segunda escola para mim, aprendi muitas coisas práticas importantes para a vida, tais como: me comunicar melhor, conhecer melhor a natureza humana por meio de uma psicologia prática, gostar de boa leitura, economizar, dar valor à família e aos amigos, saber esperar, ter paciência, saber ouvir as pessoas e sobre a importância de testemunhar de Jesus. Durante os anos de 1982 a 1989 vendi muitos livros e revistas da CPB como se fossem "folhas de outono", dentre eles cito alguns: Vida de Jesus; O Grande Conflito; O Desejado de Todas as Nações; O Despontar de Uma Nova Era; Colunas do Caráter; A Cura e a Saúde Pelos Alimentos; A Ilusão das Drogas; O Drama do Alcoolismo; Caminho a Cristo; Fumar: Distrai ou Destrói?; Forças Misteriosas Que Atuam Sobre a Mente Humana; dentre outros livros e livretos. As revistas que mais vendi foram: Decisão; Mocidade; Atalaia; Nosso Amiguinho; Vida e Saúde, bem como inúmeros folhetos distribuídos gratuitamente. Espero e oro ao Senhor até hoje, para que as centenas e talvez milhares de publicações que vendi e distribuí, como sementes lançadas na terra, possam  ter produzido algum fruto para o Reino de Deus. Lembro de uma livro que vendi para uma vizinha da minha avó, a dona Zizi, como era carinhosamente chamada na vizinhança. Dona Zizi acompanhou toda minha infância e adolescência, praticamente me viu crescer. Ela era fumante fazia mais de trinta anos e fumava em média duas carteiras de cigarro por dia. Quando ela comprou o livro "Fumar: Distrai ou Destrói?" ela duvidou de sua eficácia, ela dizia que não podia ficar sem fumar um único dia, porque ficava muito tonta e com ânsia de vômito. Após fazer os cinco dias de desintoxicação tabágica sugerida naquela obra, dona Zizi nunca mais colocou um cigarro na boca, mesmo convivendo na própria casa com o esposo e filhos que continuaram fumando. Seu esposo infelizmente faleceu de enfisema pulmonar, mas dona Zizi recuperou completamente seu fôlego e sua saúde. Um dia ela disse para minha avó: "Dona Didi (como era conhecida minha avó Osvaldina), eu tive que esperar este menino crescer (se referindo a mim), para me vender um livro para eu deixar de fumar!"

Como já escrevi, o quarto ano de teologia foi marcante para mim por três grandes razões, e a terceira razão foi a morte da minha mãe. Naquelas férias eu havia terminado de colportar mais cedo e retornado para o colégio uma semana antes do início das aulas, que seria no mês de agosto de 1989. Antes de retornar para o colégio eu havia passado em minha casa para visitar meus familiares: Minha avó Osvaldina, minha mãe Miriam, meu irmãozinho André, meu tio Nelson. Eu tinha passado alguns dias com minha família, e nunca imaginava que em relação à minha mãe Miriam seriam os últimos dias que eu estaria com ela. Eu tinha chegado no IAE fazia apenas dois dias quando recebi um chamado da preceptoria para atender uma ligação telefônica urgente. Fui até o dormitório do Ensino Médio para atender a ligação. Ao atender era minha mãe vó Osvaldina de Lages, SC, que me deu a terrível notícia do falecimento de sua filha Miriam, minha mãe. Eu fiquei em estado de choque, porque há dois ou três dias atrás eu tinha estado ao seu lado e estava tudo bem. Sem saber o que fazer ao certo, liguei para minha namorada e amiga Vaurene Ribeiro de Carvalho, a qual não apenas me confortou, mas se dispôs a viajar comigo de volta para Lages, SC. Vaurene foi um verdadeiro anjo em minha vida, e a ela eu tenho uma dívida de gratidão por tudo que fez por mim. 

Naquela mesma noite eu tinha que ir rápido para o terminal rodoviário do Tietê pegar o primeiro ônibus que pudesse para minha cidade natal, a fim de chegar a tempo para o sepultamento da minha mãe. Quando chegamos em Lages, SC, faltava apenas três horas para que o corpo da minha mãe fosse sepultado. Minha mãe faleceu no dia 27 de julho de 1989. Ela tinha sido uma grande apoiadora em meus estudos e o que ela mais queria era ir em minha formatura de teologia. O sofrimento dos meus familiares, da minha avó materna e de maneira especial do meu irmãozinho André, que era muito apegado a ela e na época estava com 13 anos de idade, também me causaram preocupação e cheguei a cogitar a possibilidade de trancar a matrícula por um semestre para ficar junto deles. Mas após os serviços fúnebres minha avó veio conversar comigo e disse que era pra eu retornar para o colégio e terminar a faculdade, porque essa era a vontade da minha mãe, e era também a sua vontade. A seguir, a última foto que tirei com minha mãe antes do seu falecimento.

Vaurene Ribeiro de Carvalho (Minha jovem namorada na época), Jorge N. N. Schemes (Teologando do SALT/IAE) e Miriam Aparecida Neto Schemes (Minha preciosa e saudosa mãe)

Fiquei alguns dias com meus familiares após o sepultamento da minha mãe. A morte inesperada dela marcou profundamente minha trajetória final como estudante no curso de teologia. Foi muito difícil voltar para estudar o último semestre. Mas eu busquei em Deus, em seu amor e na Sua graça, forças para concluir meus estudos. Voltei para o IAE em agosto, as aulas já tinham começado fazia uma semana, e eu não falei pra ninguém o que havia acontecido. Eu estava muito triste. Eu estava diferente no colégio, estava pensativo, fechado, reflexivo, em luto. Muitas vezes acordava de noite para orar e chorar. Algumas vezes me pagava chorando pelos cantos. Alguns colegas de quarto ficavam sem entender e apenas perguntavam se estava tudo bem. Muitas vezes quando tinha que ler e estudar eu deixava cair lágrimas de dor, luto e saudade sobre as páginas. Alguns colegas começaram a me rotular de problemático, desequilibrado e inconstante. Creio que alguns têm essa imagem de mim até hoje. Mas eles não sabiam que eu estava sofrendo a perda da minha mãe às vésperas da minha formatura.

Até hoje, com a idade atual de 54 anos em julho de 2021, eu sinto saudades da minha mãe. No dia 27 de julho de 2021 escrevi o seguinte texto e o publiquei em meu Facebook com uma foto nossa:

"Hoje faz 32 anos que você descansou das tuas lutas, e faz 32 anos que deixou essa saudade em meu coração. Foi no dia 27 de julho de 1989 que recebi a mais triste notícia que um filho pode receber, mas a tua morte não foi em vão minha mãe Miriam Aparecida Neto Schemes. Porque agora mesmo, ao cuidar da minha filhinha Victoria de 4 aninhos ao colocá-la para dormir, e cantar os mesmos hinos que você cantava para mim quando eu era criança, eu lembrei de você e pude sentir o teu carinho e o teu amor. Lindo és meu Mestre; Vestido em Linho; Vou contar-vos o que penso de meu Mestre; e Meu caminho ponho em Suas mãos eram as canções que eu mais gostava de ouvir com a sua voz doce e delicada, quando sentava na beirada da minha cama e cantava para mim antes de eu dormir. Obrigado por me ensinar a amar a Jesus! Hoje, com 54 anos de idade, e com a experiência de vida que tenho, eu seria um filho melhor do que eu fui. Contudo, graças ao seu exemplo de fé eu tento ser um homem melhor a cada dia. Minha mãe, descanse em paz, sabendo que sua voz melodiosa ainda ecoa em minha alma! Obrigado mãe, pelo seu exemplo, pelas suas palavras, conselhos e canções. O amor jamais acaba!"

Jorge Nazareno Neto Schemes no colo de sua jovem mãe Miriam Aparecida Neto Schemes
(Foto melhorada e colorida por aplicativo pelo meu irmão André Ângelo)

No último semestre de 1989 continuei lecionado à noite. Eu tinha aulas na faculdade pela manhã, à tarde passava horas na biblioteca lendo, pesquisando e fazendo os trabalhos exigidos pelos nossos Mestres, Doutores e Pós Doutores em teologia. Logo chegou o mês de novembro e o período dos temidos exames finais. Naquele tempo a gente tinha que estudar muito para passar nas provas e exames, pois eram todos sem consulta, à moda tradicional. Lembro que eu chegava a estudar mais de 20 horas para fazer um exame final. Não esqueço de um exame que fiz de Grego com o professor Pedro Apolinário. Eu havia estudado tanto, acho que deu mais de 23 horas de estudo, que no dia da prova eu não lembrava de nada, deu o famoso branco. Recordo que entreguei a prova em branco e expliquei a situação para o professor. Depois fui até a casa dele e pedi mais uma chance para fazer novamente o exame. Ele foi muito compreensivo comigo e me disse para eu relaxar, fazer alguma atividade física e que marcaria outro dia para eu fazer a prova. No dia marcado fui fazer o exame e graças a Deus tirei uma ótima nota. Coisas de estudante. 

Quando terminamos a semana de exames finais, o final do mês de novembro chegou e com ele a tão sonhada formatura. Deus havia me abençoado grandemente durante aqueles quatro anos no IAE. Eu estava profundamente grato. Minha graduação em teologia foi com honra, conforme consta no meu histórico escolar da faculdade.  Mas apesar de tudo, meu coração estava dividido entre a felicidade da conquista final e a perda da minha mãe quatro meses antes. Minha formatura em teologia foi uma mistura de sentimentos, choro de alegria e de saudade porque eu ainda estava em luto. Lembro daquele final de semana como se fosse hoje. Primeiro tivemos um culto de ação de graças na sexta feira à noite na igreja do IAE, foi no dia 24 de novembro de 1989, tendo como orador nosso professor o Pr Orlando Ruben Ritter, no dia 25 de novembro de 1989 no sábado pela manhã, também na igreja do IAE, houve um culto de consagração dos formandos, o orador foi o Pr George Akers, e no domingo de manhã, no dia 26 de novembro de 1989 foi a colação de grau no templo do colégio, cujo orador foi nosso professor o Pr José Maria Barbosa. Eu estava feliz porque algumas pessoas importantes para mim foram em minha formatura, ou seja: Osvaldina Emy da Silva Muniz, minha avó materna. Sebastião Souza, meu irmão em Cristo e pai na fé. Rute Muniz e Alexandre Marques, respectivamente minha tia que era irmã da minha mãe, e meu primo. Vaurene Ribeiro de Carvalho, minha namorada na época, e o Pr Wandir Pires de Araújo e sua esposa Clarice, aos quais tenho uma dívida de gratidão por terem hospedado meus familiares em sua casa durante minha formatura. 

Minha formatura foi uma verdadeira festa espiritual. Houve programações na igreja do IAE no culto de sexta feira à noite, no culto de sábado pela manhã e culminou com a colação de grau no domingo pela manhã. Eu estava feliz e ainda em luto pela morte prematura da minha mãe. Eu não apenas estava realizando um sonho pessoal, mas um sonho de minha mãe, eu perseverei até o fim do curso apesar das dificuldades emocionais em honra a ela e em sua memória também. Foram quatro anos de muito estudo e dedicação acadêmica. Foram quatro anos de muito empenho nas férias como colportor estudante. Foram quatro anos de muito aprendizado. Foram quatro anos de muitas amizades. Foram quatro anos de crescimento pessoal e espiritual. Foram quatro anos de preparo para o sagrado ministério. Posso afirmar que foram os melhores quatro anos das diferentes fases que passei em minha história de vida. 

Expresso aqui minha profunda e eterna gratidão por eu ter tido estas oportunidades e experiências em minha vida. Oportunidades e experiências que sem o apoio institucional da IASD não seriam possíveis. Minha ida para o SALT/IAE em 1986 mudou para sempre minha história de vida, foi um marco decisivo que influenciou toda minha vida pessoal, minha experiência como pastor, capelão escolar e professor de Bíblia. Influenciou também minha trajetória profissional após eu sair do ministério evangélico, e me forneceu suporte para o que sou hoje. Sendo assim, expresso minha gratidão a todos que tiveram participação direta ou indireta no meu sucesso. Primeiramente minha gratidão a Deus que sempre proveu o suficiente; Minha gratidão às minhas duas mães: Miriam e Osvaldina, por suas orações e sacrifícios; Minha gratidão à Vaurene, companheira e amiga leal durante todo o curso de teologia; Minha gratidão à Igreja Adventista do Sétimo Dia, pelo suporte espiritual e profissional; Minha gratidão à Casa Publicadora Brasileira, por ceder os livros da colportagem em consignação e dar apoio e suporte; Minha gratidão aos meus professores de teologia, mestres, doutores e pós doutores que ensinaram com dedicação e amor; Minha gratidão à Golden Cross, por me conceder um bolsa de 30% no terceiro e no quarto ano da faculdade; Minha gratidão aos amigos e colegas do curso teológico, pela amizade que perdura até hoje e pela união cristã como irmãos em Cristo; Minha gratidão aos membros da igreja que me acolheram e ajudaram durante as férias escolares de colportagem em cada cidade por onde passei; Minha gratidão a cada pessoa que comprou os livros que eu vendia como colportor estudante e acreditou em mim. A Jesus toda honra, glória e louvor eternamente!

A seguir alguns documentos comprobatórios e recordações do período que estudei no SALT/IAE nos anos de 1986 a 1989.

68ª Turma de formandos em Teologia pelo SALT/IAE

Em 1989 foram formados 59 alunos da Faculdade Adventista de Teologia. Os nomes dos formandos são os seguintes em ordem alfabética conforme a titulação.

Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas (Grego e Hebraico):
Adilson da Cruz Ferreira; Alexandre Fontana de Barros; Amazias Aduviri Marca; Antonio Lima Corrêa Júnior; Carlos Cesar Fernandes; Cláudio Milton Custódio; Denison Andrade Moura; Dilermando Costa Lemos; Elieder Francisco da Silva; Gerson Gomes de Arruda; Gilson Oséias Montin; Günther Marvin Vallauer; Heraldo Vander Lopes; Itanael Miranda; Jeremias de Souza Silva; Jonas Caetano Moreira Júnior; Jorge Nazareno Neto Schemes; Josias Ferreira da Fonseca; Laedis Sebastião da Cunha; Lúcio Pereira de Souza; Luis Henrique Souza; Marcos de Souza Cavalcante; Mateus Tsutomu Nanbu; Moisés Lopes Sanches Júnior; Moisés Manir Sarquis; Paulo Raimundo Carneiro; Paulo Roberto Vieira; Raimunda Augusta de Albuquerque; Silvestre José do Nascimento Filho; Vilandir Ismael Gonçalves do Nascimento; Volnei Kuhl.

Bacharel em Teologia Pastoral:
Ademilson da Silva Cordeiro; Arno Voos; Carlos Augusto Benigno da Silva; Carlos Fernando de Almeida Thober; Carlos Cezar Fernandes; Cícero Ferreira Gama; Éder Soares; Edilson Leite; Elieser Canto Vargas;  Eliseu Soares de Moraes; Erton Carlos Köhler; Esmeraldo de Alcântara; Gemma Dall'Ó Pagoncelli; Gessimar lucas Salvador; Gilsemberg Pereira de Araújo; Gilmar Zukowski; Jacob de Oliveira Pinto; Jasoney Souto de Queiroz; Joni Airton Aguilar Netz; Luis Carlos Reis; Matusalém Ferreira Santana; Osi Carvalho; Paulo Juarez Amador dos Reis; Raimunda Augusta de Albuquerque; Reynaldo Coutinho Oliveira; Tércio Reginaldo Teixeira Marques; Valduir Bueno dos Santos; Vilson Thomé; Wagner da Silva Vieira; Walter Corrêa do Prado.

Bacharel em Teologia Educação Religiosa:
Ronaldo Souza Monteiro.

Instrutora Bíblica:
Maria Célia Pontes Cavalcante.
 
Capa e lema do convite de formatura em Teologia dos bacharelandos de 1989



 Capa do Diploma de Graduação
Diploma
 Histórico da Faculdade

Culto de Ação de Graças e Formatura em Teologia pelo SALT/IAE - 1989 

Lembranças da Turma de Teologia do SALT/IAE - 1986 a 1989
Carpe Diem. Tempus Fugit!

Uma coisa que minha turma gostava de fazer eram as festinhas de confraternização aos finais de cada semestre do curso de teologia, especialmente nos últimos anos, envolvendo também nossos professores. Lembro que pelo menos em duas delas eu fui convidado pelos colegas para imitar nosso professor de arqueologia, uma verdadeira sumidade no assunto. Entre línguas existentes e extintas, esse professor tinha o domínio de 20 idiomas. Entre elas, árabe, hieróglifo, acádio, aramaico, siríaco, cuneiforme, esperanto, latim e grego. Ele era convidado a lecionar nos cinco continentes do planeta Terra, também foi professor de matemática, física, química e latim. Além de atuar como pastor da IASD. Estou falando do pastor e professor Dr e PhD Siegfried Júlio Schwantes. Esse professor foi minha inspiração em muitos aspectos do meu ministério pastoral. A seguir um vídeo da nossa turma em momentos de descontração no qual estou imitando o Dr Siegfried Júlio Schwantes, sendo possível vê-lo chorar de tanto rir. E na continuação outros momentos com meus colegas de turma e professores.


A seguir mais vídeos da 69ª Turma de Teologia do SALT/IAE no período de 1986 a 1989




3 comentários:

  1. A família que o hospedou na cidade de São Bento do Sul foi a do Sr. Leopoldo Anis e Elvira Anis, pais de Leonar Anis, que está ao lado de sua esposa Lídia, que segura uma criança no colo.

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    1. Paz em Jesus!
      Muito obrigado por essa valiosa contribuição. Vou adicionar essa informação ao texto. Essa família me acolheu muito bem e foram muito gentis comigo. Demonstraram o amor de Jesus ao me hospedar.
      O Senhor te abençoe e te guarde;
      O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;
      O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
      Assim porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.Números 6:24-27

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    2. Irmão, eu li sua história, senti muita dor,esses homens que fizeram você sofrer pagará pelos que fizeram, mas nuca desista da fé, a igreja Adventista do sétimo dia , na sua maioria não compactua com esse tipo de líderes corruptos, lembra o tanto Cristo ti ama Ele já está voltando fique firme.

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Paz em Jesus!!!
Obrigado pela sua participação, que o Senhor o(a) abençoe e guarde!
Cordialmente,
Jorge Schemes

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