O Grande Conflito em Nossa Vida:

"Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim [...]." Efésios 6:10-19

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

7º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Vida Adulta - Dos 32 anos aos 43 anos de Vida - Experiência Fora do Pastorado e Fora da IASD

Após minha trágica saída do ministério pastoral da IASD eu passei por um período de muito sofrimento emocional. Os meses que se seguiram após a data de maio de 1998 foram meses de indescritível angústia e tristeza para mim, para minha esposa à época, e para os meus familiares, principalmente minha avó materna Osvaldina Emy da Silva Muniz, devido a sua idade e problemas de saúde renal, pois ela fazia hemodiálise e posteriormente recebeu um transplante de rim. Muitas vezes conversei com minha avó em lágrimas e desabafei minha decepção pelo ocorrido. Me doía o coração ao ver minha avó chorando comigo sem poder fazer nada. Acredito que ela sofreu mais do que eu, pois nós dois sabíamos tudo que tínhamos passado e investido para que meu sonho de ser um pastor da IASD pudesse ter se tornado realidade em 1989. Minha querida e saudosa avó, a dona Didi, como era carinhosamente conhecida e chamada, mesmo doente e sofrendo, tentou me consolar muitas vezes e escreveu a seguinte poesia para mim:

Não Te Importes

I
Não te importes com problemas que vêm sobre você,
Pois Jesus sempre está olhando por você...
Não te importes com aqueles que não te dão valor,
O que importa é que Jesus te olha como a pureza de uma linda flor.

II
Não te importes com aqueles que te maltratam,
Nem com aqueles que te olham sem amor...
Pensa sempre em Jesus,
Também maltrataram o Nosso Salvador.

III
Olha para Jesus e segura em Sua mão,
Tudo Ele fez para te ajudar...
Confia somente em Seu poder,
O mais...Tudo Ele proverá.

IV
Não sofras mais...não sofras mais...
A tua lágrima Jesus vai enxugar.
Não sofras mais...não sofras mais...
Tudo será paz.
Pois o poder de Deus sobre você sempre estará.


(Clique no nome dela para acessar mais poesias)

Mas a minha história de vida e meu sofrimento não interessavam para os detentores do poder denominacional da IASD. Tanto é que a atitude de todos eles foi de indiferença por minha situação, nem mesmo o Ministerial da Associação Catarinense veio me visitar ou orar comigo. Eu me senti extremamente só, além de sentir o desprezo e a discriminação por parte dos meus ex-colegas de ministério e dos membros da igreja. Porque na IASD é assim, sempre que um pastor é retirado a culpa é sempre dele, e os que ficam sabendo do ocorrido especulam todas as razões possíveis para a sua saída, desde roubo até adultério, incriminando de alguma maneira o pastor que sai da obra e destruindo a sua reputação. As pessoas costumam dizer: "mas ele saiu porque deve ter feito alguma coisa muito grave, a IASD não tira um pastor se não tiver cometido algum pecado". A ideia que predomina na cabeça das pessoas é de que o pastor foi tirado porque cometeu algum erro muito grave, como se os administradores da igreja nunca pudessem cometer injustiças.

Quando fui comunicado oficialmente que eu não seria mais pastor credenciado da IASD, os administradores da Associação Catarinense de Florianópolis, SC, enviaram um funcionário para que me acompanhasse até o Ministério do Trabalho para que eu recebesse o que me era devido, uma vez que como professor de Bíblia eu tinha Carteira de Trabalho Assinada pela União Sul Brasileira da IASD. Diante do funcionário público que nos atendeu, o mandante dos administradores exigiu que eu devolvesse imediatamente minha carteirinha do plano de saúde da UNIMED, o que fiz de imediato. Também solicitou que eu deixasse imediatamente o imóvel onde estava morando, uma vez que o mesmo era alugado e pago pela Associação Catarinense da IASD (AC). Como eu ainda não havia recebido a indenização trabalhista sem justa causa, disse para o mandante dos mandatários da AC que eu só sairia do apartamento depois de receber a indenização que me era lícita, pois com o valor da mesma eu pretendia comprar um imóvel, uma vez que eu não tinha onde morar e nem para onde ir. Após o mandante comunicar os administradores na AC em Florianópolis, eles concordaram em que eu ficasse por mais um mês no apartamento.  Era o mês de maio de 1998, e uns dois meses depois, quando recebi o valor da indenização trabalhista, eu comprei um apartamento para morar, e eu e minha esposa fizemos a mudança. Mas antes de nos mudarmos aconteceu algo estranho. Um dia pela manhã quando fui ao banheiro havia um morcego vivo dentro do vaso sanitário. Foi estranho porque meses mais tarde, quando já estávamos morando em nosso apartamento, uma certa noite eu estava assistindo televisão na sala com as luzes apagadas e vi um morcego voando pela sala e no corredor. Quando levantei para ver mais de perto, o morcego entrou voando no banheiro e sumiu. Não sei o que significava aquilo, mas o fato é que meu casamento começou a desmoronar depois disso.

No caso do processo trabalhista que ganhei na justiça, aconteceu que o valor da indenização que a IASD me pagou estava errado. Os administradores da AC da IASD não foram honestos comigo e ficaram me devendo cerca de 50% sobre os meus direitos trabalhistas já recebidos. O dinheiro era meu, eu havia trabalhado e feito o meu melhor, por essa razão procurei um advogado trabalhista e entrei com uma ação processual para poder receber o que faltava. O processo trabalhista demorou cerca de dois anos, e no final do ano de 2000 o juiz deu causa ganha para mim. Foi vergonhoso para a IASD comparecer diante do tribunal representada por dois advogados que negavam que a Organização me devia. Em um dado momento o juiz perguntou a eles: "então quer dizer que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não deve nada para o Pastor Jorge Schemes?" Ao que eles responderam: "Não, não deve mais nada". Então o juiz deu a sentença: "A IASD deve sim, e é tanto, e vocês tem 24 horas para depositar o valor devido ao Pastor Jorge Schemes, sob pena de pagar multa diária por atraso". Olhei para aqueles advogados e eles estavam de cabeça baixa, envergonhados. A justiça foi feita, do ponto de vista trabalhista, e eu fiquei satisfeito, pois com o dinheiro pude comprar um carro para trabalhar. Nessa época, em 2000, eu já estava trabalhando na Rede Pública Municipal de Ensino como professor de Ensino Religioso no regime de ACT (Admitido em Caráter Temporário).

O ano de 1998 passou rápido, e naquele ano, apesar de tudo o que havia ocorrido, eu continuei estudando na faculdade de Pedagogia da ACE e frequentando a IASD, e quando recebia um convite para pregar nas igrejas de Joinville, SC, eu aceitava. Mas logo após minha demissão sem justa causa, ou seja, desde maio de 1998 até o início do ano 2000, fiquei desempregado e com dívidas acumuladas. Foram praticamente dois anos de muito sofrimento e angústia. Eu estava em depressão e não sabia. Meu casamento começou a entrar em crise. Minha mulher à época começou a jogar na minha cara que tudo o que havia ocorrido era culpa minha, que eu tinha sido orgulhoso. Mas apesar de tudo, ela continuou lecionando nas séries iniciais da Escola Adventista Dom Pedro II. Eu me sentia sozinho e triste, sem saber o que fazer profissionalmente, mas não parei de estudar, mesmo devendo as mensalidades na ACE/FGG onde fazia a faculdade de pedagogia. 

No ano seguinte, em janeiro de 1999, mesmo estando oficialmente com minha credencial pastoral cancelada pela IASD, eu retornei à UAP na Argentina para continuar o Mestrado em Teologia que eu havia iniciado nas férias de verão de 1997. Fiz apenas uma disciplina naquelas férias, e recordo que ao me verem por lá, meus colegas e professores ficaram muito admirados com minha atitude. Um dos meus professores, o Dr Alberto Ronald Timm veio conversar comigo e me disse que o que eu estava fazendo era muito louvável, pois geralmente os ex-pastores se revoltavam contra a administração da IASD. Minha intenção era realmente terminar aquele mestrado, pois nunca gostei de começar algo e não acabar. Porém, o que eu não esperava era que eu passaria por uma dificuldade financeira tão grande que nunca mais retornaria à UAP e muito menos concluiria aquele mestrado. Sendo assim, vários anos mais tarde, mais exatamente no ano de 2019, com a ajuda do Dr Timm e do Dr Adolfo Semo Suárez eu consegui um Certificado Parcial de Estudos das disciplinas e dos créditos que cursei no Mestrado em Teologia da UAP, como pode ser constatado a seguir:


Durante o ano de 1999 os problemas no meu casamento se agravaram. Haviam brigas e discussões pelo fato de eu ainda estar desempregado. Eu estava tentando me colocar no mercado de trabalho, mas com o diploma de Bacharel em Teologia ficava difícil, pois o mesmo não era reconhecido pelo MEC. Então me dediquei a escrever e organizei um material sobre tabagismo para realizar palestras sobre o tema. Alguns anos mais tarde enviei esse material para algumas editoras, inclusive para a Casa Publicadora Brasileira, a qual não demonstrou interesse no mesmo. Todavia, a editora DPL se interessou e publicou meu livro no ano de 2005, sem custos para mim, pois cedi meus direitos autorais para obras de assistência social da editora, que é uma editora espírita. Assim, o fruto literário do período que estive desempregado foi o livro: "O Que Você Precisa Saber e Fazer Para Deixar de Fumar", o qual está sendo vendido pela Internet. 


Também escrevei e organizei um material sobre a Influência da Mídia e por iniciativa própria dei algumas palestras sobre esses temas em Instituições Públicas e Privadas, participando inclusive de seminários. Por meio das palestras e por meio da venda de apostilas que escrevi sobre o assunto, eu conseguia ganhar algum recurso financeiro. Dentre as Instituições onde realizei palestras e seminários destaco as seguintes: (clicando nos nomes é possível acessar as devidas declarações dessas Entidades)


O resultado dessas palestras sobre a "Influência da Mídia" foram dois e-books que estão disponíveis na Internet gratuitamente (Confira nos links indicados abaixo). Ainda no ano de 1999 também tive um programa aos domingos à tarde na Rádio Floresta Negra AM de Joinville, SC, o qual durava uma hora e tinha alguns patrocinadores, era o programa "Vida Cristã", onde eu abordava temas relacionados com a educação de crianças e adolescentes e temas bíblicos. Eu gostava muito de fazer esse programa radiofônico, foi uma experiência marcante. Eu tinha até poucos anos atrás todos os programas gravados em fitas K7, porém, infelizmente acabei perdendo o acervo antes de poder digitalizar os áudios. Entretanto, em nenhum dos programas que apresentei na Rádio Floresta Negra AM eu falei mal da IASD, ou usei o microfone para falar da minha decepção por ter sido obrigado a sair do ministério pastoral da IASD. Pelo contrário, por meio do programa "Vida Cristã" eu divulguei a Educação Adventista, as doutrinas e as músicas da IASD. O programa tinha uma caixa postal na agencia dos correios, e mesmo sendo um programa semanal eu recebia cartas de ouvintes de várias partes do Brasil falando de como as mensagens tinham impactado a vida deles. Além do mais, por meio dos patrocinadores desse programa de rádio eu também ganhava algum dinheiro como fonte de renda. Eu estava desempregado, mas não sem trabalhar. 


Jorge N. N. Schemes

Criação, Apresentação e Locução do Programa Vida Cristã na Rádio Floresta Negra AM em Joinville, SC - 1999


Participação do Meu Irmão André Ângelo da Silva Neto Bigonis

Nesse período também me envolvi em projetos voluntários e fui o Coordenador Municipal do "Fórum Pelo Fim da Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes" em Joinville, SC. Além disso comecei a escrever artigos para os jornais "Diário Catarinense" e "A Notícia", tudo isso sem deixar meus estudos na faculdade de Pedagogia da ACE/FGG. Esses e outros artigos que escrevi para jornais e revistas sobre educação podem ser conferidos no meu Currículo Lattes

Links Para os E-Books Sobre a "Influência da Mídia"



E-book em pdf - INTOXICAÇÃO DIGITAL - Uma Abordagem Tecnológica, Biopsicosocial, Educacional e Espiritual do Uso, Conteúdo e Influência da TV, Vídeos, Games e Internet, Dentro de Uma Ética e Cosmovisão Cristãs

Apesar de todo meu esforço para redirecionar minha vida fora do Ministério Pastoral da IASD, eu estava muito decepcionado com tudo que havia ocorrido, e principalmente com a maneira como tudo aconteceu. Minha decepção também era pelo fato de eu ainda sentir fortemente o chamado de Deus para ser um pastor e estar sendo impedido pelos administradores por questões tão mesquinhas e pessoais. Lembro que mesmo não sendo mais pastor remunerado e credenciado pela IASD eu ainda recebia alguns convites para pregar nas igrejas. E foi no final do ano de 1999 que decidi fazer meu último sermão na IASD do bairro Itinga em Joinville, SC. Quem nos deu uma carona e foi conosco na igreja foi meu tio avô David Nilson da Silva. Na semana seguinte a esse sermão escrevi uma carta para a Associação Catarinense da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Florianópolis, SC, solicitando o meu desligamento como membro regular da IASD. Na carta, lembro que me referi aos administradores que me prejudicaram como uma "máfia travestida de religiosidade", de tão revoltado que eu estava. Foi algo que fiz voluntariamente, e foi muito doloroso para mim. Sofri muito emocionalmente e espiritualmente. Fui colocado nos registros da IASD como ex-membro regular, sendo que o motivo registrado pela administração da AC da IASD ficou sendo "apostasia". Mas embora estivesse me afastando da IASD como Organização Religiosa eu não havia perdido minha fé em Jesus.

Além disso tudo, meu casamento não estava bem, e no ano seguinte, mais precisamente no início do ano 2000, eu sentia que o pior poderia acontecer e logo aconteceu. Minha separação foi da pior forma possível, além de ser litigiosa, teve também um mandado de separação de corpos solicitado pela minha companheira, houve muita agressão verbal, pois eu errei e acabei me envolvendo com outra pessoa e ela engravidou. Sem eu saber minha esposa havia entrado com processo judicial solicitando além do divórcio a separação de corpos. Ela tinha toda razão e todo direito, mas poderia pelo menos ter me avisado. Certo dia ao chegar em casa, havia um oficial de justiça me esperando dentro do meu apartamento juntamente com minha mulher, assim que entrei ele me ordenou que eu deixasse minha casa somente com pertences pessoais. Fiquei revoltado e solicitei que o mesmo se retirasse de dentro do meu imóvel. Olhei para minha esposa surpreso, ela desviou os olhos de mim, abaixou a cabeça, e logo saiu do apartamento. O oficial insistiu para eu não desobedecer sua ordem, e quando lhe disse novamente para sair do meu apartamento ele saiu, mas chamou a polícia. Quando a viatura chegou no condomínio, eu me escondi atrás de uma parede falsa em um andar acima do meu. O policiais vistoriaram todos os lugares, e quando passaram por mim, não olharam o local onde eu estava. Como eu não queria passar pela humilhação de sair preso dali, orei a Deus pedindo a sua misericórdia para que eu não passasse por aquela humilhação. E o Senhor foi extremamente misericordioso comigo fazendo com que aqueles policiais passassem do meu lado e não olhassem no lugar onde eu estava. Após esse incidente, sai de dentro da minha casa sem saber para onde ir, desempregado, sem muito dinheiro, apenas com pertences pessoais, triste, desanimado, frustrado, sem amigos e agora separado. Fui me hospedar em um hotel barato no centro de Joinville, SC. Me isolei ainda mais, pois sentia vergonha e não queria ver ninguém. Eu não tinha mais nada do pouco que eu tinha conquistado. Eu pensava: "agora estou do jeito que os administradores da igreja que me prejudicaram gostariam que eu estivesse", para eles era um prato cheio para justificar o que me fizeram. Apesar de tudo, mantive a minha fé em Jesus. Mas esse ainda não era o meu fundo do poço.

Quando eu estava naquele hotel barato no centro da cidade de Joinville, SC, liguei para meu tio avô David Nilson da Silva, irmão da minha avó materna, minha segunda mãe Osvaldina Emy da Silva Muniz. Meu tio era membro da IASD do Bom Retiro em Joinville, SC, tinha ficado viúvo a pouco tempo. Ele me conhecia e eu sabia que de alguma maneira ele poderia me ajudar. Imediatamente ao saber das minhas condições, meu tio se prontificou a me ajudar. Veio até aquele hotelzinho e me levou para sua casa em seu carro. Além disso, me ofereceu um quarto e disse que eu podia ficar morando com ele até minha situação melhorar. Eu aceitei e até hoje sou agradecido ao tio David pela ajuda e apoio que me deu. Morei com ele por dois anos, nunca me cobrou aluguel, mas eu ajudava pagando as contas de luz e água. Morei na casa do tio David até ele se mudar para o Rio Grande do Sul. Depois fui morar num quarto de pensão, sem banheiro individual, numa casa antiga no bairro Guanabara em Joinville, SC. Muitas vezes ao ir dormir naquele quartinho eu chorava sozinho, mas nunca pensei que minha história de vida iria acabar ali, pois continuava mantendo minha fé em Jesus.

Mas além disso tudo, no ano de 2000 começaram acontecer algumas coisas boas também. Eu consegui um emprego como professor de Ensino Religioso na Rede Municipal de Ensino de Joinville por meio de um concurso público que fiz. Com esse emprego pude quitar minha dívida com a ACE/FGG e entrar na formatura de Pedagogia com outra turma no mês de julho de 2000. Lembro que nessa formatura não havia ninguém da minha família e eu comemorei sozinho mais uma conquista acadêmica dando graças a Deus. 

No final daquele ano, no dia 08 de agosto de 2000, nasceu minha primeira filha, Miriam Maria Vensso Schemes, o que me trouxe enorme alegria e satisfação. Eu não poderia perder a oportunidade única de ver o nascimento dela, e pude presenciar como foi seu parto e seus primeiros minutos de vida neste mundo. Ouvir seu primeiro chorinho foi como ouvir a melodia mais linda do Universo. O parto da Miriam não foi fácil, sua mãe Rozeli Vensso dos Santos sofreu muito, porque a princípio a equipe médica queria forçar um parto normal, mas sem a dilatação necessária foi preciso recorrer de última hora e com urgência a uma Cesariana. Embora minha filha tenha feito Mecônio ainda dentro do útero, D'US não permitiu que ela o ingerisse ou aspirasse, o que poderia ter causado a Síndrome de Aspiração de Mecônio. Minha filha nasceu forte e saudável, e tirou nota Nove na Escala de APGAR. Embora eu fosse um pai solteiro, reconheci minha filha e regularizei a pensão de alimentos. Mesmo que eu tenha tido dificuldades para ver minha filha com frequência quando era bebezinha, fiz o meu melhor por ela e ainda faço até hoje.


Momento do Nascimento da Minha Filha, Miriam Maria Vensso Schemes, no dia 08 de Agosto de 2000 em Joinville, SC, no Hospital e Maternidade Dona Helena

Em 2000 também fiz um concurso público para agente da Polícia Federal em Florianópolis, SC, e apesar de ter estudado muito as três apostilas que comprei de direito civil, direito penal e direito constitucional, eu não consegui passar naquele concurso. Um fato curioso sobre os concursos públicos que eu já fiz, é que esse foi o único concurso que não orei antes de fazer a prova, os outros oito concursos públicos que fiz eu orei antes da prova, e em todos eles eu fui aprovado, menos nesse que não orei. Ainda no início do ano 2000 participei de um processo seletivo para atuar como Conselheiro Tutelar em Joinville, SC. Apesar de, a princípio não aceitarem meu diploma de Bacharel em Teologia para inscrição, posteriormente consegui provar que se tratava de um curso de Ensino Superior presencial de quatro anos e pude participar. Fui aprovado em todas as etapas, mas na última que era a votação das Instituições cadastradas eu não obtive o número de votos necessários e fiquei como suplente. Nunca fui chamado para atuar como Conselheiro Tutelar. Eu ainda continuava fora da IASD, mas minha vida espiritual se mantinha pela fé em união com Jesus.

Ainda no ano 2000 aconteceu um fato bem desagradável. Um dia, andando pelo centro da cidade de Joinville, SC, encontrei o Pastor Elbio Menezes, presidente da AC da IASD. Isso ocorreu quando eu ainda estava desempregado e me sentindo muito revoltado com tudo que tinha acontecido comigo. Ao vê-lo fui conversar com ele e lhe perguntei o porquê tinha feito tudo aquilo comigo. Como ele não me respondia, fiquei exaltado e acabei apontando o dedo em riste no seu rosto. Ele não sabia onde ir, tentou sair da minha frente, correu para dentro de uma lanchonete e ligou para alguém, acho que foi para polícia ou para o seu advogado. Após o incidente, ele foi até a delegacia e abriu uma queixa crime contra mim, o que resultou em um processo criminal no qual ele me acusou de injúria e ameaça. Confesso que eu estava nervoso e descarreguei nele toda minha frustração, mas não foi minha intenção agredi-lo, porém, o que foi feito, foi feito. 

Esse processo criminal aberto pelo então presidente da Associação Catarinense da IASD contra mim, um ex-pastor ordenado da IASD, correu na comarca de Joinville, SC, por cerca de quatro anos. Na época escrevi uma carta relatando o fato para o site www.adventistas.com, a qual foi publicada e pode ser lida AQUI. No decorrer desse processo, tiveram duas audiências. Na primeira, pude dizer para o Pr Elbio Menezes tudo que eu pensava sobre a maneira como eles haviam me tratado e tirado da obra. Lembro de uma frase que eu disse para ele na frente do juiz: "Quando Jesus voltar você vai ter que prestar contas de todo o mal que me fez!" Ao que ele respondeu: "Eu sei disso"! Após essa audiência o juiz declinou do caso passando o mesmo para outro juiz. Finalmente, depois de alguns anos, em 2004 ou 2005, não me recordo bem, o processo teve um final feliz para ambas as partes. Em nova audiência no Fórum da Comarca de Joinville, SC, na qual o Pr Elbio Menezes não estava presente, foi solicitado ao juiz a proposta do perdão mútuo e a extinção do processo sem prejuízo para ambas as partes pelo advogado do Pr Elbio, o Dr Marcon. Concordei na mesma hora, porque já não aguentava mais aquela situação. Apesar do meu advogado do escritório do Dr Aldano José Vieira Neto me garantir que eu poderia processá-lo não havendo provas, e não havia, porque era a palavra dele contra a minha, eu decidi colocar um fim naquele processo. Após assinarmos os termos de perdão mútuo, o Dr Marcon ligou para o Pr Élbio e me disse que ele estava muito satisfeito com minha decisão. Todavia, eu tive que gastar com advogado de defesa e não foi pouco, e apesar de ter assinado um termo de perdão, eu não conseguia ainda perdoar o que haviam me feito. Embora não houvesse mais raiva e mágoas em meu coração, e eu estivesse tocando a minha vida novamente, faltava eu declarar pessoalmente o meu perdão ao Pr Élbio Menezes e a todos os que haviam me prejudicado no Ministério Pastoral da IASD, coisa que consegui fazer apenas no ano de 2016, pela graça de Deus. Mas esse é outro capítulo da minha história.

As coisas estavam começando a melhorar profissionalmente para mim. Eu havia conseguido me formar em Licenciatura Plena em Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais e Administração Escolar pela ACE/FGG em Joinville, SC. Além disso, em 2001 eu havia iniciado minha primeira pós graduação em Interdisciplinaridade na Educação e Docência do Ensino Superior pela UNIVILLE. Eu também estava lecionando a disciplina de Ensino Religioso (ER) na Rede Municipal de Educação de Joinville, SC, com uma carga de 40 horas/aula. Como a disciplina de ER é de apenas uma aula por semana por turma, eu tinha mais de 35 turmas da quinta série à oitava série na época, hoje seria do sexto ano ao nono ano do Ensino Fundamental. O que significava lecionar para mais de mil e trezentos alunos. Deus havia me dirigido para o mesmo trabalho que eu fizera nas escolas adventistas. Eu tinha relativa liberdade para elaborar os conteúdos das minhas aulas de ER, dessa maneira pude estudar a Bíblia com meus alunos, fazer cursos bíblicos, distribuir bíblias em parceria com os Gideões Internacionais e falar do Evangelho do Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo todos os dias para crianças e adolescentes carentes e necessitados. Tive muitas experiências boas na minha prática docente como professor de ER em várias escolas públicas de Joinville, SC, tenho amigos que foram meus colegas de trabalho por onde passei, inclusive ex-alunos que mantiveram amizade comigo até hoje. Dentre as escolas que lecionei destaco em sequencia de trabalho as seguintes:


Apesar de ter sido aprovado em concurso público para lecionar nessas escolas, a Secretaria de Educação Municipal de Joinville, SC, não me efetivou no cargo porque no edital não estava claro a formação exigida. Ou seja, eles não especificaram que a formação era em Ciências da Religião, e minha formação era em Teologia e Pedagogia. Sendo assim, me deixaram trabalhar em regime de ACT (Admitido em Caráter Temporário) por dois anos. Nesse período, solicitaram que eu fizesse a faculdade de Ciências da Religião com Habilitação em Licenciatura Plena em Ensino Religioso para poder continuar lecionando. Eu não fazia ideia da existência desse curso e nem sabia por onde começar, mas coloquei nas mãos de Deus e pedi sua direção. 

Como haviam outros ex-pastores da Igreja Luterana lecionando ER, logo fiz amizade com eles. A frustração de ter deixado o ministério pastoral era a mesma, havia algo em comum entre nós apesar de sermos de igrejas diferentes. Um dia, no final de 2001, o ex pastor luterano Irving Ivo Hoppe veio conversar comigo e me disse que havia aberto inscrição de um processo seletivo para estudar Ciências da Religião na FURB em Blumenau, SC, por meio de um programa do Governo do Estado de Santa Catarina intitulado "Magister" com bolsa de 100% e ajuda de custo. Ele me disse ainda que as inscrições estariam abertas só até o dia seguinte e me perguntou se eu gostaria de ir com ele fazer a minha inscrição também. Eu aceitei na hora, e no dia seguinte fui de carona com Irving para fazer a inscrição para o processo seletivo na FURB. Depois Deus nos abençoou e fomos aprovados no processo seletivo e passamos a estudar Ciências da Religião a partir do início do ano de 2002. Foram quatro anos de muita dedicação e estudos, e no final de 2005 nos formamos na primeira turma de Ciências da Religião da história da FURB em Blumenau, SC. Deixo registrado aqui minha eterna gratidão ao amigo Irving Ivo Hoppe por sua cordialidade, generosidade e amizade ao me convidar para fazer a inscrição no processo seletivo a tempo, além de me dar carona no seu fusquinha por vários anos de Joinville até Blumenau para poder estudar. Muito obrigado meu amigo, que Deus te ilumine, minha eterna gratidão!

Continuei minha vida de estudos e trabalho. Fiz novo concurso público na Rede Municipal de Ensino de Joinville, SC, para atuar como pedagogo. Mais uma vez orei pedindo que Deus me abençoasse e O Senhor me concedeu a benção de ter sido aprovado em primeiro lugar, havia apenas uma vaga. O cargo era para trabalhar como pedagogo, e quando fui chamado foi em plenas férias de janeiro. Quando fui na prefeitura para assinar minha admissão soube que se tratava de um cargo para trabalhar juntamente com uma equipe multiprofissional no CIP (Centro de Internamento Provisório) na época, hoje CASEP (Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório). Quando fiz o concurso eu havia pensado que era para trabalhar na Secretaria Municipal de Educação, mas na realidade era para atuar na Secretaria do Bem Estar Social na época, hoje Secretaria de Assistência Social de Joinville. Apesar do salário ser praticamente quase o dobro do que eu recebia na CRE (Coordenadoria Regional de Educação), optei por não assumir o cargo. Muitos disseram que eu estava louco em desperdiçar um emprego daqueles, mas minhas razões eram duas: Primeira, eu teria que sair do meu emprego na CRE, pois pela Constituição Federal não poderia ocupar dois cargos técnicos; Segunda, eu teria que parar minha faculdade de Ciências da Religião na FURB em Blumenau, SC, pois ao conversar com a secretária do Bem Estar Social ela me disse que eu não seria liberado na sexta-feira à tarde para ir estudar em Blumenau. Assim, eu teria que abrir mão de duas coisas que gostava de fazer, e para mim um salário melhor e imediato não compensaria, considerando que meu trabalho na CRE e meus estudos em Ciências da Religião eram investimentos a longo prazo. Sempre acreditei que a educação é um bem social que tem o poder de ser uma alavanca de crescimento pessoal e profissional, bem como de desenvolvimento social.

Após iniciar meus estudos em Ciências da Religião na FURB, meu contrato como ACT na Rede Municipal de Ensino de Joinville, SC, foi renovado por mais dois anos. Mas mesmo assim havia tentado um outro concurso público municipal para o cargo de Pedagogo no ano de 2002, no qual fui aprovado em primeiro lugar. Quando me chamaram no final do ano de 2003, acabei não assumindo esse cargo porque era para trabalhar como educador com menores infratores no que na época era chamado de CIP (Centro de Internamento Provisório) e hoje é CASEP (Centro de Atendimento Educativo Provisório), e não na Secretaria de Educação, além disso se assumisse teria que parar a faculdade de Ciências da Religião. Dessa maneira, no final do ano de 2001 fiz mais um concurso público para trabalhar na Secretaria de Estado da Educação da Rede Pública Estadual de Ensino como Técnico Pedagógico ou Consultor Educacional. Havia três vagas para cada cargo e era possível se inscrever para os dois cargos. Eu dava aulas de ER o dia todo na Rede Municipal de Ensino, manhã e tarde, e confesso que estava cansado. Queria muito continuar trabalhando com educação, mas em atividades que fossem mais internas na coordenação de projetos educacionais. Lembro que quando fui fazer esse concurso fiz uma oração antes de iniciar as provas e pedi a Deus que me desse uma das vagas. Eu havia acabado de terminar uma pós graduação em Interdisciplinaridade na Educação e o tema da redação foi justamente sobre isso. Fui aprovado nesse concurso em terceiro lugar, para os dois cargos, Técnico Pedagógico e  Consultor Educacional. Fui chamado primeiro para atuar como Técnico Pedagógico e anos depois como Consultor Educacional, como o salário era o mesmo e eu já tinha me efetivado como Técnico quando me chamaram como Consultor não assumi. Até hoje trabalho como Técnico Pedagógico na CRE de Joinville, SC e sempre dou graças a Deus por ter me abençoado naquele concurso.

Acontece que após ver o resultado da minha aprovação no concurso público para trabalhar na CRE eu pedi minha exoneração como professor de Ensino Religioso na Rede Pública Municipal de Ensino de Joinville, SC. Foi uma decisão precipitada, pois depois fiquei sabendo que a chamada para o concurso que fiz para a CRE no final de 2001 só ocorreria em fevereiro de 2002, e eu me vi desempregado novamente, pelo menos até ser chamado no concurso da CRE. Mas não fiquei desempregado por muito tempo, pois fui fazer mais um concurso público na Rede Municipal de Ensino de Jaraguá  do Sul, SC, para atuar como professor das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Fui aprovado e me chamaram imediatamente para trabalhar. Lecionei em Jaraguá do Sul por três meses como professor alfabetizador para duas primeiras séries do Ensino Fundamental em duas escolas diferentes, matutino e vespertino. Mas eu tinha que me deslocar de carro de Joinville até Jaraguá do Sul para trabalhar, saindo pela manhã bem cedo e retornando ao final da tarde, o que era muito cansativo e dispendioso pois dava um total de mais de 90 Km por dia. Depois ficou mais cansativo ainda pois além disso eu comecei a lecionar à noite em Joinville, SC, pois após conversar com a professora Carmelina Barjonas que era a Gerente de Educação da CRE de Joinville, SC, consegui aulas no período noturno em alguma escola da Rede Pública Estadual até eu ser chamado para trabalhar na CRE. Carmelina me indicou para uma vaga como professor da disciplina de Noções de Relações Humanas e Ética (NRHE) na EEB Paulo Medeiros em Joinville, SC, escola na qual lecionei NRHE por mais de dois anos no período noturno para alunos do Ensino Médio. Dessa maneira, assim que me chamaram para assumir meu cargo na CRE como Técnico Pedagógico durante o dia, eu me exonerei como professor das séries iniciais em Jaraguá do Sul, e continuei lecionando NRHE à noite em Joinville, SC.

Deus estava me abençoando muito profissionalmente. Na verdade eu estava me refazendo profissionalmente para me colocar no mercado de trabalho. Após dois anos de trabalho na CRE fui indicado para o cargo de Diretor Adjunto na EEB Marli Maria de Souza, onde atuei juntamente com mais duas diretoras, pois aquela unidade escolar tinha três turnos, matutino, intermediário e vespertino e mais de dois mil alunos em seu primeiro ano de funcionamento. Foi uma experiência de aprendizados, mas como era um cargo de confiança e ligado a questões políticas partidárias, antes do final do primeiro ano de trabalho voltei para o meu cargo de Técnico Pedagógico na CRE, o que de fato preferi, pois não gostei de atuar na gestão de uma escola. Em anos posteriores fui convidado mais duas vezes para assumir o cargo de Gestor Escolar, mas declinei da oferta. 

Todavia, apesar de ter passado em um concurso público bem concorrido para trabalhar na Secretaria de Educação do Estado de SC, CRE de Joinville, SC, meus primeiros anos dentro da CRE não foram fáceis. Passei por situações bem constrangedoras e até por humilhações por parte de pessoas que não eram concursadas e efetivadas lá dentro mas ocupavam cargos de chefia por indicação política partidária. Como eu não tinha filiação partidária e nos meus três primeiros anos eu ainda estava em Estágio Probatório, algumas pessoas inescrupulosas fizeram de tudo para que eu desistisse, objetivando talvez minha vaga para indicar alguém do seu interesse. Meu período de três anos de Estágio Probatório foi um verdadeiro pesadelo para mim. E mesmo durante alguns anos após eu ter sido efetivado no serviço publico, sofri perseguição e Assédio Moral dentro da CRE. Essa situação toda acabou contribuindo para que eu ficasse doente mais tarde, com problemas de depressão. O Assédio Moral praticado por pessoas que ocuparam temporariamente cargos de chefia por indicação política partidária no setor que eu trabalhava só chegou ao fim após eu tomar a iniciativa de abrir Boletins de Ocorrência na delegacia (BO), por causa do abuso de poder e do constrangimento ilegal no ambiente de trabalho praticado por elas.

Meu sofrimento emocional e psicológico foi tão intenso que até hoje eu tenho dificuldades para falar no assunto. Nesse momento, enquanto escrevo essas linhas, sinto um frio na barriga quando lembro de algumas situações que passei em meus primeiros anos de trabalho na CRE. Foram situações vexatórias e constrangedoras, situações em que cheguei a pensar em desistir de trabalhar lá dentro. Tinha dias em que eu ia trabalhar sentindo meu coração palpitar à medida que eu me aproximava do meu local de trabalho. Eu sentia um frio na barriga, ficava ansioso e tinha vontade de chorar, pois eu sabia que meu dia lá dentro não ia ser fácil. Lembro que logo que comecei a trabalhar na CRE em 2002, as pessoas do Setor de Ensino me colocaram para fazer serviços de estagiário, ou seja, pediam para eu digitar ofícios para elas, ligar para todas as 66 escolas pertencentes a CRE para dar algum recado, ou simplesmente não me davam nada para fazer. Mas não demorou muito para que aquelas pessoas me colocassem dentro de uma sala de 5 metros quadrados, com dois estagiários e uma máquina de xerox, sem computador e sem nada para fazer por um período de um ano aproximadamente. Aquilo foi uma das piores experiências que passei dentro da CRE. Nesse período eu pensei em desistir, pois me sentia inútil e sem valor para eles. Mas fui resiliente e perseverante, e tirei proveito daquela situação, pois comecei a ler muito. 

Sinceramente eu suspiro para escrever tudo isso, pois de alguma maneira isso ainda me incomoda. Mas vou relatar mais algumas situações para mostrar que no serviço público, nem sempre podemos fazer o que sabemos ou nem sempre somos bem recebidos quando passamos em um concurso. Há muitos interesses politicos partidários, além de pessoas mesquinhas e ambiciosas que ocupam cargos de chefia, e se você não estiver com a "patotinha", eles te colocam na geladeira ignorando todas as qualificações técnicas que você possa ter. E foi isso o que aconteceu comigo na CRE de Joinville, SC, durante praticamente os meus primeiros 10 anos lá dentro, infelizmente. Outra situação ocorreu no Setor de Ensino ainda em meu estágio probatório. Uma colega que havia passado no concurso comigo se achou no direito de me denegrir na frente dos demais falando em alta voz que eu não fazia nada e que ela não sabia o porquê eu estava trabalhando ali. Minha reação foi ficar em silêncio pensando em como poderia me defender, e após ela terminar o seu discurso discriminatório, eu me levantei, pedi autorização à chefia do setor para me retirar da CRE por um período de tempo, e saindo dali fui direto na delegacia de polícia e registrei um BO contra a Marília Pizatto Bratti, por constrangimento ilegal, injúria, calúnia e difamação. Ao retornar para a CRE fui falar com a Coordenadora Geral e lhe expliquei o que havia ocorrido, em seguida lhe entreguei uma cópia do BO. Depois fui até o meu setor, me dirigi a mesa da Marília e também lhe entreguei uma cópia do BO. Ela me olhou assustada e ficou em silêncio, e eu lhe disse: "se você se dirigir a mim mais uma vez dessa maneira, eu vou te processar, entendeu?" O resultado da minha atitude foi que nunca mais ela me desrespeitou, pelo contrário, com o tempo acabamos nos tornando grandes amigos, a ponto de eu convidá-la em 2013 para o meu novo casamento. 

A decisão de abrir um BO para me defender foi uma decisão radical, mas necessária e legal. Escrevo essas experiências para de alguma maneira ajudar pessoas que estejam passando por isso. Numa outra situação que ocorreu ainda em meu estágio probatório enquanto eu trabalhava no Setor de Ensino da CRE, uma senhora chamada Jordelina Beatriz Anacleto Voos, que havia sido indicada politicamente para ocupar o cargo de chefia em meu setor, se achou no direito de me humilhar diante dos meus colegas ao me chamar de "office boy de luxo", e em outra situação tentou ferir minha masculinidade fazendo uma piada de cunho sexista dirigida a minha pessoa diante de outras mulheres em uma reunião dentro da CRE. Essas duas situações não foram as únicas, mas em relação a essa senhora, eu não tomei nenhuma medida legal por respeito a sua idade avançada, contudo sempre acreditei que ela sofreria por si mesma as consequências de todas as suas insinuações maldosas ditas não só a mim, mas a outras pessoas que eram colegas de trabalho. Creio que suas palavras mais ácidas forma proferidas à Marília Pizzatto Bratti, que na época estava grávida. Certo dia, segundo a própria Marília, ela estava subindo as escadas da CRE, que ficava à época em um prédio de dois andares ao lado do Shopping Mueller, quando Jordelina estava descendo, e ao passar por ela lhe disse: "vê se cuida bem dessa coisa que está dentro de você!" Pessoas prepotentes, orgulhosas, más e psicopatas não sentem pena de ninguém, nem mesmo de uma criança que sequer veio ao mundo. Todavia, como está escrito na Palavra de Deus: "O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda. Melhor é ter espírito humilde entre os oprimidos do que partilhar despojos com os orgulhosos". Provérbios 16:18,19. Certamente, de alguma forma, Jordelina já teve a Lei do Retorno sobre si e seus familiares, infelizmente.

Apesar de tudo isso eu trabalhava em dois empregos, de dia como Técnico Pedagógico na CRE e de noite como professor de NRHE numa escola da Rede Pública Estadual de Ensino, ao mesmo tempo continuava meus estudos em Ciências da Religião na FURB e em minha primeira pós graduação na área da educação, "Interdisciplinaridade na Educação e Metodologia do Ensino Superior" pela Universidade de Joinville (UNIVILLE). Meu tempo era consumido com trabalho, estudos, cursos e congressos sobre educação, e na medida que eu avançava academicamente, minha vida espiritual definhava aos poucos por meio da negligência da oração e da leitura e estudo da Bíblia, e eu ainda continuava completamente afastado e sem frequentar os cultos da IASD.

Um dia, num sábado pela manhã decidi fazer uma visita a IASD do Bairro Guanabara, em Joinville, SC. Eu morava naquele bairro e como fazia anos que eu não pisava dentro de um templo da IASD naquele dia de manhã me deu vontade. Na realidade ainda não era uma igreja organizada, mas se tratava de um grupo de irmãos que se reuniam num salão alugado, pois o templo do bairro Guanabara ainda não tinha sido construído. Cheguei cedo para a escola sabatina e fui recebido de maneira fria e com muita desconfiança por parte daqueles que haviam me conhecido quando eu era pastor. Outro fator que desejo destacar é que nesse grupo de irmãos havia muitos parentes da minha ex mulher e com certeza ficaram me julgando e não se sentiram bem com minha presença. Estou falando aqui o que senti e percebi na época, posso estar errado, mas o fato é que na hora do culto o pregador, que se chamava Ricardo e era parente da minha ex-mulher, disse mais ou menos o seguinte antes de iniciar do sermão: "Não devemos julgar e ter preconceito e ficar dizendo o que ele está fazendo aqui"! Na hora eu percebi que haviam falado de mim. Conheci Ricardo e ele era um verdadeiro homem de Deus. Logicamente ele não deve ter gostado da atitude de alguns irmãos e decidiu fazer o comentário em público. A vontade que me deu foi sair da igreja na hora, mas me contive e fiquei até o final do culto. Todavia, depois disso, que ocorreu no ano de 2003, só fui pisar dentro de uma IASD no ano de 2015. Creio que esse é um dos problemas que impedem ex membros de retornarem, a falta de simpatia, empatia e amor de muitos que se dizem cristãos mas não sabem perdoar e receber de volta os que erraram.

Assim que terminei minha primeira pós graduação em "Interdisciplinaridade na Educação e Metodologia do Ensino Superior" no ano de 2001, iniciei a segunda pós em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela FACINTER na época, hoje UNINTER, a qual concluí em 2003. Lembrando que naquela época uma pós graduação tinha aulas presenciais semanais ou quinzenais, tinha estágios obrigatórios e demorava dois anos para ser concluída. Em 2005 entrei na formatura da minha terceira graduação acadêmica em Ciências da Religião, com Licenciatura Plena em Ensino Religioso, pela FURB, em Blumenau, SC. Foram anos de muito estudo e empenho, pois eu tinha que conciliar meus horários de estudos e meus horários de trabalho. Durante a semana meu tempo era consumido com muito trabalho e aos finais de semana com muito estudo.

Após meu horário na CRE voltar a ser turno único, optei por fazer mais um concurso público para professor de Ensino Religioso (ER) na rede Municipal de Ensino de Joinville, SC, no qual fui aprovado em terceiro lugar. Após meu estágio probatório e trabalhar três anos lecionando ER, fui efetivado no cargo e até hoje sou funcionário público municipal em Joinville, SC.

Além disso, eu desejava muito lecionar para o Ensino Superior. Dessa forma comecei a enviar meu currículo para várias Instituições de Ensino Superior de Joinville. Lembro que em 2004 fui pessoalmente conversar duas vezes com o Professor Romão Petry, diretor acadêmico do curso de pedagogia da ACE. Na primeira vez apresentei meu currículo e ele simplesmente me olhou e disse: "tudo bem". Depois de seis meses fui novamente e levei meu currículo atualizado com mais cursos, e novamente ele recebeu e disse: "tudo bem". O professor Petry tinha sido meu professor de Sociologia da Educação quando estudei na ACE. Eu não tinha nada a temer, pois tinha sido um ótimo aluno e na disciplina dele minha nota final tinha sido dez. No ano seguinte fui chamado para uma entrevista com a professora Cheila, a qual tinha sido minha professora de Didática na ACE. Lembro do que ela me disse: "Jorge, nós temos aqui muitos currículos melhores que o seu. Temos currículos de pessoas com mestrado e doutorado. Mas nós vamos te dar uma oportunidade por duas razões: primeira, você foi nosso aluno, e segunda, você foi um ótimo aluno". Isso me fez pensar que devemos sempre fazer o nosso melhor pois não sabemos o dia de amanhã. Também lembrei do que Ellen G. White escreveu: 
"Unicamente vos esforçando com diligência em busca de êxito, conseguireis a verdadeira felicidade. Preciosas são as oportunidades a vós oferecidas durante o tempo que passais na escola. Tornai a vida de estudante o mais perfeita possível. Não percorrereis esse caminho senão uma única vez". Mensagens aos Jovens; Cap. 53.

No ano de 2005 fui contratado e comecei a lecionar Filosofia da Educação na Faculdade Guilherme Guimbala (FGG), Associação Catarinense de Ensino (ACE) no curso de Pedagogia. Logicamente deixei de lecionar para o Ensino Médio à noite. Inicialmente lecionei apenas uma disciplina no curso de Pedagogia da ACE/FGG para o primeiro ano do curso. Com o passar do tempo, meu trabalho foi sendo reconhecido e cheguei a lecionar até quatro disciplinas do primeiro ao quarto ano do curso. Trabalhei por mais de 10 anos como professor do curso de pedagogia da ACE/FGG, e tive a oportunidade de ajudar alguns alunos Adventistas do Sétimo Dia negociando a presença em minhas aulas na sexta feira à noite e solicitando um trabalho extraclasse. Mas eu mesmo, me sentia distante de Deus e da Sua vontade. Nesse período pude lecionar as disciplinas de Filosofia da Educação, História da Educação, Projetos Educacionais, Políticas Públicas, Formação Continuada dos Docentes, Gestão Escolar, Educação e as Novas Tecnologias, Educação de Jovens e Adultos, Antropologia Cultural a qual lecionei a convite na faculdade de Psicologia da ACE/FGG, Sociologia da Educação e Empreendedorismo. Em setembro de 2015 me despedi da função de professor na ACE/FGG com uma carta aberta de agradecimento, a qual pode ser lida no blog da disciplina de História da Educação

Nesse período em que lecionei na ACE/FGG, ou seja, do ano de 2005 até o final de 2015, aconteceram muitas coisas em minha vida espiritual fora da IASD. Apesar da minha vida profissional e acadêmica estar indo bem, espiritualmente eu estava declinando cada vez mais. Em 2002 iniciei um relacionamento com uma de minhas alunas do Ensino Médio, a jovem Kelen Francine Simão. Apesar da nossa diferença de idade a gente se dava bem. Ela era da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) e após dois anos de namoro fizemos um contrato de união estável e passamos a morar juntos. Em 2006, no dia 02 de março, nasceu meu segundo filho, Jorge Gabriel Nikolas Schemes. Ter a oportunidade de presenciar seu nascimento foi algo mágico e inesquecível. Ouvir seu primeiro choro foi como ouvir o som da vida. Seu parto não foi fácil, e o médico estava tendo dificuldades em tirá-lo, a ponto de eu escutar ele dizendo teria que usar o Fórceps, porque estava demorando muito e sua mãezinha já estava cansada e esgotada. Eu já tinha lido alguma coisa sobre o uso do Fórceps, e geralmente deixa alguma sequela. Fiquei nervoso, mas na mesma hora fiz uma oração a D'US em nome de Jesus, pedindo que desse forças à mãe do meu filho e abençoasse para que o suo do Fórceps não fosse necessário. Assim que acabei de orar, meu filho nasceu, forte e saudável, e à partir dali eu fiquei sempre ao seu lado. Ele tirou nota Dez na Escala de APGAR. 

Momento do Nascimento do Meu Filho, Jorge Gabriel Nikolas Schemes, no Dia 02 de Março de 2006, em Joinville, SC, no Hospital e Maternidade da Unimed.

Como minha esposa Kelen Francine Simão à época frequentava a IEQ nos cultos de domingo à noite, eu a acompanhava. Parecia que minha vida estava dando uma volta ao ponto de partida espiritual. Eu gostava de ir aos cultos, logicamente havia coisas que o pastor Edson pregava que eu não concordava, mas na maioria das vezes suas pregações eram cristocêntricas. Eu me sentia de certa forma num dilema espiritual. O pastor Edson era um homem sincero e que amava a Jesus. Mas eu nunca falei nada pra ele do que eu acreditava, até porque eu não estava vivendo tudo que sabia, principalmente em relação ao quarto mandamento da Lei de Deus. Todavia, apesar de estudar e lecionar aos sábados eu mantinha muitos princípios da IASD, eu não fumava, não bebia bebidas alcoólicas e não comia certos tipos de alimentos imundos, Todavia, minha vida pessoal de oração e estudo da Bíblia havia praticamente desaparecido, com exceção de quando eu ia na IEQ e de quando ia fazer uma viagem, porque sempre recitei o Salmo 121 antes de pegar a estrada. Além disso, eu não dava testemunho para absolutamente ninguém sobre o Evangelho Eterno que uma vez eu pregava quando era pastor. 

Assim eu fui vivendo, na ilusão de que poderia viver do meu jeito sem dar satisfação para ninguém e sem pedir a permissão de Deus, apesar de achar que minha fé em Jesus estava bem firmada. Na realidade eu estava confundindo conhecimento intelectual sobre o Evangelho com experiência espiritual pessoal com Jesus. Os anos foram passando e eu me mantive imóvel no sentido espiritual. Eu me dedicava ao máximo para minha família e para os meus empregos. Profissionalmente eu estava realizado, mas havia um vazio dentro de mim, uma inquietação espiritual de saber o caminho e não estar andando nele.

Apesar de tanta coisa ruim, nesse período eu vivi os melhores momentos com os meus filhos Miriam Maria Vensso Schemes e Jorge Gabriel Nikolas Schemes. Apesar de não morar comigo, eu pegava minha filha Miriam com frequência para ficar conosco nos finais de semana e nas férias. Eu simplesmente amava estar com os meus dois filhos. Passeávamos muito. Tenho boas lembranças dos passeios em Shopping Centers, nos parquinhos de diversão, na Expoville, na Estrada Bonita na região rural de Joinville, e também das viagens para Barra Velha, SC, para Lages, SC, e para as praias de Florianópolis, SC. Deus me concedeu o privilégio de viver ótimos momentos com os meus filhos Miriam e Gabriel quando eles tinham entre 06 anos e 14 anos de idade no caso da Miriam, que hoje (2020) tem 20 anos de idade e mora e estuda em Curitiba, PR; e no caso do Gabriel que hoje (2020) tem 14 anos de idade e mora com  mãe dele em Barra Velha, SC, desde o seu nascimento até os 06 anos de idade. Ou seja, quando eles tinham essa faixa etária eu passava com frequência bons momentos com os dois, pois mais tarde isso mudou, e ficar algum tempo com os dois juntos se tornou mais raro. Digo isso porque nesse período de faixa etária deles eu os via com frequência e podia curtir meus dois filhos juntos. Foram ótimos momentos que me trouxeram grande alegria e satisfação como pai. A seguir apresento um vídeo de um desses momentos com os meus amados filhos Miriam e Gabriel:  


Porém, tudo estava prestes a mudar em minha vida, para pior, eu ainda não havia chegado ao meu fundo do poço. No ano de 2009, não lembro exatamente se foi no mês de junho, julho ou agosto, o irmão mais novo da minha esposa à época, Kelen Francine Simão, o Felipe, faleceu após um acidente de carro. Era um jovem de 19 anos de idade, e seu melhor amigo Rodrigo, de 17 anos de idade, também faleceu na mesma hora do acidente. Fui visitar Felipe na UTI do Hospital São José em Joinville, SC, dois dias após o acidente e confesso que não soube o que fazer, ele estava em coma, houve rotação cerebral, dias depois ele faleceu. Sua morte mexeu com os sentimentos de todos, principalmente na família da minha esposa, a qual ficou depressiva e sofreu muito com a perda do irmão que havia ajudado a cuidar na infância.

Passados três meses da sua morte, uma noite eu estava em nosso apartamento me preparando para dormir, minha esposa já estava deitada e meu filhinho Jorge Gabriel já estava dormindo, era perto da meia noite quando comecei a sentir um cheiro muito forte de cigarro. Lá em casa ninguém fumava, aliás, sempre detestei o cheiro de cigarro. Ao perguntar para minha esposa se ela estava sentido o cheiro de cigarro ela me respondeu que não. Fui verificar as janelas do apartamento para ver se estavam todas fechadas, pois poderia ser algum vizinho fumante dando baforadas na janela do apartamento de baixo, mas não era, estava tudo fechado. Era uma noite fria, eu estava bem agasalhado antes de ir dormir e aquele cheiro parecia que ficava mais forte. Foi então que resolvi cheirar a blusa que eu estava vestido, e para minha surpresa o cheiro vinha dali, da parte debaixo da axila esquerda, o cheiro estava impregnado na blusa como se alguém tivesse esfregado cigarros nela. A princípio fiquei atônito, sem saber o que fazer, cheguei perto da minha esposa e pedi para ela cheirar, e ela também sentiu o fedor de cigarros. Em seguida tirei a blusa e joguei no lixo. Antes de dormir convidei minha esposa para orar e recitei o Salmo 91. Dormi muito bem aquela noite, mas no outro dia fui cheirar a blusa novamente e não havia mais cheiro nenhum de cigarros. Fiquei intrigado com aquilo e apesar de saber do que poderia se tratar, por curiosidade, perguntei para uma colega de trabalho que era do Candomblé o que aquilo significava, ao que ela me respondeu: "Proteção, isso significa proteção". Eu não acreditei, até porque o que aconteceu alguns dias depois foi a gota d'água para me derrubar profundamente no mundo de trevas do maligno.

No final do ano de 2009, após meu 43º aniversário no dia 16 de dezembro, antes do Natal, eu estava de férias com minha esposa Kelen e meu filho Jorge Gabriel na casa de praia dos meus sogros em Barra Velha, SC, estávamos voltando da praia quando minha esposa me disse dentro do carro que não queria mais viver comigo. Após ouvir suas explicações, fiquei chocado, pois eu não havia deixado de estar junto dela e do nosso filhinho Jorge Gabriel por um dia sequer. Aliás, meu filho, que estava com três anos e meio de idade chamava mais o papai do que a mamãe. Ele acordava todas as madrugadas por volta das três horas e me chamava "papai" do berço que ficava no quartinho dele. Todas as noites, desde o seu nascimento, eu ia ver como ele estava. Depois quando começou a me chamar eu ia buscar no berço. Eu e meu filhinho tínhamos uma conexão muito forte. Após o pedido de separação da minha mulher, no mesmo dia eu fui para Florianópolis para esfriar a cabeça e fiquei as férias todas lá na casa da minha tia Rute. Essa tia sempre foi como uma irmã para mim, ela ajudou a me criar quando eu era pequeno. Pela primeira vez passei o natal e o ano novo longe do meu filho Jorge Gabriel Nikolas Schemes, e aquela experiência me marcou muito. Após meu retorno, minha esposa foi embora para a casa da mãe dela e levou meu filhinho. De repente eu me vi sozinho dentro do meu apartamento, com os brinquedos do meu filho jogados pelo chão. Do jeito que o apartamento estava quando minha esposa foi embora com meu filho, ele ficou por seis meses. Foram seis meses de profunda tristeza e depressão. Minha vida era ir trabalhar e voltar para casa para dormir. Eu não mexi em absolutamente nada dentro de casa, a não ser no colchão, pois passei a dormir na sala. Eu acordava no meio da madrugada e escutava meu filhinho me chamando: "Papai", e quando eu ia até o quarto dele estava vazio. Meu sentimento de solidão e abandono foi muito forte, eu estava passando por uma depressão e não sabia. Quando eu pegava meu filho para ficar comigo e minha filha Miriam juntos, era muito bom, eu ficava feliz, mas depois de entregá-los eu voltava para casa e me sentia solitário e triste. Minha rotina era sair de manhã para trabalhar e voltar à note. Na época eu dava aulas de Ensino Religioso pela manhã na Rede Municipal de Ensino, trabalhava na CRE à tarde e lecionava à noite da faculdade, no curso de pedagogia da ACE/FGG. Essa rotina durou seis meses, até julho de 2010, quando começou uma nova fase na minha vida espiritual, a fase das trevas e do vale da sombra da morte, até que pela graça, pelo amor e pela misericórdia de nosso Pai Celestial a luz de Cristo raiou sobre mim no final de 2015. Mas isso eu vou deixar para o próximo capítulo.

Sobre minha formação acadêmica favor acessar meu Currículo Lattes.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

6º Capítulo: Ex Pastor da IASD Conta Tudo! Período: Juventude - Dos 23 Anos aos 32 Anos de Vida - Experiência no Pastorado da IASD no Estado de Santa Catarina

O que vou relatar aqui neste capítulo é minha experiência no pastorado da IASD no período que vai do início do ano de 1990 ao mês de maio de 1998. Porém, ainda quando eu estava estudando no quarto ano de Teologia, antes da nossa formatura, que ocorreu no mês de novembro de 1989, mais precisamente no final do mês de outubro de 1989 eu recebi uma carta da DSA (Divisão Sul Americana da IASD) com um convite para ser um missionário voluntário na ilha Pohnpei, a qual faz parte dos Estados Federados da Micronésia localizada na Oceania, região geográfica composta por vários grupos de ilhas do Oceano Pacífico. Naquele ano eu havia feito uma inscrição durante uma semana de oração que teve no IAE para ser um missionário voluntário além mar, e como resultado fui um dos escolhidos e a DSA me enviou o convite. Foi uma grande surpresa para mim, e confesso que fiquei até assustado, sem saber ao certo se aceitava o convite ou não. Após vários dias orando, pensando e analisando a proposta, tomei a decisão de não aceitar o convite, pois não se tratava de um chamado oficial da IASD. Além disso, por se tratar de um programa de missionários voluntários eu teria que pagar toda minha despesa de viagem até Pohnpei. Ou seja, as passagens aéreas do Brasil para a Europa, e da Europa para a Micronésia, deveriam ser pagas por mim. A Divisão Sul Americana da IASD me garantiria um treinamento quando eu chegasse na Europa, além de alojamento e um auxílio mínimo em dólar para minha manutenção básica quando eu chegasse em Pohnpei, onde trabalharia numa escola adventista como voluntário. Considerei também outros fatores para minha decisão, ou seja: O fato de eu não falar fluentemente o inglês, língua falada em Pohnpei, mas esse não foi o principal fator. O fato de eu não ter o dinheiro necessário para pagar as passagens aéreas até lá; O fato de eu já ter um chamado oficial garantido no Brasil para trabalhar em Florianópolis, SC, pois assim eu poderia ficar perto dos meus familiares, porque minha avó Osvaldina e meu irmão André estavam morando com minha tia Rute em São José, na região da grande Florianópolis; O fato do meu irmão André Ângelo da Silva Bigonis precisar de mim como Tutor e Curador pesou bastante, esse foi o principal motivo de eu não aceitar o convite para Pohnpei. 

Sendo assim, procurei meu colega de turma Amazias Aduviri Marca, um jovem boliviano que estava se formando conosco, e ainda não tinha recebido nenhum chamado para trabalhar na Obra de Deus. Fiquei com pena dele por não ter nenhuma perspectiva e resolvi ajudá-lo, oferecendo-lhe o meu convite vindo da DSA para que ele fosse em meu lugar. Amazias aceitou de imediato e ficou muito empolgado, e logo procurou o pastor José Maria Barbosa Silva, por meio de quem o convite havia chegado até minhas mãos para que lhe orientasse. O resultado foi que Amazias trabalhou em Pohnpei alguns anos como missionário voluntário e chegamos a nos corresponder várias vezes por carta nos anos de 1990 a 1992. Lá, ele conheceu uma jovem americana com a qual casou, e foi morar nos Estados Unidos da América. Embora nunca tenha sido obreiro ou pastor na IASD, atualmente Amazias trabalha na Oregon State University. A Última vez que o encontrei pessoalmente foi no UNASP, no campus de Engenheiro Coelho, em julho de 1997 durante o World Ministerial Council (Concílio Ministerial Mundial) promovido pela General Conference of the Seventh-Day Adventist Church (Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia).


A seguir algumas fotos com meu colega Amazias Aduviri Marca e outros amigos do teológico:
 
Da esquerda para a direita: Gessimar Lucas Salvador; Ramirez; Carlinhos; Juvenal Márcio; Amazias Aduviri Marca; 
Jorge N. N. Schemes e Mateus Nanbu   

Da esquerda para direita (Frente): Heraldo Vander Lopes, Mateus Nanbu, Alexandre Fontana de Barros
Da esquerda para a direita (Atrás): Luiz Henrique Souza, Jorge N. N. Schemes e Amazias Aduviri Marca

Da esquerda para direita na frente: Amazias Aduviri Marca, Jorge N. N. Schemes, Günther Marvin Wallauer 
Da esquerda para a direita atrás: Gessimar Lucas Salvador, Ronaldo Bento do Amaral, Juvenal Márcio, Laedis Sebastião da Cunha e Josué Cardoso dos Santos

Com colegas e amigos na cozinha do refeitório do IAE após uma confraternização, lavando as panelas: 
Doroty Wolf, Amazias Aduviri Marca, Mateus Nanbu e Jorge N. N. Schemes

Em momento de descontração, o jovem boliviano Amazias Aduviri Marca, comendo uma banana trazida do refeitório. 
A janela do quarto do dormitório masculino servia de varal para as chamadas "bandeirinhas". IAE/SP - 1986 a 1989

Á frente: Mateus Nanbu; Ao meio da esquerda para direita: Amazias Aduviri Marca, Günther Marvin Vallauer e Jorge N. N. Schemes; Atrás: Volnei Kuhl, Moisés Lopes Sanches Júnior e Elieser Canto Vargas - IAE/1989

À frente, Volnei kuhl. Da esquerda para a direita: Amazias Aduviri Marca, Mateus Nanbu e Jorge N. N. Schemes e ao fundo apontando com o braço, o nosso colega Dilermando da Costa Lemos - IAE/1989

Da esquerda para a direita na frente: Amazias Aduviri Marca, Gilsemberg Pereira de Araújo, Lúcio Pereira de Souza, e atrás ao centro, eu com minha namorada Vaurene Ribeiro de Carvalho, junto com vários colegas e amigos e amigas, no dia da nossa formatura em Teologia no IAE/SP no mês de novembro de 1989

Cada um dos meus colegas de faculdade e amigos teve um destino traçado por causa de suas oportunidades e decisões, mas certamente por causa dos planos de Deus para suas vidas. Éramos jovens e estávamos decidindo nosso futuro. Embora alguns nem tenham assumido cargos na IASD, e outros com o passar dos anos tenham deixado de trabalhar para a Organização Adventista, a maioria permaneceu atuando como pastores em diferentes áreas da igreja no Brasil e ao redor do mundo. Menciono agora o nome de apenas alguns dos meus colegas de formatura, e onde suas escolhas ou seus chamados os levaram, até onde eu tenho conhecimento no momento: 1. Adilson da Cruz Ferreira - Pastor Distrital; 2. Amazias Aduviri Marca - Funcionário da Oregon State University nos Estados Unidos da América; 3. Elieser Canto Vargas - Presidente de Associações da IASD; 4. Erton Carlos Köhler - Foi Departamental em Várias Associações da IASD, foi Presidente da DSA - Divisão Sul Americana da IASD - por vários anos, e atualmente é Secretário Executivo na General Conference of the Seventh-Day Adventist Church (Conferência Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia) nos EUA - Estados Unidos da América; 5. Esmeraldo de Alcântara - Pastor e Psicólogo no IASP; 6. Gerson Gomes de Arruda - Pastor Distrital; 7. Gilsemberg Pereira de Araújo (In Memoriam) - Pastor Missionário na África, onde foi assassinado; 8. Gilson Oséias Montin - Pastor Distrital; 9. Günther Marvin Vallauer - Trabalhou como diretor da ADRA na África, na DSA e atualmente é diretor da ADRA no Líbano; 10. Heraldo Vander Lopes - Dr Reitor da UAM - Universidade Adventista de Moçambique na África; 11. Lúcio Pereira de Souza - Também se formou em Direito pela USP e atualmente é Juiz Federal do Trabalho em São Paulo, SP; 12. Mateus Nanbu - Pastor na Primeira Igreja Adventista do Sétimo Dia Brasileira de Atlanta nos EUA. 13. Moisés Lopes Sanches Júnior - Pastor e Professor no IASP. 14. Tércio Reginaldo Teixeira Marques - Diretor do Ministério de Publicações na DSA. 15. Valduir Bueno dos Santos - Pastor Distrital; 16. Volnei Kuhl - Foi Pastor Distrital e Departamental na AC - Associação Catarinense da IASD e na USB - União Sul Brasileira da IASD, atualmente trabalha na área de vendas. 17. Wilson Roberto Borba - Dr Diretor do SALT/FAAMA - Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia na Faculdade Adventista da Amazônia. 

Quanto a mim, não me arrependo de ter tomado a decisão de não ir para Pohnpei e ter ficado no Brasil, eu não perdi nada com isso, pelo contrário, fui muito abençoado por Deus, e minhas maiores bênçãos foram meus três filhos: Miriam Maria Vensso Schemes, Jorge Gabriel Nikolas Schemes e Victoria Mariah Fermiano Schemes. Se eu tivesse ido para Pohnpei teria escrito outra história para minha vida, e hoje certamente meus filhos não existiriam, e isso sim teria sido uma perda irreparável para minha vida. Essa experiência de rejeitar o convite para ir como missionário voluntário para Pohnpei, me faz pensar até hoje de como os nossos pensamentos e sonhos, bem como as nossas escolhas e decisões são capazes de criar a nossa realidade. Há um ditado budista que reflete bem essa verdade quando diz: "Cuide dos teus pensamentos, pois eles se transformam em palavras; Cuide das tuas palavras, pois elas se transformam em ações; Cuide das tuas ações, pois elas se transformam em hábitos; Cuide dos teus hábitos, pois eles constituirão o teu caráter, e o teu caráter determinará o teu destino e criará a tua realidade". Deus nos deu liberdade, somos seres livres e temos o poder de escolher, o poder da decisão e da vontade. Sobre isso Ellen G. White escreveu: "A vontade é o poder que governa a natureza do Homem, pondo todas as outras faculdades sob sua direção. A vontade não é gosto nem inclinação, mas o poder que decide". (Mensagens aos Jovens, p. 151). "É este o poder que governa a natureza do Homem - o poder de decisão, de escolha. Tudo depende da devida ação da vontade". (Mente, Caráter e Personalidade, p. 685).  

Logo após minha formatura em Bacharel em Teologia Línguas Bíblicas pelo SALT/IAE de São Paulo, SP, em novembro de 1989, eu fui trabalhar no "Campo Catarinense", ou seja, na AC - Associação Catarinense da IASD, em Florianópolis, SC, pois meses antes da minha graduação eu já havia recebido o chamado da AC para trabalhar na Obra de Deus. Foi assim que iniciei minhas atividades como aspirante ao Ministério Pastoral da IASD atuando como professor de Bíblia e Capelão Escolar no incipiente Colégio Adventista Roberto Rodrigues de Azevedo no bairro Estreito, na cidade de São José, SC, na grande Florianópolis, em fevereiro de 1990. Logo após minha formatura em novembro de 1989 viajei para Florianópolis e procurei descansar aquelas férias na casa da minha tia Rute, antes de iniciar minhas atividades como "aspirante" ao Ministério Pastoral. "Aspirante" porque eu precisava passar alguns anos trabalhando para dar provas da minha vocação pastoral até ser ordenado ao sagrado ministério evangélico por meio de uma cerimônia de ordenação ministerial, e só então receber a credencial de pastor ordenado da IASD. Como "aspirante" meu salário correspondia a 50% do teto pago aos pastores ordenados, o que não era muito, mas era o suficiente para eu me manter e arcar com os gastos com alimentação, transporte e despesas pessoais. O aluguel do apartamento onde eu morava juntamente com mais dois obreiros a igreja pagava. Como eu não tinha carro, e nem condições para comprar um, meu transporte era sempre feito de ônibus urbano, o que requeria que eu saísse para os meus compromissos com pelo menos uma hora de antecedência. Como o salário era curto, no final do mês não sobrava quase nada, era realmente um trabalho que eu fazia por amor e por um forte ideal do chamado divino. Era a minha experiência pessoal com Jesus que me dava o suporte necessário para prosseguir.

O colégio Adventista Roberto Rodrigues de Azevedo, que atualmente (2019) se chama Colégio Adventista de Florianópolis, Unidade Estreito (CAF-E), ainda estava em construção quando iniciou suas atividades em 1990 com 350 alunos. Eu havia sido chamado pela Associação Catarinense da IASD para trabalhar como professor de Bíblia e capelão escolar. Minhas responsabilidades na escola envolviam as seguintes atividades: 1. Lecionar aulas de Bíblia para todas as turmas dos anos finais do Ensino Fundamental e posteriormente do Ensino Médio. 2. Organizar e liderar todas as atividades espirituais da unidade escolar. 3. Ministrar a Palavra de Deus diariamente nos cultos do início da manhã e da tarde para todos os professores e funcionários da escola. 4. Organizar e  liderar todas as reuniões semanais da "capela" para todos os alunos da escola e professores. Eram feitas quatro "capelas" semanais com os alunos das séries iniciais e das séries finais do Ensino Fundamental, e posteriormente foram incluídos todos  os alunos do Ensino Médio. A capela era uma reunião de louvor e adoração que era realizada no auditório da escola na qual, como capelão escolar, eu ministrava a Palavra de Deus a alunos e professores. Mais tarde a palavra "capela" foi substituída por "reunião de cultura geral" e atualmente (2019) não faço ideia de como se realiza. Mas naquela época a ênfase estava no louvor e na Palavra de Deus. Lembro que elaboramos uma coletânea para os cânticos que seriam utilizados na "capela" e os professores também participavam, principalmente aqueles que tinham talentos musicais. Os alunos gostavam de cantar em voz alta acompanhados ao som de um teclado tocado pelo saudoso professor Gilberto Preuss, havia um clima de espiritualidade muito forte pela presença de Jesus. 5. Visitar as famílias dos alunos sempre que possível para orar e estudar a Bíblia. 6. Organizar um grupo de irmãos e estabelecer a igreja do colégio. 6. Auxiliar pastores distritais no evangelismo pregando nos cultos das igrejas que faziam parte da grande Florianópolis, principalmente na IASD do Estreito. Quando iniciei estas atividades, o colégio ainda estava em construção, nossos recursos eram escassos e nossas condições de trabalho precárias devido aos transtornos causados pela obra em andamento. Mas em todos os funcionários, professores e obreiros havia um só espírito, o de cumprir com o propósito da igreja e da educação adventista, ou seja, proclamar o Evangelho Eterno. Vale lembrar que naquele tempo não havia a Internet como a conhecemos hoje, muito menos celulares, notebooks ou computadores de uso pessoal.

Inicialmente trabalhei no atual CAF-E por dois anos, de 1990 a 1991, tive o privilégio de fazer parte de sua história como o seu primeiro professor de Bíblia e Capelão. Uma das coisas que procurei fazer em minhas aulas de Bíblia era ensinar de fato a Palavra de Deus para os meus alunos. A maioria dos alunos não era adventista, haviam alunos de várias denominações: católicos, evangélicos, protestantes tradicionais como batistas e luteranos, pentecostais e até sem professar nenhuma religião. Minhas aulas não eram aulas de religião, mas de fato aulas de Bíblia. Cada aluno trazia uma Bíblia para a sala, os que não tinham a escola emprestava. A Palavra de Deus era lida e estudada por meio de atividades, questionários, testes e curiosidades bíblicas, mas principalmente por meio dos cursos bíblicos que eu fazia com os alunos, como por exemplo os cursos: "A Bíblia Ensina" e "As Revelações do Apocalipse". Nunca nenhum pai ou mãe foi reclamar do que eu ensinava em sala de aula. Pelo contrário, nas reuniões de pais sempre haviam elogios e agradecimentos pelo fato das crianças e adolescentes estarem estudando a Santa Bíblia.

Nunca vou esquecer de um pai que era da Igreja Católica Apostólica Romana que tinha dois filhos na escola. Um dia ele compareceu na direção da escola e pediu para me chamar, quando cheguei ele me deu um abraço e me disse: obrigado professor! Que coisa mais linda que você está fazendo com meus filhos. Em casa eu vejo os meus filhos lendo a Bíblia. A Bíblia está na cabeceira da cama deles. Mas o mais fantástico foi esses dias que meu filho caçula pediu para fazer uma oração na hora do almoço e recitou decorado um Salmo. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele mais uma vez me agradeceu e disse: "que coisa mais linda ver meus filhos aprendendo a Palavra de Deus".

Desde o início do meu trabalho eu procurei colocar os meus alunos em contato direto com a Palavra de Deus. Para que isso fosse ainda mais fácil solicitei aos Gideões Internacionais que eles viessem até a escola para distribuir e dar para cada estudante e aos professores um exemplar da Bíblia contento todo o Novo Testamento, o livro Salmos e o livro de Provérbios. Deste modo cada aluno e aluna tinha seu próprio exemplar da Palavra de Deus. Além disso haviam muitas Bíblias na biblioteca da escola à disposição dos alunos. Uma das minhas exigências como professor de Bíblia para cada bimestre era que os estudantes decorassem um Salmo por bimestre. De sorte que no primeiro bimestre do calendário escolar eles deveriam memorizar o Salmo 01, no segundo bimestre o Salmo 23, no terceiro bimestre o Salmo 91 e no quarto bimestre o Salmo 121. Eu fazia uma avaliação oral ao final de cada bimestre, sendo que no primeiro bimestre os estudantes deveriam, em pé, na sala de aula e diante dos colegas recitar de cor o Salmo 01, que haviam estudado e memorizado. No segundo bimestre eles deveriam recitar de cor o Salmo 01 e o Salmo 23. No terceiro bimestre o Salmo 01, o Salmo 23 e o Salmo 91. No quarto bimestre deveriam falar de cor quatro Salmos: o Salmo 01, o Salmo 23, o Salmo 91 e Salmo 121. Todos, sem exceção, decoravam estes Salmos, sinceramente não me recordo de nenhum estudante que não tivesse decorado e se recusado a recitar. Foi por isso que aquele pai veio até mim chorando de emoção ao ver seus filhos lendo e recitando a palavra de Deus em casa. Essa experiência foi tão marcante para mim e principalmente para os meus alunos durante todo o tempo em que fui professor de Bíblia, que até hoje, passados vários anos, quando encontro ex alunos eles comentam e recitam os quatro salmos para mim. Claro que eu mesmo já sabia de cor estes quatro Salmos e os recitava de vez em quando em minhas aulas para motivá-los. Etimologicamente "saber de cor" significa "saber de coração", e era onde eu queria que a Palavra de Deus estivesse, no coração e na alma de cada um dos meus alunos e alunas. Está escrito: "Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti". Salmos 119:11

Lembro de um fato que na época me impactou bastante. Eu havia solicitado um trabalho de pesquisa extra classe para os estudantes das turmas da oitava série, hoje nono ano. O trabalho era sobre os "Dez Mandamentos". Os estudantes deveriam pesquisar na Bíblia quais eram os Dez Mandamentos e depois pesquisar no Catecismo Católico Romano, analisar e fazer uma comparação identificando as diferenças. Aconteceram dois acontecimentos surpreendentes:

1. O primeiro acontecimento foi uma experiência sobrenatural que ocorreu com um grupo de cinco alunas enquanto faziam o trabalho na casa de uma delas. Eles vieram me contar o que havia acontecido e estavam apavoradas. O fato ocorreu enquanto pesquisavam e liam os Dez Mandamentos na Bíblia Sagrada e o grupo de meninas escutava algumas músicas de Rock em um toca fitas K7, Lembrando que na época não havia aparelhos de som digitalizados, ou era toca fitas, disco de vinil ou os primeiros aparelhos de Compact Disc, CDs. Sucedeu que enquanto ouviam algumas músicas Rock em inglês, num determinado momento a música que estavam ouvindo ficou em rotação lenta e elas escutaram sons estranhos e uma voz grave que se arrastava e dizia pausadamente: "nós somos os demônios"! Como elas moravam perto da escola, e era o contra turno de seu horário de aulas, imediatamente pararam o que estavam fazendo, pegaram a fita K7 e correram para a escola para me contar e me entregar a fita. Nunca vou esquecer do pavor no rosto de cada uma delas quando as vi correndo em minha direção. Elas estavam com muito medo. Procurei tranquiliza-las e com muita atenção ouvi essa história. Cheguei a pensar que podiam estar querendo fazer alguma brincadeira de mal gosto ou pegadinha, e decidi testar em um toca fitas K7 para, na frente delas, verificar se estavam dizendo a verdade. Para minha surpresa, de fato, no meio da música "Sacrifice" de Elton John cantada "em inglês", de repente a fita K7 ficou em rotação baixa e eu pude ouvir no meio dos sons musicais barulhos de correntes se arrastando e uma voz grave que falava lentamente e dizia pausadamente "em português": "nós somos os demônios"! Mesmo assim, pedi para ficar com aquela fita K7 para que eu pudesse fazer alguns testes, para verificar se não havia sido feito uma montagem ou algo parecido. Recomendei a elas que não estudassem mais a Bíblia ouvindo músicas seculares, que tivessem mais reverência pela Palavra de Deus. Procurei não alarmar o fato minimizando o mesmo para que elas não ficassem impressionadas ao ponto de se sentirem atemorizadas. Disse a elas que Jesus estava com elas e orei por elas naquele mesmo momento pedindo a proteção dos anjos de Deus e a presença de Jesus em suas vidas. Mas para mim estava muito claro o que de fato aconteceu. O grande conflito entre o bem e o mal é tão real, que se pudéssemos ver as hostes de anjos maus liderados por Satanás e as hostes celestiais lideradas por Jesus em luta ao nosso redor, ficaríamos assombrados. Mais tarde toquei aquela fita K7 em um aparelho toca fitas para meus colegas de trabalho e todos se assombraram com o fato. Levei a fita para casa e toquei mais uma vez para os meus colegas de apartamento, Volnei Kuhl, meu amigo e colega de ministério que se formou junto comigo em 1989, e Daniel Florentino Cano Villegas, peruano radicado no Brasil que também era professor na Escola Adventista, os dois puderam também constatar o fenômeno. Orei a Deus pedindo orientação sobre o que fazer, e a impressão que tive era que não deveria dar voz aos demônios, então decidi gravar hinos de louvor e adoração em cima daquela gravação com mensagem subliminar diabólica.

2. O segundo acontecimento foi o fato de que aquele trabalho sobre os Dez Mandamentos acabou causando uma reação no padre da paróquia do bairro, o qual por meio de alguns alunos que o procuraram para esclarecimentos, se ofereceu para ir à escola explicar as diferenças entre os Dez Mandamentos de êxodo 20:3-17 e do Catecismo Católico Romano. Obviamente que aceitei a oferta e permiti que o padre Prim, como era conhecido, viesse às minhas aulas para dar tal explicação. No dia em que o Pe Luiz Prim chegou à escola, fui recebê-lo à porta de entrada principal e notei um forte odor de cigarro vindo dele, o que evidenciava que o mesmo era fumante. O cheiro de cigarro que exalava do padre era muito forte e não podia deixar de ser percebido. Mas não comentei nada sobre isso. O recebi cordialmente e com muita educação. Em seguida o conduzi para uma das salas de aulas, onde os estudantes o aguardavam com ansiedade, considerando que uma boa parte dos mesmos eram adeptos da Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR. Ao iniciar minha aula logo passei a palavra ao Pe Prim, e o mesmo foi muito claro em suas colocações quando disse que a ICAR não tinha apenas a Bíblia como regra de fé, mas tinha também a tradição católica e o sagrado magistério da ICAR, e foi com essa tripla autoridade que os Dez Mandamentos de Êxodo 20 haviam sido interpretados e adaptados no Catecismo Católico. Lembro do seu semblante de superioridade quando fixando seus olhos em minha direção se dirigiu a mim e disse: "Vocês, Adventistas do Sétimo Dia, têm somente a Bíblia como regra de fé e prática e apenas um pouco mais de um século de história, mas a Igreja Católica Apostólica Romana tem além da Bíblia mais de dois mil anos de história e tradição, além do sagrado magistério, o que lhe dá infalibilidade". Ao final da aula, após o Pe Prim responder algumas perguntas dos alunos, assim que o mesmo se retirou da sala para ir embora, os alunos começaram a me questionar sobre o que o padre havia dito. Perguntei aos alunos o que valia mais, a tradição ou a Palavra de Deus? Então fui até o quadro negro e escrevi com giz o texto de Marcos 7:7-9, onde Jesus afirma que os mandamentos de Deus são invalidados pela tradição humana, e que isso é um erro, pois nada pode se sobrepor ao que está escrito na Bíblia.

Outra experiência que tive no início do meu trabalho foi um confronto com as forças do mal por meio de uma pessoa que ficou endemoninhada durante um estudo bíblico que fui ministrar. Eu estava no meu primeiro ano de aspirante ao ministério (1990) e a pedido de um jovem do clube de desbravadores fui visitar seu pai num domingo, para orar e estudar a Bíblia com ele. Aquele adolescente havia me antecipado alguns problemas que seu pai estava passando. Me disse que ele havia se separado da sua mãe e que estava tendo problemas com alcoolismo. Assim que cheguei na casa do senhor Roberto ele veio me receber e me apresentei dizendo que era pastor da IASD e que a pedido de seu filho eu estava ali para estudar a Bíblia e orar por ele. Logo na entrada senti a presença de forças demoníacas naquela casa, uma sensação muito ruim, parecia que a atmosfera estava pesada, eu já sabia o que era, pois em minha vida já havia sentido aquilo antes. Roberto era um homem alto e magro, e naquele momento estava alcoolizado, mas mesmo assim foi gentil e educado e me convidou para entrar em sua casa, a qual estava em construção. Sentamos ao redor de uma mesa e ele começou a conversar comigo, deixei que falasse. Roberto me contou de sua separação e de como isso o afetou. Disse que seu filho adolescente havia ido embora com sua mãe. Disse ainda que morava sozinho naquela casa e que não conseguia mais terminar a construção que estava parada. Roberto me contou que de madrugada escutava barulhos dentro de casa e não sabia o que era. Me disse que numa noite escutou o barulho de um copo de vidro caindo no chão da cozinha e quebrando, levantou-se para ver o que era e quando chegou na cozinha o copo estava quebrado no chão, mas além disso, os pedaços de vidro estavam literalmente moído como se tivesse passado um rolo compressor por cima deles. Após ouvir atentamente aquele homem lhe perguntei se poderia fazer uma oração em seu favor, ao que ele aceitou prontamente. Ficamos em pé, o convidei a fechar os olhos juntamente comigo e assim que iniciei a oração invocando a presença de Deus aquele homem deu um pulo, esticou os dois braços para frente com as mãos em forma de garras e em seguida caiu no chão e começou a falar com uma voz bem grave e rouca: "Não pisa no meu cavalo. Eu fui enviado para destruir esse casamento e eu consegui, e agora eu vou destruir a vida dele e esse barraco"! Imediatamente comecei a recitar o Salmo 91. Enquanto eu proclama a Palavra de Deus aquele demônio dava risadas e repetia as mesmas palavras que havia sido enviado para destruir. Após recitar o Salmo 91 fui até o senhor Roberto, coloquei minha mão sobre sua cabeça e disse para aquele demônio que ele não iria destruir a vida dele, que a vida do senhor Roberto pertencia a Jesus. Assim que falei o nome de Jesus aquele demônio deu uma risada e disse: "Jesus, aquele que morreu na cruz?!" Então ordenei em nome de Jesus que ele saísse daquele homem e nunca mais retornasse. Após várias convulsões no chão e aos gritos de repente Roberto ficou calmo e adormeceu. Em seguida liguei para o então presidente da Associação Catarinense da IASD, o Pr Samuel Zukowiski, lhe pedindo ajuda. O Pr Zukowiski me disse que logo estaria no local e não demorou muito pra chegar. Mas antes dele chegar o irmão do senhor Roberto que morava na casa da frente do outro lado da rua chegou e perguntou o que estava ocorrendo. Lhe expliquei toda a situação e ele parecia não acreditar e percebi que estava um pouco desconfiado. Quando o Pr Zukowiski chegou, o senhor Roberto ainda estava dormindo profundamente. Fizemos mais uma oração com seu irmão e nos despedimos. Depois de alguns dias fiquei sabendo que Roberto estava internado num hospital ou clínica para tratar o problema do alcoolismo e perdi o contato com ele. Mas tenho certeza que Jesus o libertou, assim como também fez comigo. Mais uma vez ficou claro para mim que estamos envolvidos numa guerra espiritual, uma luta entre as forças das trevas e as forças da luz, entre o bem e o mal, um grande conflito entre Cristo com seus anjos celestiais e Satanás com suas hostes demoníacas. Nesse conflito espiritual não há neutralidade e o campo de batalha é nossa mente.  As questões que temos que responder são: 1. A quem submeteremos a nossa mente? Quem a dominará? A quem serviremos? Quem será o Senhor da nossa vida?

Nas duas semanas seguintes a esse acontecimento fui "visitado" por aquele demônio por várias noites, sempre no mesmo horário. Ele estava irado e queria me intimidar com seus tormentos. Eu acordava de repente no meio da madrugada sentindo a presença maligna em meu quarto, meu corpo começava a ficar todo arrepiado e minha única "arma" era a oração da fé. Assim que eu dobrava meus joelhos para orar a Deus em nome do Senhor Jesus, eu sentia o mal se afastar de mim. Podia também sentir a paz do céu e a presença dos anjos de Deus ao meu redor. Toda escuridão era banida pela luz da presença de Jesus. Então eu agradecia e voltava a dormir em paz. Como disse, isso durou duas semanas, até eu experimentar completa libertação e livramento. Acredito que Deus permite certas coisas para provar a nossa fé e confiança em Jesus.

No ano de 1992 fui transferido para Joinville, SC, onde também trabalhei desenvolvendo as mesmas atividades no antigo Colégio Adventista Dom Pedro II, atual Colégio Adventista de Joinville - Saguaçu. Naquele ano em Joinville tive o privilégio de trabalhar junto com um grande amigo, o pastor Vergílio da Fonseca, que também estava atuando como professor de Bíblia e capelão escolar. Realizamos um excelente trabalho juntos no ano de 1992. Eu conheci o pastor Vergílio em Lages, SC, no ano de 1983, ano em que colportei sem ser adventista e me batizei nas águas. Ele era um jovem pastor aspirante ao ministério e eu fui um dos primeiros batismos em seu distrito. Anos se passaram e agora éramos colegas de Ministério Pastoral trabalhando na mesma escola. Em Joinville minhas responsabilidades como professor de Bíblia e capelão escolar se mantiveram as mesmas.

No início do ano de 1993 fui transferido novamente para Florianópolis para continuar as mesmas atividades que eu já havia desenvolvido no CAF-E, mas agora meu trabalho se ampliou também para mais uma escola, a Escola Básica Adventista Dr Siegfried Hoffmann que ficava localizada ao lado da IASD central de Florianópolis, no centro da cidade, ao lado da famosa praça dos bombeiros, a qual anos mais tarde foi extinta. Algum tempo depois fiquei responsável pelas mesmas atividades apenas em uma única escola, a escola Dr Siegfried Hoffmann. Desta maneira, praticamente todo meu tempo durante a semana era dedicado a lecionar Bíblia, visitar e aconselhar alunos e pais de alunos, organizar e dirigir as reuniões de capelas com alunos e funcionários e os cultos com os professores nos períodos matutino e vespertino. Além disso, aos finais de semana eu me dedicava a auxiliar os pastores distritais nas atividades da escola sabatina, culto e programações de sábado e culto de evangelismo aos domingos à noite.

Esse foi um período de muita dificuldade financeira para mim, pois um pastor aspirante ao ministério na IASD não ganhava muito bem e tinha que viver com um orçamento financeiro bem apertado. Eu não tinha como comprar um automóvel e dependia de ônibus urbano para me locomover até meus compromissos. Teve um incidente que me marcou bastante nessa época, não pelo fato da minha real necessidade, mas pela maneira como fui tratado. Havia um tesoureiro na Associação Catarinense (AC), chamado Davi Contri, o qual gostava de demonstrar seu poder administrativo e humilhar alguns pastores que lhe pediam um adiantamento financeiro ou algum benefício previsto no Livro de Praxes da IASD. Um dia liguei para ele falando da minha necessidade de comprar uma máquina de lavar roupas, pois eu mesmo lavava minha roupa à mão no tanque, quando ainda era solteiro. O que ouvi dele e a maneira com que ele falou comigo foi humilhante. Além de me dizer que não era possível nenhum adiantamento salarial ele me garantiu que não havia como me ajudar nessa questão, achando graça do meu pedido e fazendo pouco caso.  

A partir de 1995 comecei a escrever artigos para a Revista Adventista (RA). Alguns artigos começaram a ser publicados na RA e na Revista Ministério. Confira a seguir quais foram esses artigos:

1. Revista Adventista - Abril de 1995 - Casa Publicadora Brasileira - IASD. Link de Acesso: http://acervo.revistaadventista.com.br



2. Revista Ministério - Ano 66 - Número 04 - Jul./Ago. 1995 - Periódico Bimestral - IASD.



3. Revista Adventista - Setembro de 1995 - Casa Publicadora Brasileira - IASD. Link de Acesso:  http://acervo.revistaadventista.com.br



No final do ano de 1995 surgiu uma oportunidade para eu estudar o mestrado em teologia na Universidad Adventista Del Plata (UAP), que fica na localidade de Libertador San Martín, na Província de Entre Rios, na Argentina. Mas para ser classificado eu teria que saber o espanhol e ser aprovado numa avaliação de proficiência em inglês que seria feita na sede da Associação Catarinense (AC) da IASD sob a supervisão dos administradores do campo e o aval do presidente Pr Élbio Menezes. Eu fiz a prova concorrendo com outros pastores e fui aprovado e classificado com uma ótima nota. Fui chamado pelo presidente do campo para receber o resultado na sede da AC, e quando entrei em sua sala ele pediu que eu me sentasse, pois queria me falar algumas coisas. O presidente do campo catarinense, Pr Élbio Menezes sempre me falava a mesma coisa quando me chamava para conversar, ele dizia: "Jorge, você não é pastor, você é professor"! E com essa conversa ele impedia que eu participasse das reuniões pastorais e de concílios, até que veio uma determinação da União Sul Brasileira da IASD de que os pastores que trabalhavam em escolas como professor de Bíblia e capelão também deviam participar dos Concílios Pastorais promovidos pelos Administradores da igreja. Nessa reunião, o Pr Élbio me questionou se eu seria capaz de fazer o mestrado na Argentina por causa do espanhol, e eu lhe respondi que já estava estudando a algum tempo e não seria problema. Depois ele também me disse que eu não teria o auxílio financeiro para o mestrado, e que se eu fosse fazer eu devia arcar com os custos. Eu lhe respondi que Deus proveria o necessário. Como ele viu que eu não desistiria, e estando sem argumentos, autorizou minha ida para a UAP nos meses de janeiro e fevereiro, pois o programa de Maestría en Teología era intensivo de férias dividido em quatro verões, ou seja: 1996, 1997, 1998, 1999. 

Após sair da sala do presidente totalmente desestimulado, orei pedindo a direção de Deus, pois eu queria muito estudar e fazer o mestrado em teologia. O Senhor foi bom para mim e respondeu minhas orações, pois após explicar minha situação para um irmão na fé que era empresário e frequentava a IASD do Estreito, ele me ajudou na época com a quantia necessária para eu viajar e pagar a minha estadia na Universidade Del Plata no primeiro verão que estudei lá, em Janeiro e Fevereiro de 1996. Também estudei na UAP no verão de 1997 sem nenhum problema, com o aval do presidente do campo, mas dessa vez pagando minhas despesas do próprio bolso, sem nenhum custo para os cofres da Associação Catarinense da IASD. Fiz rodas as disciplinas e minhas notas eram ótimas. Não tive problemas com o espanhol e nem com as leituras em inglês, as duas línguas do curso de mestrado. Deste modo, faltavam apenas dois verões para eu terminar, o de 1998 e o de 1999.

Trabalhei em Florianópolis, SC, até o final do ano de 1997. A partir do ano de 1996 minhas responsabilidades aumentaram, pois além das atividades que eu desenvolvia nas escolas também assumi o pastorado da IASD do Jardim Eldorado, em Palhoça, SC, município que faz parte da grande Florianópolis. Quando assumi a Igreja Adventista do Sétimo Dia do Jardim Eldorado, o prédio onde se reunia a igreja ainda estava em construção e tivemos o privilégio de ser o primeiro pastor da história dessa igreja. Lembro de alguns domingos nos quais eu fui ajudar na construção trabalhando como servente de pedreiro. Ao aceitar o chamado da Associação Catarinense para assumir mais essa atividade, minha carga de trabalho praticamente dobrou. Como o meu salário não era suficiente para comprar um carro, minha maior dificuldade era a locomoção em meus compromissos. Eu tinha que sair sempre com uma hora de antecedência, pois dependia de ônibus urbano para chegar. Mas nunca reclamei disso ou achei vergonhoso, sempre honrei com os meus compromissos tanto nas minhas atividades como professor de Bíblia e capelão escolar quanto como pastor.

Meu trabalho foi reconhecido pelos Administradores da Organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e após as devidas avaliações fui ordenado ao Sagrado Ministério Evangélico na IASD. A cerimônia de Ordenação Ministerial ocorreu num sábado à tarde na IASD do Estreito, na grande Florianópolis, SC, no dia 05 de Outubro de 1996, eu tinha 29 anos de idade. Foi ordenado juntamente comigo o jovem pastor Adelson Raul da Silva, o qual foi meu contemporâneo no SALT/IAE, colega em algumas colportagens e grande amigo e irmão na fé em Jesus. A seguir os documentos que compravam o fato da minha ordenação ministerial:




Como pode ser constatado nas assinaturas no meu Certificado de Ordenação ao Ministério, dentre elas está a assinatura do Pr Élbio Menezes, o qual era o presidente da IASD em Santa Catarina nesse tempo. Todavia, deve ter sido muito difícil para ele assinar, pois o mesmo nunca concordou com a minha Ordenação Ministerial. Desde logo após a primeira trienal na qual ele conseguiu ser eleito Presidente do Campo Catarinense, eu já vinha sofrendo assédio moral e perseguições por parte dele. Tudo porque naquela trienal eu não votei nele para ser eleito presidente, aliás, na comissão de eleição meu voto foi o único contra, e como ele ficou sabendo disso, desde então começaram as suas perseguições contra mim.

Certa vez o pastor Élbio Menezes foi me visitar. Isso ocorreu alguns meses após meu casamento com Eliane Deucher, hoje ex-esposa. Lembro do nosso empenho em preparar a comida e o nosso apartamento para receber a visita do presidente da IASD em Santa Catarina, que também era o Ministerial da Associação Catarinense. O Pr Élbio Menezes foi muito bem recebido por nós, um casal jovem e recém casado, e fizemos questão de lhe mostrar nosso álbum de casamento, inocentemente. Recordo da fisionomia dele enquanto folheava cada página sem dizer uma palavra. Ele parecia incomodado, talvez porque não havia sido convidado para realizar nosso casamento que ocorreu na igreja central de Florianópolis, SC, uma vez que minha esposa à época havia escolhido o Pr Ademar Paim para fazê-lo, por questões de afinidade. Élbio também não fez questão de ir ao nosso casamento. Mas aquela visita foi uma visita ministerial, e o Pr Élbio Menezes me disse que eu não estava pronto para ser ordenado como pastor da IASD, e que era necessário esperar mais um ou dois anos para isso. Todavia, já fazia mais de seis anos que eu estava trabalhando como pastor aspirante e se dependesse dele minha ordenação ia demorar muito mais, ou talvez nunca ocorresse. Hoje entendo que parecia que ele queria ganhar tempo para achar um motivo que justificasse minha demissão e pudesse me tirar da obra antes que eu fosse ordenado. Contudo o que mais me deixou triste, decepcionado, revoltado e até com raiva do Pr Élbio Menezes foi o que ele perguntou à minha esposa Eliane Deucher bem na minha frente quando disse: "Como está a sua vida sexual? Você está satisfeita sexualmente? Porque o homem aprende sobre sexo vendo os cachorros na rua, mas com a mulher é diferente!" Minha jovem esposa não sabia onde enfiar a cara, ficou vermelha e abaixou a cabeça em sinal de profundo constrangimento. Quanto a mim, minha vontade foi socar a cara dele várias vezes, talvez fosse isso que ele queria, mas me contive e fiquei em silêncio com meu coração explodindo dentro de mim. Élbio Menezes agiu como um verdadeiro canalha sem noção, mas eu não podia fazer nada, pois do contrário ele me prejudicaria não apenas em minha ordenação. Durante muito anos tivemos que engolir aquelas palavras a seco sem poder falar o que sentimos, por isso estou escrevendo agora, para que todos saibam o que passamos. Depois que o Pr Élbio Menezes foi embora, nunca mais nos visitou, e nos restou chorar juntos pela ofensa feita por ele a nossa honra como marido e mulher.

Alguns meses mais tarde, recebemos a visita do Ministerial da União Sul Brasileira da IASD, o Pr Antônio Moreira, o qual foi ao meu apartamento no Condomínio Sol e Mar, localizado na rua 14 de Julho, 133, no bairro Estreito em Florianópolis, SC, para fazer mais uma avaliação Ministerial para minha Ordenação Pastoral. O Pr Antônio Moreira foi ético e respeitoso, e ao final da conversa e dos questionamentos que havia feito ele me disse que de todos os candidatos à Ordenação Ministerial da União Sul eu tinha obtido os melhores resultados, e nas questões doutrinárias eu tinha dado respostas mais precisas, sistematizadas e com fundamentação teológica consistente. Foi graças a decisão da União Sul Brasileira da IASD que fui ordenado, pois se dependesse apenas do Pr Élbio Menezes eu jamais o seria, por questões puramente pessoais, mesquinhas e regidas por seu orgulho e sua ambição pelo poder.

Lembro da primeira vez que percebi que o Pr Élbio Menezes não gostava de mim e queria me prejudicar de alguma maneira. Logo que ele assumiu a presidência da Associação Catarinense da IASD, ele me chamou em seu escritório para ter uma conversa, a qual girou em torno do Concílio de Pastores que ocorreria naquele ano. Recordo bem de suas palavras e do jeito como me olhou quando me disse: "Jorge, você não vai no Concílio porque você não é pastor, você é professor!" Eu fiquei em silêncio e não disse nada, minha resposta foi o silêncio, pois eu sabia que meu chamado para ser um servo de D'US não tinha sido feito por ele, mas por Jesus. Essa atitude do Pr Élbio Menezes não acabou ali, porque sempre que ia ter concilio pastoral ele me chamava para dizer a mesma coisa, até que num determinado ano a Uniâo Sul Brasileira da IASD determinou que todos os professores de Bíblia e capelães escolares formados em teologia e ordenados ao sagrado ministério também participassem dos concílios pastorais e fossem reconhecidos como pastores da IASD.

O Pr Élbio Menezes só não conseguiu me prejudicar antes do tempo porque eu estava vinculado ao Departamento de Educação Adventista da IASD na Associação Catarinense e não recebia meu salário como pastor, mas como professor. Contudo, as suas implicações comigo continuaram até ele conseguir o que tanto queria, me tirar da obra educacional, do ministério pastoral e me prejudicar pessoalmente.

Minha ordenação ao ministério pastoral da IASD também foi publicada na Revista Adventista de Janeiro de 1997 na página 26. Para conferir acesse o link a seguir:http://acervo.revistaadventista.com.br

 

Em 1997, como já mencionei, além das minhas atividades como professor de Bíblia e capelão escolar, fui pastorear a IASD de Palhoça na grande Florianópolis em São José, SC. Nesse ano também fiz o vestibular para pedagogia na UNIVALI - Universidade do Vale  do Itajaí - em Tijucas, SC, fui aprovado e fiz minha matrícula no período noturno. Eu saia da escola adventista Dr Siegfried Hoffmann que ficava localizada no centro de Florianópolis as 17:30 horas após o termino das aulas. Fazia isso todos os dias de segunda a quinta, porque na sexta à noite eu não assistia as aulas na UNIVALI, e literalmente saia correndo para o Largo da Alfândega no Mercado Municipal para pegar a Van que levava alguns alunos até a Universidade, tinha que chegar lá as 18:30 horas, mas geralmente demorava mais, devido ao fato da BR 101 ainda não ser duplicada. Todas as despesas com faculdade e transporte eram pagas com o meu salário, sem ônus para a igreja, pois a Organização da IASD nunca me ajudou com um centavo em meus estudos. Era uma rotina cansativa, pois eu chegava em casa perto da meia noite e as 6:00 horas da manhã tinha que acordar, para estar na escola as 7:00 horas e fazer o culto com os professores e depois dar minhas aulas de Bíblia para as turmas da manhã e da tarde. Aos finais de semana, sábados e domingos, a minha dedicação era para a igreja de Palhoça como pastor. Mas, apesar do cansaço físico e mental que minhas atividades produziam, eu estava feliz por estar me preparando melhor para exercer as funções que a Organização da IASD havia me confiado. 

Também nesse período continuei escrevendo textos e artigos para a Revista Adventista e para o "SIG", periódico local, produzido pelo então professor de História da Escola Básica Adventista Dr Siegfried Hoffmann de Florianópolis, SC, Michelson Borges, atualmente (2019) redator da Casa Publicadora Brasileira. A diretora da escola na época era a professora Carmem Pothin Preuss, esposa do Departamental de Educação da AC, Lourival Preuss. Dentre os Textos e artigos destaco:
- O Verdadeiro Natal, SIG, Dezembro de 1994.
- Amor Verdadeiro ou Paixão?, SIG, Setembro/Outubro de 1995.
- Fogueiras de Bíblias, SIG, sem data.
- O Poder de Ser Mãe, SIG, Maio de 1996.

- Revista Adventista de Julho de 1997, pág. 37 - Você Responde: Por que acreditar em Deus? Link de Acesso: http://acervo.revistaadventista.com.br/capas.cpb 

- Revista Adventista de Agosto de 1997, pág. 37 - Você Responde: Como Saber se Estou Fazendo a Vontade de Deus? Link de Acesso: http://acervo.revistaadventista.com.br/capas.cpb
   

No final de 1997 nos mudamos para Joinville, SC. Eu havia recebido um chamado para trabalhar novamente na Escola Adventista Dom Pedro II, hoje (2019) Colégio Adventista de Joinville - CAJ - Saguaçu. Em 1998 transferi minha faculdade de pedagogia da UNIVALI para a ACE - Associação Catarinense de Ensino - em Joinville, SC. Logo no início de Janeiro de 1998 viajei para a UAP na Argentina para estudar o Mestrado em Teologia, era o meu terceiro verão no programa intensivo de Maestría en Teología. Estava tudo certo, o presidente Pr Élbio Menezes havia me autorizado e o diretor da escola Dom Pedro II, o pastor José Roberto Fuckner, havia concordado com minha ida e permanência no mestrado de Janeiro até o final de fevereiro, sem prejuízo para minhas aulas de Bíblia e atividades na escola. O que eu não imaginava e não esperava era que eles agiriam com falsidade e não cumpririam com a palavra, e por razões que eu desconheço, se não tiver sido inveja, resolveram infernizar minha vida me perseguindo até me prejudicar, a tal ponto de eu ter que sair do ministério pastoral da IASD. Entretanto o Pr Élbio Menezes e o Pr Roberto Fuckner não estavam sozinhos nessa armação para me derrubar, participaram também desse conluio opressor o tesoureiro do campo à época, Sr Davi Contri, o Departamental de Educação da Associação Catarinense da IASD (AC), Dirceu Lopes e o Secretário da AC, Dirceu Lima, que foram coniventes com a falcatrua armada contra mim pelo Pr Élbio Menezes.

O que ocorreu no Brasil em relação a minha pessoa enquanto eu estudava o Mestrado em Teologia na UAP, Argentina, o que aconteceu mais precisamente no Campo Catarinense, ou seja, na Associação Catarinense da IASD (AC) durante o verão de 1998 foi no mínimo falta de ética e abuso de poder. Eu já havia feito três matérias naquele verão e já estava no mês de Fevereiro quando recebi uma ligação no telefone fixo da Universidade (lembrando que não havia celular). A ligação era do presidente do campo, Pr Élbio Menezes, ordenando meu retorno imediato para Joinville, SC, de forma arbitrária e dizendo que eu não trabalharia mais na Escola Adventista Dom Pedro II. Tentei argumentar que faltava apenas uma disciplina para eu terminar os créditos daquele verão, mas o mesmo me disse que assim que eu chegasse ele conversaria comigo. Decidi ficar e terminar aquela matéria, pois era o que havia sido acordado entre nós. No outro dia, minha esposa à época, Eliane Deucher, me ligou chorando e dizendo que ela havia ido numa reunião de pastores e que o presidente Pr Élbio Menezes havia dito na reunião para todos os meus colegas que eu estava desobedecendo uma ordem sua e que estava no mestrado sem a sua autorização. Ela também me disse que teve que pegar o meu material que foi distribuído aos pastores, pois tudo foi deixado jogado num banco qualquer. Além de suportar os olhares preconceituosos das esposas de pastores, como se eu fosse um rebelde sem causa. Também lhe foi dito pelo pastor Élbio Menezes que se eu não voltasse naquela semana, a AC não pagaria mais o aluguel do nosso apartamento e meu salário seria reduzido pela metade. Mal sabíamos que aquilo era só o começo do que nos fizeram depois. Fiquei desesperado e muito aflito, e no outro dia liguei para o pastor ministerial da Divisão Suil Americana da IASD, que à época era o Pr Alejandro Bullón. Após expor toda situação para o Pr Bullón, lembro bem do conselho que ele me deu quando me disse: "Jorge, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco"! E foi o que de fato acorreu. 

Após concluir o último crédito do Mestrado em Teologia daquele verão, no final do mês de fevereiro de 1998 retornei ao Brasil. Ao chegar em Joinville, SC, quando fui trabalhar na escola Dom Pedro II, ao chegar na escola fui impedido de entrar em sala de aula, dar minhas aulas e fazer qualquer outra atividade pastoral na escola. Fui informado pelo diretor da escola, o Pr José Roberto Fuckner que já havia outro pastor trabalhando em meu lugar, e que eu não deveria ter faltado ao meu trabalho para o início das aulas. Olhei bem nos olhos dele e lhe perguntei: "quanto vale a tua palavra pastor? Você não lembra que havia me dado a sua palavra de que eu poderia fazer o mestrado até final de fevereiro? A sua palavra não tem valor?" Diante disso, o pastor Fuckner ficou em silêncio e não conseguia me olhar nos olhos. Então lhe perguntei: "Pastor, eu sou ordenado ao sagrado ministério, vocês não podem me tratar assim!" E ele me deu a seguinte resposta: "ser ordenado não significa nada"! Fiquei perplexo com essa resposta, pois ainda acredito que a ordenação ao ministério evangélico é um ato de consagração da vida a D'US e nunca mais poderá ser desfeita diante dEle. 

Naquele mesmo mês fui convocado pelo presidente da AC, Pr Élbio Menezes, para comparecer a uma reunião da Mesa Diretiva do Campo Catarinense, a qual ocorreria na sala de reuniões do Escritório da Associação Catarinense da IASD, sede administrativa da igreja, em Florianópolis, SC. Na reunião participavam líderes, obreiros e pastores vindos de várias regiões de todo Estado. Lembro muito bem o que ocorreu lá. Quando cheguei na AC não fui autorizado a participar de toda aquela reunião. Não sei o que falaram de mim, e muito menos o que o presidente Pr Élbio Menezes disse a todos os líderes sobre mim. Fiquei esperando com tristeza e ansiedade o momento em que seria chamado. Eu não sabia nem o porquê de fato precisaria estar lá. Lembro que antes de ser chamado fui ao banheiro e chorei muito, eu não sabia o que iria ocorrer comigo, mas era visível que o Pr Élbio Menezes estava tentando me prejudicar com sua arbitrariedade e autoritarismo. Quando me chamaram e entrei na sala, havia mais ou menos umas 50 pessoas. Numa mesa, à frente de todos, estava o Pr Élbio Menezes, presidente da AC ladeado pelo secretário da AC, Pr Dirceu Lima, conhecido como pastor Dirceuzinho, por ser um nanico. Assim que entrei fui chamado pelo Pr Élbio para ir à frente de todos falar o que tinha ocorrido comigo. Sinceramente, me senti no tempo da idade média, numa verdadeira inquisição religiosa. Contei todos os fatos como ocorreram e disse a todos que eu não estava estudando na UAP com recursos da AC e muito menos sem a autorização do presidente que ali estava. Pedi desculpas se havia causado algum prejuízo à igreja ou feito algo errado contra alguém. Olhei para o Pr Élbio e na frente de todos lhe pedi desculpas se de alguma forma eu tinha prejudicado a IASD. Então chorei. Meu choro foi de tristeza por estar ali sendo julgado e condenado por nada que de fato justificasse tal reunião. Chorei pelo constrangimento causado pelo abuso de autoridade e frieza daqueles que detinham o poder de decisão naquele momento, mas desconheciam minha história de vida. Percebi que o Pr Élbio Menezes ficou meio desconcertado com minhas palavras e meu choro e solicitou que eu me retirasse daquela reunião. Fui direto para o banheiro e chorei muito. A reunião demorou para terminar. Até hoje não sei o que comentaram sobre mim e o que decidiram, por isso e por outras razões estou aqui hoje (2019) escrevendo sobre isso, o que não é fácil para mim, porque até hoje eu fico triste ao lembrar o que passei e o que sofri emocionalmente. 

Mais tarde fui conversar com o Pr Élbio Menezes em seu escritório na AC. Quando entrei em sua sala e sentei à sua frente, olhando bem nos seus olhos, lhe perguntei o porquê estava fazendo aquilo comigo. Ele me garantiu que não faria nada para me prejudicar. Antes de sair, quando ele abriu a porta, eu o convidei para juntos dobrarmos os joelhos e orarmos, pois ele não havia me convidado nem para orar. Quando nos ajoelhamos o Pr Élbio fez uma oração e quando disse amém já estava se levantando, foi quando o convidei para ficar de joelhos porque eu também queria orar. Orei com fé a Jesus pedindo sua direção e benção sobre nós, como pastores e irmãos em Cristo. O que eu não imaginava era que tudo já estava decidido e votado em relação ao meu futuro na Obra de Deus.

Minha família sofreu muito com tudo isso. Principalmente minha avó materna, minha segunda mãe, a qual durante o tempo em que eu estudava no SALT/IAE fazia chinelos de pano e vendia para me mandar algum dinheiro e me ajudar a pagar a faculdade de Teologia. Minha avó era filha de mãe adventista, ela era uma mulher de fé e muita oração. Mas estava sofrendo tanto quanto eu. Seu nome era Osvaldina Emy da Silva Muniz, a dona "Didi", como era chamada carinhosamente por quem a conhecia. Apesar de ser doente renal crônica e ter seus braços marcados por oito longos anos de diálise e ter passado por um transplante renal, ela fez uma coisa por  mim, além de orar. Um dia, sem eu saber, ela foi na AC e pediu para conversar com o Pr Élbio Menezes, apesar de sua limitações físicas. Depois ela me contou que chorou diante dele enquanto falava da  minha história de vida e o meu sacrifício para ser um pastor da IASD. Ela também me disse que ele ficou muito nervoso e tremia ao tentar acalmá-la. Talvez a reação do Pr Élbio naquele momento tenha sido a de um homem constrangido e envergonhado diante do que estava fazendo contra mim. O que minha saudosa avó e mãe fez por mim eu nunca mais vou esquecer e ela terá sempre minha eterna gratidão. Depois desse fato ela chorou muitas vezes comigo e vendo meu sofrimento ela escreveu a seguinte poesia para mim, a qual me sustenta na fé em Jesus até hoje:

"NÃO TE IMPORTES"

De:
Osvaldina Emy da Silva Muniz
Para:
Jorge N. N. Schemes

Não te importes com problemas que vêm sobre você;
Pois Jesus sempre está olhando por você.
Não te importes com aqueles que não te dão valor;
O que importa é que Jesus te olha como a pureza de uma linda flor.

Não te importes com aqueles que te maltratam;
Nem com aqueles que te olham sem amor.
Pensa sempre em Jesus;
Também maltrataram o Nosso Salvador.

Olha para Jesus e segura em Sua mão;
Tudo Ele fez para te ajudar.
Confia somente em Seu poder;
O mais, tudo Ele proverá.

Não sofras mais, não sofras mais;
A tua lágrima Jesus vai enxugar.
Não sofras mais, não sofras mais;
Tudo será paz.
Pois o poder de Deus sobre você sempre estará!

Ao reescrever essas palavras, confesso mais uma vez a minha fé em Jesus como meu criador, redentor, amigo e irmão, e declaro pela fé no sangue do cordeiro, que um dia estaremos todos juntos no Reino Eterno de glória e luz onde Deus habita. Minha avó era minha segunda mãe porque me criou como filho até minha adolescência. Ela já descansou no Senhor, mas suas palavras e exemplo ficaram. Contudo, os que me fizeram o mal e os que viram minha saída do pastorado da Igreja Adventista do Sétimo Dia não sabiam disso, por isso estou escrevendo sobre ela, para honrar o seu nome. É sempre assim quando um pastor sai da obra, ele não é o único a sofrer, sempre há pessoas ao seu redor que sofrem junto, mas os detentores do poder denominacional, me refiro àqueles que acham que são os donos da denominação por causa do cargo que ocupam, não se importam. 

Minha saudosa avó materna e segunda mãe era uma mulher de fé e gostava de escrever poesias, e deixo aqui um link contendo algumas de suas poesias para você conferir e ler se tiver interesse:  http://educacao.hi7.co/poesias--osvaldina-emy-da-silva-muniz-585b5399bc945.html 
Em sua homenagem e memória, também digitei e publiquei suas poesias em um dos meus blogs, confira em: http://jorgeschemes.blogspot.com/search?q=osvaldina+emy+da+silva+muniz

Ao voltar para Joinville, SC, as coisas pioraram ainda mais para mim. Todos os dias eu ia para a escola Dom Pedro II assinar o livro ponto, pois como professor eu tinha Carteira de Trabalho assinada pela União Sul Brasileira da IASD. Sempre cumpri com minhas responsabilidades como professor, mas o fato de ter outro pastor trabalhando em meu lugar me deixava constrangido diante dos meus colegas de trabalho. Além disso, minha permanência na escola causava um mal estar na equipe administrativa. Já era o mês de Março de 1998 e oficialmente eu não tinha sido comunicado de absolutamente nada sobre o meu destino. Foi então que o presidente do campo Pr Élbio Menezes veio até a escola para conversar no particular comigo. Fomos para a sala pastoral e sozinhos lá dentro ele me fez uma proposta dizendo: "Jorge, você não vai mais trabalhar na educação adventista, nem como professor de Bíblia e nem como capelão. Eu vou te mandar para o distrito de São Domingos, SC. Só que você não vai mais ser pastor, você vai ser obreiro bíblico. Teu salário vai ser reduzido em 50% e tua esposa (Eliane Deucher) não terá trabalho como professora. Você também terá que deixar de estudar o mestrado em teologia na UAP e a faculdade de pedagogia na ACE. Você aceita?" Para quem disse que não ia me prejudicar aquilo que ele propôs era justamente o contrário. Eu já tinha sido ordenado como pastor, ganhava 100% do teto salarial e minha esposa trabalhava como professora na escola Dom Pedro II e nossa situação financeira estava se estabilizando pela primeira vez. Fiz as contas, e se eu aceitasse aquela proposta nós passaríamos fome, além do fato de eu não concordar com a punição de perder as credenciais de pastor. Também achei ridículo eu ter que parar os meus estudos, sendo que eu mesmo pagava todas as despesas do meu bolso sem ônus para a Organização da IASD e sem prejuízo das minhas atividades como professor e pastor. Também considerei o fato de que eu ficaria marcado dentro da Obra como alguém problemático. Olhei para aquele homem intolerante e lhe dei a seguinte resposta: "pastor Élbio, você sempre me perseguiu dentro da Obra, principalmente desde a última reunião Trienal na qual você foi eleito como presidente, porque o único voto contrário a sua eleição foi o meu, e você descobriu. Mas quero lhe deixar uma coisa bem claro, eu nunca dependi de você para sobreviver e não dependo, se não posso continuar o meu trabalho como professor de Bíblia e capelão escolar, se não posso ser um pastor, se não posso continuar estudando, e tudo isso porque você não quer, eu não aceito a sua proposta"! Percebi em seu semblante que ele ficou assustado, surpreso e admirado com minha resposta, mas continuou inflexível, e após sair daquela sala ordenou minha demissão. Fiquei ali sozinho, triste, pensativo, chorando e sem acreditar no que estavam fazendo contra mim.

O que se seguiu comigo após a nossa conversa foi algo tão cruel e desumano que nem mesmo numa empresa mundana é comum ocorrer. O pastor José Roberto Fuckner, que era o diretor da escola, me chamou em sua sala e queria que eu assinasse meu aviso prévio com data retroativa a janeiro e assinasse também minha demissão voluntária. Logicamente que recusei, eu estava respaldado como professor por Leis trabalhistas da CLT, além do mais, aquela atitude não era correta e justa. Avisei o Pr José Roberto Fuckner que eu assinaria meu aviso prévio se a data fosse a data correta, ou seja, a daquele dia, e que minha demissão não era por justa causa, mas porque eles queriam me demitir. Mais tarde tive que contratar um advogado para garantir meus direitos trabalhistas como professor, pois eu não podia confiar mais naqueles pastores. 

Após assinar meu aviso prévio me foi solicitado que eu o cumprisse em casa, ou seja, minha presença na escola os deixava constrangidos, mas optei por vir à escola durante meu horário de trabalho e assinar o livro ponto. Eu estava arrasado, muito triste e mesmo assim ninguém, absolutamente ninguém dos meus colegas de trabalho ou de ministério vieram orar comigo ou me dar alguma palavra de conforto e ânimo. Absolutamente todos agiram com indiferença e frieza em relação a minha pessoa, e aquela atitude de indiferença me feria ainda mais. Antes era pastor pra lá, pastor pra cá, e no momento em que eu mais precisava de ajuda e apoio nem sequer olhavam na minha cara ou me cumprimentavam. Foram 30 dias de muita aflição e sofrimento emocional e psicológico. 

Passados os trinta dias de aviso prévio, os administradores da AC da IASD agendaram um dia para eu comparecer no Ministério do Trabalho para fazer os devidos acertos trabalhistas como professor. Após eu assinar os documentos e dar baixa na minha Carteira de Trabalho, o representante da AC solicitou que eu devolvesse o cartão do plano de saúde da UNIMED, pois eu não poderia mais utilizá-lo. Prontamente lhe entreguei o cartão. Solicitou ainda que eu desocupasse o imóvel no qual morávamos pois a AC não pagaria mais o aluguel. Eu não tinha pra onde ir e lhe pedi mais um prazo, o que me foi negado. Passados alguns dias recebi minha indenização trabalhista, ou seja, o FGTS e a multa de 40% por ter sido demitido sem justa causa. Com esse dinheiro comecei a procurar um imóvel para comprar. Deus me abençoou e consegui adquirir um apartamento. Após a negociação providenciamos nossa mudança. Conversando com o advogado que eu havia contratado ele me mostrou que a AC e a União Sul Brasileira da IASD não tinham feito um acerto trabalhista justo comigo e ainda estavam me devendo um bom dinheiro de indenização. Eles não foram justos e corretos nem mesmo no que eu tinha direito. Isso me levou a abrir, alguns meses mais tarde, um processo trabalhista contra a AC e a União Sul Brasileira da IASD, o que ficou muito feio para eles, por causa da sua desonestidade. Isso tudo ocorreu no mês de maio de 1998, quando fui obrigado a deixar definitivamente o ministério pastoral da IASD para nunca mais retornar. Mas o que ocorreu comigo posteriormente à minha saída do pastorado adventista foi ainda mais difícil para mim. Leia sobre isso no próximo capítulo para entender melhor o porquê também estive afastado da IASD como membro regular por mais de 16 anos, período esse em que quase naufraguei definitivamente na minha fé em Jesus.

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